«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
sexta-feira, março 28, 2008
Expresso rosa, mas não Rosa
A Autoridade da Concorrência divulgou no dia 25.3.2008 uma informação, que depois foi também divulgada pelos órgãos de informação, de que os preços dos combustíveis têm aumentado em Portugal mais do que em muitos países da União Europeia.
No entanto, nada tem feito para por cobro a uma situação a que uma associação patronal do sector já classificou como especulativa. O aumento frequente dos preços dos combustíveis, maior do que nos países daU.E., que se tem verificado no nosso País perante a passividade, para não dizer mesmo a conivência, do governo e daquela autoridade, está, por um lado, a permitir que as petrolíferas acumulem elevados lucros e, por outro lado, a agravar as condições de vida nomeadamente dos trabalhadores, já que determinam o aumento generalizado dos preços de muitos bens e serviços, de que são exemplo os transportes.
Esta situação não tem qualquer justificação pois, como provo no estudo que envio, o preço do barril de petróleo tem aumentado muito menos do que os preços dos combustíveis, não podendo o aumento do preço do petróleo ser utilizado, como fazem as petrolíferas, como justificação para aumentar os preços da forma como têm feito em Portugal.
Espero que este estudo possa ser útil
Com consideração
Eugénio Rosa
Economista
NOTA: Alguns leitores destes estudos têm-me perguntado se os podem divulgar pelos amigos e conhecidos. A resposta é naturalmente afirmativa, pois o objectivo fundamental da sua elaboração é precisamente isso: que possam ser úteis ao maior numero de portugueses, não como verdades feitas, mas como contributos para a criação de um pensamento económico alternativo ao pensamento económico de cariz neoliberal dominante.
E isto só pode ser conseguido com a participação activa de muitos, uns elaborando, outros divulgando, mas todos lendo e criticando. E isto porque o controlo dos grandes órgãos de informação pelo poder económico e politico é cada vez maior e mais visível. Dou um exemplo que aconteceu recentemente comigo.
Numa conversa "amável" que tive com o dr. Nicolau dos Santos, que é o responsável da página de Economia do Expresso, em que critiquei este semanário por estar totalmente dominado pelo pensamento económico neoliberal e ser cada vez um porta-voz dos interesses dos grandes grupos económicos e das suas rivalidades, ele respondeu-me que se enviasse um pequeno artigo por mês no máximo com 3000 caracteres que o publicaria.
O primeiro com o título "Um olhar diferente sobre o Orçamento do Estado de 2008" passou na censura do jornal, mas o 2º com o título "O Programa de Estabilidade e Crescimento 2007-2011, ou a negação da ciência económica" já não passou e nunca foi publicado.
quinta-feira, março 27, 2008
Sobre a violência...
No entanto, quando se critica o PCP por motivos alheios à situação nacional, convém passar por aqui e dar uma vista de olhos, nem que seja ao de leve, pela Resolução Política aprovada no XVII Congresso do PCP, de onde passo a transcrever:
"Embora com graus e aspectos diferenciados, deve ser valorizado na resistência à nova ordem imperialista, o papel dos países que definem como orientação e objectivo a construção de uma sociedade socialista - Cuba, China, Vietname, Laos, R. D. P. da Coreia. Para além de apresentarem profundas diferenças entre si, estes países constituem importantes realidades da vida internacional, cujas experiências é necessário acompanhar, conhecer e avaliar, independentemente das diferenças que existem em relação à nossa concepção programática de sociedade socialista a que aspiramos para Portugal, e de inquietações e discordâncias, por vezes profundas e de princípio, que nos suscitam".
Mas percebe-se. Quando a nível interno falta matéria para criticar o PCP - e é preciso arranjá-la a todo o custo, porque vem aí mais um Congresso -, devido ao forte dinamismo social e político do partido, há que procurar outros assuntos para distorcer a realidade que se nos apresenta distorcida.
Post it: E, já agora, que pena que a moção sobre a condenação da guerra no Iraque tenha passado ao lado de quase toda a gente, ao que parece, porque o PS queria incluir um parágrafo sobre forças de segurança portuguesa lá estacionadas. Por coincidência, num dia em que estavam elementos da PSP nas galerias da AR, a exigir o direito à greve que, por acaso, o PS recusou.
sábado, março 22, 2008
Sentença
É certo que o ambiente social de algumas escolas, bem como o ambiente familiar, são propícios a algumas situações de confronto, quando os alunos são confrontados com um tipo de autoridade que desconhecem dentro das paredes de casa.
