Acabou, finalmente, o ano de 2011. O pleonasmo é forçado, mas confesso que estava ansioso. A verdade é que foi um ano muito, muito difícil para a generalidade dos portugueses, que foram chamados a escolher os deputados que queriam ver representados na Assembleia da República. Pelo meio, uns fugiram, de fininho, para França, na esperança para obterem mais estudos, numa premonição do que viria a ser a palavra de ordem do governo entretanto eleito: emigrai. De perto, seguiu-se a família de uma cadeia de hipermercados, que vai pagar menos 10 por cento de impostos, mas na Holanda. Fica o aviso: na Holanda vai deixar de ser permitido vender produtos derivados da cannabis a estrangeiros.
O povo escolheu quando não sabia o que ia escolher. O pacto de agressão do FMI já estava alinhavado e faltava aplicá-lo. O povo escolheu, pois, de olhos vendados, às escuras, enganado pelos apelos da resignação e da inevitabilidade.
Com a agressão externa de que o país está a ser vítima, está em marcha a privatização de tudo o que são serviços públicos e daquilo que deve ser o Estado. Daquilo que o Estado tem obrigação de dar a quem paga impostos. Curiosamente, este Estado é o mesmo que não quis tributar dividendos de accionistas dos grupos
cobrados em bolsa, no ano passado.
Sendo realista, a pior notícia de 2011 foi o início de 2012. A menos que o povo saiba travar o retrocesso. E há duas formas de travar; ou se trava parado à espera do impacto ou se trava avançando. Com confiança.
*Publicado, originalmente, no jornal Notícias de Matosinhos
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
quinta-feira, janeiro 12, 2012
Quarto escuro*
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