quinta-feira, novembro 15, 2012

Uma grande Greve Geral

Foi uma enorme Greve Geral. (ponto) 

No Porto, centenas de pessoas, sindicalizadas, não sindicalizadas, empregadas, desempregadas, deslocaram-se à Casa Sindical da União de Sindicatos do Porto com o propósito de participar nos piquetes.

Foi o maior piquete de que tenho memória. Ok, não sou assim tão antigo, mas isto é um facto. No Porto, apesar de haver quem ache que se diz sempre que "esta greve foi maior que a anterior", o facto é que, a sensibilidade de quem lá esteve é que foi, de facto uma grande greve, que decorreu praticamente sem incidentes.

O piquete montado pelos trabalhadores dos STCP em Francos era significativo, algumas dezenas de trabalhadores à porta da empresa, ainda antes da meia-noite. Os que chegaram mais tarde engrossaram as fileiras e ali estivemos tranquilamente. Ninguém chegou para trabalhar até perto das 4 da manhã. Os que chegavam, acabavam por juntar-se ao piquete. Na recolha da Via Norte, o mesmo filme. Na estação de S. Bento, às 9 da manhã nem um comboio partira. Apesar da figura sinistra que é presença assídua na provocação aos piquetes de greve.

Mesmo com uma noite gelada, a adesão aos piquetes era massiva.

Pelo meio, alguns episódios a assinalar.

As misteriosas carrinhas de entrega de jornais e o desejo gorado dos Precários Inflexíveis

Quem conhece a Lei da Greve sabe que, em dias de greve, é aos piquetes das empresas ou designados pelos Sindicatos ou Centrais Sindicais que compete garantir a segurança das instalações. Por esse motivo, os piquetes dividem-se dentro e fora das instalações das empresas. Pelas duas da manhã, em Francos, surge uma carrinha branca, que, como é normal, é abordada pelo piquete. Não se sabia se era algum trabalhador e era pretendido falar com ele, cumprindo outro papel legal do piquete: procurar dissuadir o trabalhador.
A carrinha, ao aproximar-se, abrandou e depois acelerou em direcção ao piquete, o que fez aquecer os ânimos. A PSP, com uma presença normal para a ocasião acorreu ao local e - creio - acabou por identificar o condutor.

Episódio sanado e tudo normal. A carrinha continuava junto ao portão.

Vinte minutos depois, surge outra carrinha e a história repetiu-se. Para a saída das carrinhas, foi o piquete a formar um cordão para que as duas carrinhas pudessem sair em segurança. Para surpresa de todos, as duas pararam 50 metros à frente. Outra vez ânimos exaltados, mas nada de muito grave.

A noite continuou muito fria.

Pelas sete da manhã, surgia também alguma tensão junto à estação de recolha da Via Norte, quando alguns autocarros se perfilavam para sair. No entanto, o piquete voltou a funcionar. O "piquete" dos PI chegou por volta dessa hora e apressou-se a tuitar que tinha havido uma carga policial com recurso ao Corpo de Intervenção. Nada mais falso. Nem houve carga policial nem lá estava o CI.

Foi, assim, uma noite tranquila, com trabalhadores unidos num propósito e uma mobilização de que, como recordei, não tenho memória.

QUESTÕES MARGINAIS

A meio da noite, surgiu a notícia de detenções em Matosinhos, após terem sido vandalizadas cinco dependências bancárias. Dois estudantes, de 18 e 19 anos, recorreram ao que foi lançado por um conhecido site de reprodução de notícias, o Tugaleaks, através de vários apelos de pelo menos um dos seus membros, via twitter e facebook, para o recurso à "acção directa". Mesmo sem terem a mínima noção do que é, de facto, acção directa.

A violência junto à AR era mais do que prevista, por vários motivos. A desvalorização constante das greves e das manifestações, por maiores que sejam, por parte dos vários governos e dos seus agentes que surgem nas colunas de opinião da Comunicação Social é um deles. Consciente ou inconscientemente, o que estão a fazer é a empurrar cada vez mais gente para o protesto violento.  Depois há os que acabam os editoriais demasiado cedo e acabam por passar mentiras para a opinião pública. Mas certamente que o Paulo Ferreira, na edição de amanhã do JN, fará um desmentido do que disse hoje.

Mesmo que o apedrejamento da polícia tenha sido obra de meia-dúzia de burguesinhos indignados com tudo e mais alguma coisa, até com a CGTP, a verdade é que o desespero acentua-se de dia para dia e pode ter consequências bem mais graves do que o sucedido na AR. A carga policial só não era esperada por quem não tem noção da realidade. Quem lá ficou devia saber o que aí vinha.

O desespero acentua-se. E quem pouco ou nada tem a perder, protestará cada vez mais e de forma mais contundente. A ver vamos como será no dia 27. A ver vamos como será depois de os trabalhadores terem uma noção real do que lhes é roubado, quando receberem o recibo de vencimento de Janeiro. A ver vamos quando perceberem os cortes no subsídio do desemprego. A ver vamos quando tiverem consciência do roubo a que estamos a ser sujeitos.

Importa realçar que a manifestação da CGTP já tinha acabado há muito tempo, mas que milhares de pessoas continuaram em frente à AR, o que também é de registar e analisar aprofundadamente dentro da Central Sindical.

Artigo 21.º da Constituição da República Portuguesa:
Artigo 21.º
Direito de resistência
Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.

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