Eu também defendo que o contexto social influencia fortemente a personalidade de quem quer que seja. No entanto, o que se passou naquela sala de aula vai muito além de um contexto social particular. Foi um acto de desrespeito brutal com quem tem o dever de ensinar, caucionado por toda uma turma que assistiu a tudo.
Não conheço o contexto social de toda a turma, mas acredito que o Daniel também não.
Como estudante, as imagens que vi repugnaram-me, mas não me surpreenderam. Quando estudava no secundário - e não foi assim há muito tempo - qualquer coisa deste género era impensável.
Hoje, são situações recorrentes. Tenho um familiar bem próximo que trabalha numa escola, como auxiliar de acção educativa, e o ambiente nos estabelecimentos de ensino é de cortar à faca. As reformas educativas recolocaram nas escolas alunos que estão lá apenas a passar o tempo - já que não podem ser reprovados, vão saltando de escola em escola -, onde se misturam crianças com 12 e 13 anos com outros de 18, que frequentam o ensino profissionalizante.
Obviamente, as generalizações caem sempre no erro. Mas o sentimento de impunidade atravessa todos os sectores da sociedade e as escolas não fogem à regra.
Na situação concreta, o Daniel avança com uma não-solução brilhante: "Uma professora não fica dois minutos a disputar um telemóvel com uma adolescente. Não o faz, ponto final. Chama outra pessoa, manda a aluna para a rua, interrompe a aula… Qualquer coisa". Pois... "Qualquer coisa". É precisamente no "Qualquer coisa" que está o segredo. Ninguém sabe o que fazer mais nestes casos. Não sei se o bloquista achará que os auxiliares de educação educativa têm outro tipo de autoridade perante estes alunos. Se acha, está enganado. Hoje, não têm.
Que o público-alvo do Bloco está nos jovens urbanos, todos sabemos, mas o princípio eleitoralista não é próprio de alguém que se diz de esquerda. Ao populismo da direita, estamos todos habituados, com o seu expoente máximo no Parlamento: o Paulinho das amêndoas; mas da esquerda espera-se outra seriedade e outros princípios que, manifestamente, o Daniel não tem.
quinta-feira, março 20, 2008
URAP
Ao que parece, a PIDE seguia-o desde os 3 anos e 4 meses, por comportamento subversivo. Não bebia o leite, berrava muito e tinha a mania de cerrar os punhos.
Sobre isto, o Vítor Dias diz quase tudo, e o que fica por dizer, certamente que não é a ele que compete esclarecer.
quarta-feira, março 19, 2008
MyDay
Hoje, como todos os dias, o meu dia é dela.
terça-feira, março 18, 2008
Ainda é notícia?
"Desapareceram 200 fichas de militantes"
"Isaías Nora indignado contra a situação que se vive no interior do PS de Matosinhos"
...
E a pré-campanha por Narciso:
...
E a transparência, claro:
...
E tudo desinteressadamente, em prol da verdade:
Sempre foi assim, na margem sul do Rio Leça. Dois jornais, uma rádio. Ou alinham, ou acaba-se a publicidade. Há uns anos, passou-se o mesmo com o concorrente do Jornal de Matosinhos, que, por mera coincidência, traz uma entrevista do presidente Guilherme Pinto a apelar à união dos socialista.
segunda-feira, março 17, 2008
Hoje não me apetece
Hoje, não. Estou um bocado nostálgico e um comentário do Miguel, ali em baixo, para além de uma conversa no msn com o Toninho Barroso, fez-me ter saudades do falecido O Comércio do Porto.
Quando entrei naquele edifício da Rua Fernandes Tomás, rumo ao sexto andar, não fazia ideia do que iria encontrar. Sei, apenas, que quem lá estava ia encontrar um puto de 17 anos, com cabelo comprido e calças rasgadas e cheio de vontade de fazer coisas.
Fui para a secção do desporto, uma secção à parte, por ser um caderno à parte. Lá, encontrei pessoas fantásticas que ainda hoje guardo comigo, mesmo não falando há anos com algumas delas.
