Há 37 anos e um dia, Portugal voltava a respirar. De forma confusa, ainda, cheia de soluços e com medos de 48 anos que não se ultrapassam em 48 horas.
Eu não era nascido há 37 anos, que os meus pais andavam ocupados a fazer outros filhos. Ou filhas, no caso. Foram três seguidas, as filhas. O resto prefiro não imaginar porque se aproxima de uma visão do inferno para um descrente.
No entanto, tive a sorte de crescer numa família que fez questão de ensinar-me o que foram o 24 e o 25 de Abril, numa perspectiva marcadamente ideológica. Não por uma questão de politização precoce, mas antes por uma perspectiva de classe da forma como o Povo sentia e vivia. Da classe do povo, dos explorados - palavra proibida, que é de comunista. E estou à vontade para falar. O meu pai ainda não era militante do PCP, embora já fizesse parte das listas da APU e da CDU para as Autárquicas; a minha mãe andava iludida com o PS do Soares. Passou-lhe, felizmente. Mas não me sai da memória ter ido festejar a vitória do Soares sobre o Freitas. E sim, era pequenino mas lembro-me bem disso.
Também não foi na escola que aprendi o que é o 25 de Abril, que a coisa é matéria non-grata. Ou antes, aprendi com alguns professores, mas à margem do que a escola "ensina". Professoras como Lurdes Castro, Ana Amaral, Luísa Félix e Maria Emília. Aprendi com elas, discordei, concordei, mas aprendi.
Ontem, na sessão solene comemorativa dos 37 anos do 25 de Abril, em Leça da Palmeira, a Junta não estava cheia, longe disso. Mas não só não estava cheia no espaço dedicado ao público como não estava nas cadeiras dos eleitos. Estavam todas vazias. Apenas cinco pessoas - o executivo. Nem PS, nem PSD-CDS, nem o movimento de Narciso Miranda, nem a eleita independente. Zero.
Não aprenderam coisa alguma, nem com a história, nem com a vida, nem com, mais não seja, o respeito para com aqueles que os elegeram. Sejam doutores, engenheiros, pedreiros, os representantes eleitos pelos leceiros não estiveram nas comemorações do 25 de Abril.
Afinal, é o povo que se divorcia de alguns políticos, ou são alguns políticos que se divorciam do povo?
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
terça-feira, abril 26, 2011
25 de Abril à moda de Leça
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Leça da Palmeira
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