Vamos outra vez para eleições, no próximo dia 5 de Junho. Desta vez, estranhamente, as habituais notícias sobre o custo das eleições surgiram logo após a demissão do Governo. Mais importante que isso, seria perceber o custo que o resultado das eleições terá para o Povo português, as implicações, o seu impacto no quotidiano de cada um de nós.
Também há os que já pedem a permanência indefinida do FMI, por considerarem que a culpa é "dos partidos", sejam eles quais forem, num argumento à Carlos Coelho. Pessoalmente, não tendo vivido os 48 anos de ditadura fascista, guardo com orgulho o património de luta do Povo português e do PCP em particular, que permitiu a conquista da democracia. E é por isso que tenho esta mania teimosa de defender o meu direito a escolher quem me representa na Assembleia da República, mediante o conhecimento dos projectos de cada um. E é isso que deixa de acontecer quando o FMI entra num país.
O que esperar, por isso, das eleições de dia 5?
Do PS, PSD e CDS espera-se a derradeira traição às conquistas de Abril, o ajuste de contas que tanto querem fazer, agora a cobro do FMI. Com pequenas diferenças entre eles, escolhem o mesmo caminho do desastre que levou a Grécia ao estado em que está - e que hoje vive mais uma greve geral, demonstrando assim a vantagem da intervenção externa. Mas há outros paralelismos entre Portugal e a Grécia. Os dois países seguiram, desde 1997, políticas de combate ao défice para cumprir metas irreais, que foram sendo alteradas ao longo dos anos, sempre para servir os interesses e a ineficácia dos países do centro da Europa, que controla as directivas da UE. Uma vezes conseguiu-se, outras não, mas sempre às custas da mesma receita: mais sacrifícios para os trabalhadores. E importa esclarecer que os desempregados também são trabalhadores, ao contrário do que às vezes se pretende fazer passar.
Entre PS e PSD, à parte do desastre Catroga e da cambalhota de Nobre, há pouco que os distinga. Programas fictícios, porque o verdadeiro foi o assinado com o FMI, à boleia do CDS, que fugiu da fotografia para continuar a capitalizar os descontentes do PSD e do PS.
O Bloco de Esquerda continua perdido no seu labirinto: entre o apoio à intervenção da NATO e a presença na manifestação contra a cimeira em Lisboa; entre o apoio à intervenção externa na Grécia e ser contra a intervenção em Portugal; entre a moção de censura que não era boa ao domingo e passou a ser fundamental na quarta-feira; entre o apoio a um candidato presidencial do PS e a rutura com as políticas do PS; entre as diversas correntes que defendem tudo e outras o seu contrário.
No entanto, o que mais me deixa curioso em relação ao Bloco é no que diz respeito às reformas laborais. Que posição assumirá o Bloco quando verificarmos que parte das medidas propostas pelo FMI são, afinal, aquelas que o bloquista Chora, o sindicalista-modelo, "conquistou" na Autoeuropa? Haverá espaço para mais cambalhotas no Bloco?
Resta a CDU, a única opção coerente e credível para quem quer dar, de vez, a volta a isto. E cabe a todos nós, militantes e activistas, fazer a nossa parte. Esclarecer o que é deturpado, mostrar o que é omitido, abrir novos horizontes a quem os últimos 35 anos de PS, PSD e CDS roubaram a esperança e as perspectivas de futuro.
Mostrar, por fim, que há alternativas. Critiquem-nas, concordem, discordem, mas conheçam-nas primeiro.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
quarta-feira, maio 11, 2011
O que esperar das eleições
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