À data em que escrevo este texto ainda não está dada mais uma machadada no frágil tecido produtivo de Leça da Palmeira. Mas sê-lo-á, em Assembleia Municipal extraordinária devidamente convocada para o efeito. Quem vive em Leça sabe que, nas últimas duas décadas, principalmente, Leça se transformou num oásis da linha de praia, ficando para trás a zona norte da freguesia, bem como a zona de Gonçalves, ali por trás do Centro Hípico do Porto.
Há quase 30 anos Leça deixou cair a FACAR. Na altura, os trabalhadores acusavam a Câmara Municipal de estar a ceder a interesses imobiliários, o que foi prontamente desmentido pelo então autarca, Narciso Miranda. Anos mais tarde, com umas alterações ao PDM, construíram-se as torres que agora vemos ainda antes de entrar em Leça, bem como o complexo Entre Quintas. É que o tempo tem esta coisa teimosa de dar razão a quem a tem.
Anos mais tarde, com manobras mais ou menos obscuras, nasceu, paredes-meias com a Petrogal, um condomínio de luxo, numa distância da refinaria inferior àquela que, durante muitos anos, foi considerada de segurança. Toda a gente sabe como.
Agora, Leça da Palmeira perderá a Ramirez para Perafita, ficando por saber o que sucederá com o actual espaço da fábrica, onde me habituei a ver dezenas de ondas cor-de-rosa das batas das operárias.
A Rua Óscar da Silva ficará ainda mais pobre. Veremos como viverão os pequenos negócios nas imediações da Ramirez. Veremos o que nascerá no lugar da fábrica. Mais tarde ou mais cedo. É aquela coisa do tempo...
*Publicado originalmente na edição de Dezembro do Notícias de Matosinhos
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
quarta-feira, dezembro 07, 2011
O fim da rosa*
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