Hoje ainda sei a disposição da sala e de quem lá estava.
O Barroso, mestre da sabedoria, revisionista e ex-ranger de Lamego que nunca o foi, era o gajo com mais cd's e dvd's, não só do desporto, mas de toda a redacção, estava junto à janela, com um rádio semi-morto para ouvir a Bola Branca e, de vez em quando, a Born Slippy, dos Underworld.
Mesmo ao lado, o Horta. À frente do Horta, o Pedro Couto ou a MJ Leite, mesmo ao lado do Miguel, que se sentava de costa para a Olga - mas não por motivos pessoais, acho. À direita da Olga, e num papel de quase patriarca e de mestre de sabedoria futebolística, estava o enciclopédico sr. Miranda - o único sr. de toda a redacção. Nunca, mas mesmo nunca, vi alguém saber tanto sobre tudo - à excepção do Barroso, claro.
À direita do Miranda estava o Vaz Mendes, diante da Patrícia, que, por sua vez, ficava ao lado do Catarino ou da Sónia CS.
Naquele espaço minúsculo, no computador do Vaz Mendes, escrevi um primeiro texto sobre os locais de diversão nocturna que estariam abertos na noite de 24 para 25 de Dezembro. Adorei.
Depois, naquele Mundo novo, o petit-communiste - eu próprio - foi transferido para a secretaria da redacção e, depois, para a agenda. Basicamente, fui um estafeta. Para onde não ia ninguém, ia eu. E isso permitiu-me conhecer o trabalho de um jornal desde o nascimento da edição até à morte, no dia seguinte.
Fora do desporto, o Carlos PS, o Soares, as Susanas, as Cidálias, a Fátima, o Ferreira, o Neves, o Bessa, a Mónica, a Manela, o Vinhas, o Maurício, a Ana CG, a Natália, a Patrícia, a Dora, o Pipa, o Reisinho; nas fotos, o meu homónimo e o Jorga; na paginação a Mónica e muitos outros, que fizeram daqueles dois anos talvez dos melhores que alguma vez tive.
E, hoje, tenho saudades deles todos, mesmo dos que não nomeei.
domingo, março 16, 2008
Carta que seria para a minha mãe se ela estivesse muito longe, o que não é o caso
Escrevo-te para te contar como estão as coisas por aqui. Hoje houve grande festa aqui no Porto, milhares e milhares e milhares de pessoas encheram o Pavilhão do Académico para apoiar o nosso Primeiro.
Sim, eu sei que não é como o Pavilhão Atlântico, que a malta comuna encheu no ano das presidenciais e ainda ficaram mais uns 10.000 de fora. Pois, no Atlântico não havia o palco montado no centro nem zonas vedadas por causa de ecrãs gigantes.
Mas foi uma festa linda, esta aqui no Porto. Havias de ver! Avenidas cheias, quase como naquela manif da CGTP que juntou mais de 200.000 pessoas, mas de que ninguém parece lembrar-se. Ou daquela que juntou umas 50.000, há duas semanas. Bonito de se ver.
Sabes, mãe, o pessoal do Partido Socialista é o mais democrático de todos. Tão democrático que, para poderem estar presentes neste comício, foram seleccionados pelas concelhias para serem contactados. Dizem por aí as más línguas que houve gente que foi vetada.
De manhã os jornais vão ter primeiras páginas lindas, cheias de rosas e assim.
Depois vou guardá-las para te mostrar.
RMS
sexta-feira, março 14, 2008
Alió?
- ....
- Si, soy José...
-...
No, no no soy Aznar... Soy Socrátes, hombre!
-...
- Mira muchacho, muchas felicitaciones. Estiamos muy felices con tu triunfo.
-...
- Sy, sy, fiesta rijia! En el sábadio juntiamos en Lisbioia más de 100.000 persionas! Muy bonito, muy bonito.
-...
- Prióximio sábadio? Uno ajuntamiento de amiguios en Porto. Una fiesta muy guapa que vou a proporcioniar, soy un hiombrie muy generiosio, me dice mi madre.
-...
-Mira, necessitavia de caramielios de Badajioz, puedes me trazier-lios?
-...
- Ah, entiendo. Muchas felicitaciones. E no te esquiecias, Olivencia eres nuestria! Arriba muchacho! Muchas tapas para ti e pimentos de padron e otras cosas mas...
