sexta-feira, abril 18, 2008

bis

Pelo que consta, parece que vale a pena recordar o que escrevi a 26 de Dezembro de 2007 e lamentar que não me enganei mesmo:

"Um post com conteúdo sobre conteúdos"

O jornal O Jogo vai passar a produzir conteúdos para outros jornais da Controlinveste.

Nota prévia: O Jogo não produz conteúdos. Os jornalistas d'O Jogo produzem os conteúdos d'O Jogo. Se a lógica ainda imperasse, o justo seria dizer que os jornalistas d'O Jogo vão ceder, obrigatoriamente, o produto do seu trabalho a outras sub-empreitadas do grupo Controlinveste.

Está aqui a primeira consequência flagrante do novo Estatuto do Jornalista. Deixa de haver direitos de autor e passa a haver direitos de quem contrata o trabalho do autor.Segundo a notícia, este intercâmbio (?) vai ocorrer já no euro2008. É o primeiro passo. Depois, virão outras provas e eventos e vamos passar a ter uma espécie de mini O Jogo dentro do DN, do JN, do 24horas e, quem sabe, vamos começar a poder ouvir O Jogo, o DN, o JN e o 24horas na TSF.

Isto, até podermos ver O Jogo, o DN, o JN, o 24horas e a TSF num canal de tv que o grupo pretende lançar.Com esta "racionalização de meios" - que expressão tão na moda -, o que vai acontecer aos jornalistas "excedentários"? E aos recém-licenciados?

Como é possível ser o Manuel Tavares, jornalista antes de ser director d'O Jogo, a justificar esta medida?


O Capital, Karl Marx, Volume I, Secção 2:

O Processo de Produção de Mais Valia

"O produto, de propriedade do capitalista, é um valor-de-uso, fios, calçados etc. Mas, embora calçados sejam úteis à marcha da sociedade e nosso capitalista seja um decidido progressista, não fabrica sapatos por paixão aos sapatos. Na produção de mercadorias, nosso capitalista não é movido por puro amor aos valores-de-uso. Produz valores-de-uso apenas por serem e enquanto forem substrato material, detentores de valor-de-troca. Tem dois objectivos. Primeiro, quer produzir um valor-de-uso, que tenha um valor-de-troca, um artigo destinado à venda, uma mercadoria. E segundo, quer produzir uma mercadoria de valor mais elevado que o valor conjunto das mercadorias necessárias para produzi-la, isto é, a soma dos valores dos meios de produção e força de trabalho, pelos quais antecipou seu bom dinheiro no mercado. Além de um valor-de-uso quer produzir mercadoria, além de valor-de-uso, valor, e não só valor, mas também valor excedente (mais-valia)".

Ao contrário dos capitalistas - ou grupos económicos, chamem como quiserem -, a generalidade dos jornalistas faz sapatos por paixão aos sapatos. O novo Estatuto do Jornalista é o fim formal do Jornalista enquanto detentor da propriedade intelectual do que cria, para ser um sapateiro ao serviço dos grandes grupos económicos.

2 comentários:

filipe guerra disse...

É a própria liberdade de informar que fica posta em causa. A completa proletarização da profissão. Um atentado à dignidade dos jornaistas.
um abraço

fpcardoso disse...

Falta pouco para se passar de "jornalista do Jogo" (no caso em apreço), para "jornalista da controlinveste"... como os jornalistas do CM passarão a ser "jornalistas da Cofina", os da Focus "jornalistas da Impala"...

Vamos longe assim. Um jornalista a fazer o papel de 5 ou 6...

Estou mesmo a ver, um jornalista vai a uma conferência de imprensa e terá que escrever para 5 ou 6 jornais, com 5 ou 6 abordagens diferentes. Um ângulo "popular" para o CM; um ângulo económico para o JdN; um ângulo mais reportagem para a "Sábado"...

Isto sim preocupa-me.