quinta-feira, julho 14, 2011

A culpa é nossa

Diz que é moda malhar na Moody's. Não há dia que não surja um novo vídeo com lixo para a Moody's. Estamos confortavelmente indignados com a Moody's; até crashamos o site deles sem precisar de sair das cadeiras. Foi uma iniciativa inédita, ao que parece lançada por um assessor da TAP, cuja indignação é de classe. Não há notícia de ataques ao site da Groundforce quando foram despedidas centenas de trabalhadores.
Somos tão patriotas quando nos dizem que somos lixo. É aquele orgulho saloio, que surgiu de repente quando percebemos que uma agência faz aquilo que sempre fez: especula. E a gigantesca campanha mediática contra esta agência em particular foi tão bem alimentada, que até o jornal i lançou uma petição dizendo que "A Europa não é um lixo", apoiada pelos líderes da JS e JSD.
Enquanto estávamos entretidos com este circo, surgiam outras ideias mais ou menos pioneiras, como a criação de uma agência de rating europeia. Pessoalmente, acho brilhante. Criticamos as agências de rating dos EUA para criarmos uma europeia, para que possamos, em vez de trash, ser considerados rubish. Pessoalmente, agrada-me, é verdade, que tenho um fascínio pelo british english. Portanto, não se muda o sistema, não se combate a especulação. Não, o que é preciso é que sejamos considerados lixo por alguém que nos seja um bocadinho próximo.

A nossa indignação é tão selectiva que até nos esquecemos, ou há quem nos queira fazer esquecer, o que diziam, até há umas semanas, gente do PS, PSD e CDS sobre as agências. Recordemos que a necessidade dos sucessivos PEC's era equilibrar as contas públicas para não assustar os mercados. A título de exemplo, o ministro Vespa, Pedro Mota Soares, dizia, a 13 de Julho de 2010, que "é um erro desconsiderar o que as agências nos vão dizendo". Menos de um ano depois, a 6 de Julho de 2011, o deputado do CDS, Nuno Magalhães, afirmava: As agências, sublinhou, "falharam" na notação que atribuíram "nas vésperas" da "crise internacional que começou nos Estados Unidos há cerca de três anos e meio".

Já pouca gente se lembra do FMI e do que significa a sua entrada para o país, a perda de soberania, a mesma que defendemos quando fomos considerados lixo. Por falar em FMI, que chegou à Grécia com tanto sucesso - Grécia: défice sobe 28% no primeiro semestre - a instituição segue à letra a ideia instituída de que os melhores gestores têm de ser melhor remunerados, aumentando o salário da nova presidente em 11% em relação ao que ganhava o inocente DSK. Mais quase meio milhão de dólares por ano, ou pentelhos, como diria Catroga.

Até Trichet passou de demónio a anjo, quando criticou a decisão da Moody's. No mesmo dia em que subiu as taxas de juro que farão aumentar as prestações dos créditos. Mas isso nem importa muito. Não podemos é ser lixo.

Vejamos que a crise é tão grande, que até os mais ricos estão mais ricos do que estavam em 2008, coitados. E aqui sim, a culpa é mesmo nossa. Para proteger esta gente de eventuais reacções populares que impliquem levantar as nádegas das cadeiras, hoje mesmo, Helena Matos, no Público, inicia o ataque aos sindicatos, realçando que Carvalho da Silva Está na CGTP desde 1986. Não lhe merece qualquer comentário que o poder económico - e cada vez mais por inerência, também o político - volte a estar nas mãos daqueles que, durante 48 anos e até 1974, exploraram milhões de portugueses. É a ofensiva de classe no seu esplendor. A culpa é nossa e é dos sindicatos. 

Enquanto a nossa indignação se vira para a Moody's, PSD e CDS, com uma ajudinha do PS, vão explicando a forma como vão roubar parte dos subsídio de Natal, sem mexer nas acções e nos juros. A riqueza financeira é então mais protegida do que a riqueza gerada pelo trabalho. Que se lixem as pessoas. O que é preciso é dar sinais aos mercados.

Felizmente, a icar já se pronunciou, dizendo que o corte no subsídio de Natal - note-se a ironia da coisa - é uma medida equilibrada.

E de quem é a culpa de tudo isto? É nossa. Que gastamos mais do que temos. Não é da desregulação do sistema financeiro, não é dos sucessivos retrocessos sociais que vivemos desde a Revolução de Abril. Não. É nossa. (E da Moody's).

terça-feira, julho 05, 2011

O puzzle*


Foi no dia 5 de Junho que o país deu uma volta tremenda de 360 graus, numa confusão de tonalidades que pouco ou nada há-de mudar no que está já traçado para nós por aquela gente estranha que veio de fora, sem rosto nem nome, que ficou célebre por um tal de “senhor olhos azuis”. Agora vem o puzzle que é a formação de um governo, que ninguém saberá muito bem para que serve, porque o programa a adoptar não será de qualquer um deles.

Mas nem só de puzzles políticos vive um leceiro. Temos também os puzzles que são as estradas do Concelho de Matosinhos, com um bocadinho de estrada à volta de cada buraco. Tenho para mim que, se juntarmos todos os pedacinhos de rua, havemos de conseguir uma estrada sem buracos fora da linha de mar. E uma é melhor que nada. Um bom exemplo é a Rua Óscar da Silva, uma das artérias que levava o Porto de Leixões até ao antigo terminal TIR. A grande surpresa, para alguns, é que esta rua não termina na rotunda ao cimo da Av. dr. Fernando Aroso. Continua mais para a norte e encontra-se com Perafita, numa zona que é um bocadinho de ninguém. Faz lembrar Gonçalves, também em Leça, por trás do renovado centro hípico, também numa fronteira, mas com Santa Cruz do Bispo.

Gonçalves não é bem um buraco, é uma nódoa que o poder local continua a ignorar, mas não totalmente. É uma zona sem passeios, com rua em paralelo, mas não toda. Eu explico: Há um espaço com direito a alcatrão e passeios, junto a uma superfície comercial, mas para lá chegar não há passeios; mais à frente, há uma rua que vai dar às traseiras do centro hípico que tem alcatrão mas também não tem passeios. Depois vamos de paralelo em paralelo até ao viaduto – em alcatrão – que liga às traseiras da Exponor e a uma das entradas da Quinta da Conceição – também sem passeios.

Leça é assim mesmo, um enorme puzzle que há anos tentam desmontar e descaracterizar.

*Publicado originalmente no jornal Notícias de Matosinhos.