quarta-feira, novembro 29, 2006

Cerco, ao Porto.

Invicta.

Invicta porque nunca foi conquistada. Resistiu a tudo e todos ao longo dos séculos. Cercos e tudo.

Mas há um que permanece há algumas décadas. Um Cerco por dentro, no coração da Invicta. Um Cerco decadente e degradado.

Em conversa com um amigo, uns dias depois das manifestações dos estudantes do secundário, contou-me que pelo espírito de liderança salientou-se entre os manifestantes um aluno do Cerco. Com consciência. Com razão.

Marcou presença na Praça porque estava ao lado das reivindicações que moveram milhares de alunos. Marcou presença na Praça porque o Cerco está cada vez mais isolado.

Não há investimentos, "porque somos pobres e vivemos num bairro degradado", disse.

Marcelo Rebelo de Sousa, na crónica dominical em que vai dando, ou retirando, valores a tudo e todos, disse concordar com as manifestações dos estudantes, mas não perceber bem como é que se misturam as lutas do secundário com as faixas, envergadas por alunos, contra a co-incineração.

Não me espanta. Não pecebe, porque vai distribuindo os valores do alto da sua intelectualidade. Não percebe, porque já se esqueceu, ou nunca soube, que há muitas coisas muito erradas, e muitas delas são trazidas a público para que não sejam esquecidas.

Enquanto isso, o Cerco vai-se apertando em miséria, insegurança e sujidade humana e material. E a escola, bem no centro do Cerco, vai asfixiando, com as paredes cercadas pela ausência de perspectivas num futuro.
Não é um futuro melhor. É apenas um futuro.

Talvez Marcelo Rebelo de Sousa tenha dado nota negativa ao aluno do Cerco. Não faz mal. Não é algo a que ele já não esteja habituado.

E assim fica a Invicta, afinal conquistada a partir de dentro das muralhas, com o porto a olhar para dentro do Cerco apenas através da ameias, com medo de lá entrar.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Sindicatos fora de moda

Obsoletos.

Desde a Greve Geral que entrou no vocabulário de comentadores e de quem sei deixa comentarizar que os dirigentes sindicais estão obsoletos, referindo-se, mais precisamente, a Carvalho da Silva.

O João Proença nem tanto, ainda está só um bocadinho obsoleto.

Mas então, os governantes que há tantos anos estão à frente do destino do país, não estarão eles também obsoletos? Os economistas que todos os dias apresentam soluções já tiveram, a grande maioria, mais do que responsabilidades políticas, responsabilidades governativas. E, no entanto, passa a mensagem de que estão sempre actualizados.

Outra questão da moda, que sempre serve para afastar os holofotes do descontentamento com o Governo, é da ligação dos partidos de esquerda às centrais sindicais.

Mau será quando, um dia, os interesses dos sindicatos deixem de ser, também, os objectivos dos partidos da esquerda.

E, em relação ao PCP, convém que se decidam... Ou bem que está a definhar e a caminhar para o abismo; ou bem que tem uma capacidade de mobilização impressionante e consegue mobilizar gente para assobiar o Governo em todas as partes do país...

sexta-feira, novembro 10, 2006

Sócrates errou nas horas

Que a máquina propagandística do Governo de Sócrates funciona quase na perfeição, ninguém duvida. Exemplo disso é a sondagem hoje revelada pela SIC/Expresso/Rádio Renasceça, mas nem vou por aí.

O que hoje falhou a Sócrates foi a sempre importante abertura dos telejornais. A Greve Geral da Função Pública foi a grande notícia do dia, apesar de o Governo a ter tentado desvalorizar ao máximo, apontando para os 11,78 por cento como a adesão do segundo dia. Não falo no primeiro, porque de certeza que os resultados, acertados até à segunda casa decimal, foram uma brincadeira, ou, talvez, mais um dia mau.

No entanto, José Sócrates optou por entrar no recinto onde decorre o Congresso do PS quando eram, pelo relógio da SIC Notícias, 20h02. Atirou ao lado, os três canais generalistas já estavam com as peças da greve em andamento. E, para azar do Governo, a acreditar nos 11,78 por cento de adesão, os canais televisivos devem ter acertado em cheio em todos os locais do país onde se fez greve.

Terá sido o trânsito a atrasar o nosso primeiro?

Picos do Pinho

Foi ontem a votação do Orçamento de Estado, na AR, aprovado pela maioria do Partido Socialista. Só.

Não merece grandes comentários, o descontentamento generalizado diz tudo.

Mas as palavras do ministro Manuel Pinho têm o condão de surgir sempre nas piores alturas. Depois do decreto do fim da crise, que afinal era só para animar a malta, veio dizer que os 40 e tal mil portugueses que conseguiram novos empregos devem estar felizes.

O ministro esqueceu-se, no entanto, que os números do desemprego são comparados por trimestre. Ou seja, não pode dizer-se, com rigor, que houve um decréscimo do desemprego sem comparar ou primeiro trimestre do ano anterior com o primeiro deste ano, e por aí fora. É, no mínimo, má fé, comparar o segundo com o terceiro trimestre, que engloba os meses de Julho Agosto e Setembro, época do ano em que o trabalho sazonal tem o seu pico.

