Vallekas mantém ainda hoje as suas tradições antifascistas, num bairro com cerca de 300.000 habitantes. O bairro dos subúrbios madrilenos foi um importante espaço de resistência à ditadura de Franco, o que lhe valeu o apelido de "pequena Rússia". O orgulho de classe continua a ter uma marca profunda e tem o seu expoente nos adeptos do clube do bairro operário, o Rayo Vallecano. Os Bukaneros, claque do Rayo, são um grupo assumidamente antifascista e, na última Greve Geral, pagaram por isso. Como poderão ver nas imagens que ilustram o texto, os Bukaneros utilizam a curva, 'la grada', para enviar mensagens políticas e sociais, pelo que começam a ser incómodos para todos os poderes.
Espanha: estado opressor
Nos últimos tempos a repressão acentuou-se generalizadamente na Europa, particularmente no país vizinho. Das detenções arbitrárias no País Basco, às acusações de apologia ao terrorismo do poeta e rapper Pablo Hasel e do produtor Marc Hijo de Sam, que lhes valeram vários dias na prisão.
Na noite de 13 para 14 de Novembro, Alfonso Fernández, de 21 anos, saiu de casa com a namorada para participar num piquete de greve. Perto de casa foram ambos detidos e levados para uma esquadra sem motivo aparente. Seguiram-se interrogatórios por polícias de cara tapada, ameaças a familiares e, para surpresa do próprio, uma acusação de posse de explosivos, que pode resultar numa ena de prisão entre quatro e oito anos. E mais ameaças e pressão para uma autoconfissão.
Nas diligências efectuadas em casa de Alfon nada foi encontrado. Alfon serviu também de desculpa para uma invasão policial de um dos pontos onde os Bukaneros costumam reunir-se. E, mais uma vez, nada de incriminatório foi encontrado.
Acabar com os Bukaneros?
É convicção generalizada entre os membros dos Bukaneros que Alfon está a servir de bode expiatório para uma possível ilegalização do grupo de adeptos. Estes têm-se destacado na denúncia da corrupção do futebol moderno, contra os horários absurdos dos jogos do campeonato espanhol e os jogos do campeonato às quintas-feiras. Tudo a bem do interesse económico das televisões e das direcções dos clubes e contra o que o futebol deve ser: uma festa de adeptos para os adeptos.
Marcha proibida
Os Bukaneros, a IU, associações sindicais e movimentos sociais organizaram uma série de eventos de solidariedade, que culminariam com uma marcha, no dia 15 de Dezembro, até aos estabelecimento prisional onde está Alfon. A marcha foi considerada ilegal e acabou por não se realizar. Alfon estava proibido de efectuar telefonemas desde a quarta-feira anterior. Curiosamente, no sábado, a sua mãe recebeu um telefonema. Era Alfon. Avisava a sua mãe que, caso a marcha se realizasse, seria enviado para as Canárias... O direito de manifestação está ameaçado também em Espanha.
Alfon continua detido
Alfon está ainda hoje detido, em prisão preventiva. É o único detido em toda a Europa por eventos relacionados com a Greve Geral. Primeiro, devido a pressões de altas instâncias judiciais, o argumento utilizado era a possibilidade de fuga, que foi depois descartada. Agora, continua detido por, supostamente, ser uma ameaça à paz social. Todo o contacto que tem com familiares, amigos e mesmo advogados tem a presença de elementos policiais. O amigos que lhe escreveram para a cadeia estão a ser perseguidos e investigados pela polícia.
Silêncio mediático, UE calada
Parece incrível mas estamos a falar de um estado da União Europeia, que deveria ser o farol das liberdades e garantias dos seus cidadãos. Que não o é já todos sabemos. Só não estávamos habituados a que não o fosse tão descaradamente. Os media mainstream também não dão importância ao caso. Apenas blogs e redes sociais vão impedindo que este caso caia no esquecimento e que um jovem permaneça na cadeia por ter consciência de classe, por ser inconformado, por não se resignar.
Pablo Hasel, também ele ex-detido, fez este poema em homenagem a Alfon, onde consta também o testemunho da mãe do jovem.
Toda a informação aqui: LIBERTAD ALFON!
Também no Facebook: ALFON LIBERTAD!
Espero, em breve, ver nas curvas portuguesas uma tarja que seja a solidarizar-se com Alfon.
Partilha e divulga!
Adenda: entrevista com a mãe de Alfon:
(Reparem na música do genérico do programa)