No mês passado assistimos ao mais violento retrocesso social
em matéria laboral de que há memória. João Proença, voz do dono da UGT – sim,
do dono da UGT – fez o triste papel de representante dos trabalhadores. De
quais, ninguém sabe ao certo.
Sabemos, sim, que a “vitória” conseguida por Proença e pela
UGT dar-nos-á tudo aquilo que, ao longo de décadas, fizemos por perder, algumas
ainda no tempo do fascismo. A meia-hora que a UGT alega ter vencido cai em saco
roto quando pensamos no banco de horas que estará sujeito à discricionariedade
do patrão. Mais a facilidade dos despedimentos, mais tudo aquilo que consta em
52 páginas em que apenas a redução de direitos laborais é factual. O resto é
uma declaração de intenções.
A UGT cumpriu o papel que lhe estava estabelecido
desde a sua fundação, apadrinhada por Mário Soares e pelos interesses
norte-americanos, e que, ao longo dos anos. Enganou os trabalhadores, colando-se
a eles na Greve Geral por mero interesse político, e cauciona um acordo
inenarrável para qualquer pessoa com dois dedos de testa. Aliás, enquanto a UGT
tentava justificar o injustificável com o memorando da Troika, que o partido do
qual Proença faz parte assinou, o primeiro-ministro dizia que o acordo tinha
ido além do memorando. Depois vieram os elogios dos comentadores do regime e
dos patrões do governo.
Se é verdade que as atitudes de Proença e da UGT já não
surpreendem, o facto de ainda haver trabalhadores que se vejam nelas
representados é, para mim, um mistério.
*Publicado originalmente na edição de Fevereiro do Notícias de Matosinhos
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