Mas, no dia seguinte às declarações do ministro, a LEAR de Valongo anunciou que vai fechar e vão para a rua mais de 500 trabalhadores.

Manuel Pinho começa a provar que faz os melhores discursos quando está calado.

terça-feira, novembro 07, 2006

Toma lá Democracia

O Governo dos EUA ameaçou hoje os eleitores da Nicarágua. Se Ortega vencer as eleições, acabam-se os apoios económicos.

É legítimo. O dinheiro é deles, dão-no a quem quiserem. O que não me parece muito legítimo é a ameaça, vinda da auto-intitulada maior democracia do Mundo.

Não percebo. A democracia dos EUA compra guerras para que os países se tornem livres e democráticos - pelo menos, é este o motivo oficial.
Então, por que não aceitar a legitimidade do povo nicaraguano na escolha do seu novo líder?

Estranha forma de democracia.

Saudinha, S.A.!

Um estudo divulgado hoje veio revelar que os Hospitais, S.A., gastam mais do que os hospitais não S.A., o que pode, obviamente, aumentar o défice.

É uma chatice ter de pagar balúrdios a adminstradores para cortarem nas despesas que os ordenados dos próprios acabam por gerar, e não consigo perceber muito bem como isso é possível.

Mas isto vai mudar, mais não seja, pelo pagamentos das Taxas Moderadoras, que vão dar uma mãozinha para equilibrar as contas que os nossos impostos deviam suportar. Os nossos, sim, não os das grandes empresas, porque essas precisam de ter impostos baixinhos, para não se deslocalizarem...

segunda-feira, novembro 06, 2006

Sem penas

O Iraque está, mais uma vez, na ordem do dia.
Desta vez por causa de Saddam Hussein, que foi condenado à morte por enforcamento. Portanto, o Iraque deixou de ser um regime tirano que condenava à morte os opositores ao regime laico, para passar a ser um regime tirano islâmico que condena continua a condenar à morte.

Segundo Bush, é "um enorme passo passo para a jovem democracia iraquiana". Não admira, tendo em conta a velha democracia do Texas.
Sócrates também falou, ainda que timidamente, para dizer que os direitos humanos estão no "coração de todos os [norte] americanos.
Não diria bem de todos. Duvido que a lei que impede os julgados por crime de terrorismo de falarem sobre os métodos dos interrogatórios a que foram submetidos sejam revelados, seja um acto que partiu do coração dos norte-americanos.

Saddam foi condenado pela morte de 148 xiitas. Ficaram, assim, sem pena, os milhares de curdos e militantes de esquerda que também foram assassinados.

E os turcos? E os presos políticos do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) que continuam presos e torturados no aliado estratégico dos EUA na região? Para esses não há pena: nem dos tribunais, nem de compaixão.

Já agora, se depois da mentira das armas iraquianas, o motivo da invasão do Iraque passou, subitamente, a ser a deposição de um regime autoritário e sanguinário por parte dos EUA, para quando uma intervenção no Darfur?

sexta-feira, novembro 03, 2006

Era uma vez um partido

O Partido Nova Democracia, de Manuel Monteiro, está com vida difícil. Não conseguiu qualquer dos objectivos: fazer frente ao PP, aproveitar margens de descontentes do PSD e abarcar novos militantes, até então afastados da vida política.

O partido continuou a viver da imagem do seu líder, com aparições esporádicas e, na maioria das vezes, inconsequentes. Redundou num enorme falhanço, não conseguindo chamar a si o elevado número de descontentes com Ribeiro e Castro e os indiferentes do PSD à actuação de Marques Mendes.

Mas o grande culpado da crise do PND é o Partido Socialista. Com o engenheiro Sócrates à cabeça, a direita, em geral, não tem espaço como oposição e, por outro lado, não quer admitir que o actual Governo está a fazer exactamente o que a direita faria se estivesse no poder.

A direita vive agora, em Portugal, um período semelhante ao vivido pelos partidos de esquerda logo após o 25 de Abril, quando havia muitos partidos de esquerda.
Há direita a mais. Temos o PS, o PSD, o PP, o PND e os fascistas - pelo menos os mais claramente fascistas - do PNR.
Ofertas a mais para eleitorado a menos.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Frases e factos

"É preciso aproveitar ao máximo os estudos, estudar muito, fazer os deveres, fazer um esforço para ser inteligente, para ter êxito (...) caso contrário, acaba-se enfiado no Iraque".

Foi esta frase de John Kerry que fez com que os conservadores tomassem as dores dos soldados e acusassem o senador de ter insultado as tropas americanas. Mas até que ponto não será verdade?

O recrutamento de soldados nos EUA faz-se, muitas vezes, porta a porta, nos bairros e zonas mais degradados e problemáticos. Assim, aproveitando o elevado nível de abandono escolar, que também se deve ao modelo educacional norte-americano, responsáveis do exército acenam com regalias e futuros promissores aos jovens menos esclarecidos. Da mesma forma que era feito durante a guerra do Vietname.

Até que ponto é mentira que são os jovens menos formados que integram as fileiras do exército norte-americano?

No entanto, sem retirar alguma razão ao senador John Kerry, há um perigo maior para que não estuda muito... Pode chegar a presidente dos EUA!