quinta-feira, agosto 04, 2011

Alô Alô

Ontem, uma deputada do PSD ligou para o 112 para testar o tempo de atendimento do INEM. Como perceberá alguém com dois dedos de testa, uma chamada para o 112 não significa o accionamento do INEM, uma vez que o 112 atende também emergências relacionadas com crimes, devendo por isso ser encaminhadas para a força de segurança da área da ocorrência.

Há quem o defenda, como o José Manuel Fernandes, com o argumento de que um deputado deve poder fiscalizar um serviço. Pois que assim seja. Acabem-se com as auditorias e estudos que, de resto, todos sabemos como são feitos.

Voltemos à realidade e deixemos o mundo que só existe na cabeça do antigo director do Público e de outros elementos do PSD, melhor ou pior disfarçados. Fazer uma chamada falsa para o INEM é uma estupidez e uma irresponsabilidade.

Imaginemos, por exemplo, que um puto qualquer decide fazer uma chamada falsa. Se os pais souberem, deve receber um puxão de orelhas. Se o caso, por algum motivo, tornar-se mediático, passa a ser mais um símbolo da geração "dá-me o telemóvel já"! À deputada em causa, provavelmente, acontecerá coisa nenhuma. Mas só temos o que escolhemos.

Não, não é a questão mais grave do momento. Mas não deixa de ser um sintoma da imbecilidade que preenche as bancadas que suportam a maioria.

segunda-feira, agosto 01, 2011

Terrorismo sem rosto, mas só às vezes

Os atentados terroristas de Oslo apanharam toda a gente de surpresa. Primeiro por ser num país que tomamos tantas vezes como exemplo de avanços civilizacionais, de educação, de formação cívica, depois por ter furado as primeiras teorias que surgiam nos media e nas redes sociais, que apontaram para terroristas islâmicos. 

No Twitter, uma conta associada à defesa cega dos crimes de Israel dizia ainda a quente, e cito de memória, que a Noruega dá apoio a grupos que atacam Israel e agora provava o seu próprio veneno. Afinal, o terrorista é anti-islão. Mas centremo-nos no preconceito, que começa aqui. Os terroristas islâmicos não têm rosto, nem família, nem amigos, nem uma infância difícil. São só terroristas islâmicos.

No entanto, este norueguês tem tudo isso. Na RTP, por exemplo, o terrorista de extrema-direita era tratado por “jovem norueguês” e não por terrorista. Até tem nome: chama-se Anders Breivik. E já se diz que é louco, como convém nestes casos.

Ao que parece, o terrorista tinha planos de ataque a uma série de países, e Portugal não escapava ao rol de nações inimigas, com mais de 11.000 alvos a abater. Também a refinaria de Leça da Palmeira era um alvo. Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, apressou-se a assegurar que foram tomadas todas as medidas de segurança necessárias. Um dia depois, os jornais divulgam que uma norma da PSP de Matosinhos, que engloba Leça da Palmeira, que espera há décadas por uma esquadra, indica que as viaturas policiais deverão realizar apenas 25 a 30km por turno, devendo o restante serviço realizar-se a pé.


Fiquemos, por isso, descansados. A PSP tem permissão para dar três voltas ao perímetro da refinaria e fazer o resto a pé. Esperemos que os eventuais terroristas tenham isso em consideração.

Publicado originalmente na edição de Agosto do Notícias de Matosinhos.