-....
- No, no te preocupies con los brasilierios, acá son ótimos dientistas!
Post it - Afinal, tive de contradizer o que disse aqui...
quinta-feira, março 13, 2008
Democracia, essa grande filha da puta
Não é propriedade de quem quer que seja e todos podemos usá-la. Com ou sem manifestações, com ou sem contestação. Sofremos, depois, as consequências dela. Inerente à sociedade democrática surge a responsabilidade individual. Em democracia, eu posso fazer o que bem entender, sujeito depois às respostas socialmente instituídas, sejam sociais ou judiciais.
Aqui no Porto, o insulto assume uma beleza democrática considerável. Qualquer gajo que não abrande num sinal de aproximação de estrada com prioridade é um filho da puta; se conduzir um topo de gama ainda melhor, porque é um chulo filho da puta, cujo pai é o tio.
Levamos tudo isto no melhor espírito democrático. Nuns dias são eles os filhos da puta, no dia seguinte sou eu. Acho que aqui ganhamos fígados para aguentar estas coisas.
Eu já insultei tantas vezes tanta gente, até a mim, que não há texto legível que aguente tanto palavrão e tantos destinatários. Mas também já fui insultado. Também insultei enquanto manifestante, mas também já fui insultado enquanto manifestante.
Também já insultei figuras públicas, desde políticos, artistas, actores, actrizes, futebolistas, escritores, comentadores, tudo. Mas mesmo tudo. E não me considero por isso menos democrata.
Pode ser difícil de perceber, mas, mesmo assim, tenho respeito pelas instituições e pelas pessoas. O insulto é quase uma interjeição, ainda mais numa manifestação, seja ela política, desportiva, tantas...
Adoro a democracia. Todos os que lutaram e lutam por ela, seja desde 1973 ou desde 1921, merecem o meu respeito, concorde ou não com eles.
Mas negar ao PCP e ao Álvaro Cunhal o seu papel na história da luta democrática é cuspir na memória de muitos milhares de pessoas, como seria negar o papel relevante de Mário Soares até 1974.
Daí em diante, as contas são outras. Mas, até lá, a liberdade foi construída por todos os Álvaros Cunhais e Mários Soares dos partidos e movimentos democráticos de trabalhadores, operários, camponeses, mineiros, militares, intelectuais.
É esta diversidade da liberdade democrática que me permite dizer as enormidades que quiser, assumindo as consequências delas.
É uma consequência democrática da própria democracia, essa grande filha da puta!
quarta-feira, março 12, 2008
Cancio(neiro) do costume
Confesso que, se aconteceu, escapou-me, e não é algo que costume acontecer. Mas até dou isso de barato.
Começa, depois, num rol de certezas quase científicas sobre a criminalidade, quando, na verdade, confunde os números. A criminalidade não desceu dez por cento. A criminalidade violenta desceu 10 por cento, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna, de que o MAI foi divulgando, às pinguinhas, números para combater o sentimento de insegurança, embora a divulgação oficial esteja apenas prevista para 15 de Abril. De qualquer forma, se a autora se permitisse a tal, importava esclarecer que a criminalidade geral aumentou 2 por cento.
Sobre isto, passo a transcrever, ainda sobre a confusão dos dez por cento: "O ministro da Administração Interna afirmou que «a partir de 2003» houve «uma tendência de estabilização e mesmo de algum decréscimo» na criminalidade, embora reconheça que «entre 2000 e 2006 aumentou 8.8 por cento», aproximando-se do INE, que aponta 10 por cento", no Portugal Diário de 14 de Fevereiro de 2008.
Passamos depois ao "portanto", que a Fernanda Câncio considera ser palavra-tique pc. Sugiro desde já que o anti-fascista-libertário-ex-trotskista-ex-maoísta elabore um dicionário de boas práticas linguísticas para que possamos escolher quais as palavras comunas e as mais democráticas, devidamente caucionadas pelo PS.
O PCP foi pioneiro, como em muitas outras coisas, em defender o papel activo das mulheres na sociedade, por muito que lhe custe, e quando Jerónimo de Sousa diz que "uma trabalhadora que chega a casa para tratar dos filhos" é porque as coisas se passam, de facto, assim. Por muito que lhe custe e por muito que custe a todos nós. Por uma questão de demagogia retórica, a Fernanda Câncio preferia que fosse utilizado o masculino. São opções.
O incontornável Cunhal também surge no texto. E, por estranho que possa parecer, surge em todos os textos que a autora escreve, escreveu e escreverá. Pelo simples facto de os poder escrever.
Voltando ao português, transcrevo: "
Há precisamente 30 anos, ao entrar pela primeira vez no Palácio de São Bento, Jerónimo de Sousa não fazia a mínima ideia de "como era isso de ser deputado".
Quando o DN lhe propôs um regresso às memórias dessa época, o actual secretário-geral do PCP lembra a ruptura que se registou entre a velha Assembleia Nacional da ditadura e a Assembleia Constituinte que contribuiu decisivamente para firmar os alicerces do regime democrático.
"Vínhamos de uma assembleia fascista, com uma composição muito classista, onde um operário não tinha entrada."Nesse mês de Junho de 1975, o contraste não podia ser maior até o PPD e o CDS exibiam operários na sua bancada. Mas nenhum outro grupo parlamentar como o PCP tinha tantos "membros da classe trabalhadora", como se dizia na terminologia marxista, muito em uso na época.Um desses operários, oriundo de Alpiarça, era António Malaquias Abalada - um operário agrícola já idoso que mal sabia ler ou escrever. Ao fazer uma das suas primeiras intervenções no plenário, com um discurso escrito na mão, este deputado começou a ser alvo de chacota generalizada, bem perceptível em diversas bancadas da Constituinte. Um episódio que indignou Jerónimo de Sousa.
Três décadas volvidas, o dirigente máximo do PCP guarda todos pormenores da cena, que reconstitui com visível emoção."Aconteceu num dia em que se discutia uma norma transitória que o PS e o PPD acabaram por incluir na Constituição da República. Esta norma, na altura, permitiu a libertação de todos os pides. Esse meu camarada António Abalada, que tinha passado pelas masmorras da PIDE, fez então uma intervenção, naturalmente sentida. Mas lia de forma muito deficiente - gaguejante, soletrando mal as palavras. Então a Assembleia Constituinte desatou numas gargalhadas visivelmente humilhantes", recorda Jerónimo de Sousa.O que se passou então? O secretário-geral dos comunistas continua a lembrar o episódio "Então esse meu camarada largou o papel que tinha na mão e falou assim: 'Estão-se a rir de mim porquê? Por eu não saber ler? Pois: é que eu, aos sete anos, já andava a guardar gado; aos 17, fui preso pela PIDE. E quando fui preso não me perguntaram se eu era do CDS ou do PS ou do PPD. Perguntaram, isso sim, se eu era do Partido [Comunista Português]. E foram os meus camaradas intelectuais deste partido que me ensinaram as poucas letras que eu conheço'.
"Aquelas frases espontâneas, proferidas como reacção à deselegância dos restantes deputados, constituíram uma autêntica lição de vida. "A verdade é que o hemiciclo emudeceu. E o camarada Abalada lá continuou a ler - manifestamente mal, como já fizera anteriormente - a sua intervenção sobre a tal norma transitória", recorda Jerónimo de Sousa, também ele com raízes operárias.Mesmo com tantos anos decorridos, a emoção é visível na face do secretário-geral comunista ao desfiar esta memória dos seus tempos de deputado constituinte. "Aquele foi um dos momentos mais impressionantes que eu testemunhei no hemiciclo de São Bento, no sentido de classe. E foi também uma lição para a arrogância intelectual de muitos deputados", conclui Jerónimo de Sousa.
E, já agora, falando em bom português, parece que as maiúsculas ainda constam na nossa gramática...
Pensamento vazio
Ora, eu diria que também não tem muito tempo para perder quando pensa no que fizeram bem...
segunda-feira, março 10, 2008
Postas com atraso (IV)
Falou com Jorge Máximo.
Quem é? Sócio do Benfica.
Postas com atraso (III)
"Nem bom, nem mau.
Incontornável".
Posto isto...
... Vão brincar com o digníssimo caralho!
Postas com atraso (II)
Postas com atraso
...tem de ser Mário Lino a sair em defesa da ministra da Educação, está tudo dito sobre o estado do Governo.
sexta-feira, março 07, 2008
A/C Pedro Correia
Por isso, deixo aqui uma fonte quase inesgotável de conteúdos para alguns posts dele - sem querer condicionar, obviamente - a escolha dos temas. São só e apenas sugestões.
Basta clicar aqui para ter acesso a uma série de editoriais interessantes do jornal Avante! na clandestinidade.
quinta-feira, março 06, 2008
Encher as medidas
As 9.000 armas de que o ministro fala são as mesmas que deviam ter sido entregues até 30 de Novembro?
As Unidades Especiais de Polícia não são isso mesmo - unidades especiais - pelo que não devem ser usadas de forma recorrente no patrulhamento, correndo o risco de descaracterizar o propósito para que foram criadas?
Quando o ministro fala em geo-referenciação, está a referir-se ao programa Táxi Seguro, que nem todos os taxistas têm porque são eles próprios a comprar o dispositivo? E, já agora, antes de alargar a outros sectores de actividade, não seria conveniente dotar os próprios veículos da Polícia com esse sistema?
Quem pode, com toda a certeza, definir o que é uma arma não letal?
A reforma das Polícias Municipais não vai agravar o problema de sobreposição de tarefas entre a PSP, a GNR e as Polícias Municipais?
Para além disto, o Governo, que quer uma polícia pró-activa e preventiva, faz papel de bombeiro para combater um tipo de crime que até está a diminuir. Avança com um pacote de medidas que, depois de uma leitura mais ou menos atenta, permite-nos verificar que a maioria delas estava já prevista no orçamento e no plano de acção do MAI.
De fora, mais uma vez, ficam os direitos sócioprofissionais dos profissionais da PSP, retirados ao longo dos últimos três anos, entre outros por que ainda lutam: continuam sem horário de trabalho; com material obsoleto; a trabalhar em contentores que o próprio ministro inaugura; sem pré-aposentação; aumentos nos descontos do SAD/PSP - subsistema de saúde da PSP; e muitas outras coisas.
Também nesta área o Governo continua a reformar e a anunciar medidas sem ter em conta o essencial para que qualquer medida funcione: o seu capital humano.
terça-feira, março 04, 2008
Arrastadeira
Independentemente disso, há alturas em que a minha bandeira fica em casa, por exemplo, nas iniciativas dos movimentos unitários.
Quando diz que o PCP deve "deixar que os movimentos sindicais e sociais sejam autónomos, participando neles com espírito de abertura, sem impor a sua agenda partidária e eleitoral. Seria um excelente sinal de honestidade democrática, como foi a realização desta manifestação assinada por quem a deve assinar", acerta no conteúdo, mas erra no alvo. Posso até dar-lhe um exemplo muito concreto: Quando tiveram início a invasão do Afeganistão e a guerra do Iraque, o Movimento pela Paz - Porto reuniu e houve uma força política que não abdicou de estar presente nas iniciativas com a sua propaganda. Surpreenda-se: O Bloco de Esquerda. Mais: foi referido numa das reuniões que, mesmo que mais ninguém fosse identificado partidariamente, dado que o Movimento pela Paz - unitário - pretendia iniciativas transversais a partidos, o representante do BE afirmou que não abdicava delas. Como disse, acerta no conteúdo, apenas erra no alvo. Confirme lá com o Teixeira Lopes para sabermos se não se passou assim.
Nas manifestações do 1.º de Maio, só há uma faixa partidária: a do Bloco. É este tipo de benevolência democrática, de não-ingerência partidária no movimento sindical que defende?
Por tudo isto e mais algumas coisas, caríssimo, deixemo-nos de tangas. A Marcha do PCP fez-lhe o que faz a muitos: obriga-os a reconhecer que os defuntos que propalam nas notícias, nas colunas de opinião e nos comentários na rádio e na tv estão, afinal, bem vivos. Mais vivos que todos os outros todos juntos.
E há que admitir que isso faz uma certa comichão, não faz?
Post it: E a urticária continua no Kontratempos. É uma seca isto de os comunas mobilizarem tanta gente... Mas o Tiago esquece-se que neste dia, para além desta marcha, houve também manifs de professores, na margem sul, supostamente também intrumentalizadas e organizadas por comunas.
Fujam! Fujam! Eles andam em todo o lado!