quinta-feira, dezembro 20, 2012

LIBERTAD ALFON!

Nesta Europa a andar para trás, os sinais de perseguição a quem divirja da ideologia dominante são cada vez mas alarmantes. A Greve Geral europeia de dia 14 de Novembro teve importantes acontecimentos em todos os países. Desta vez, vamos até Espanha, mais propriamente Vallekas, em Madrid, capital do reino espanhol.

Vallekas mantém ainda hoje as suas tradições antifascistas, num bairro com cerca de 300.000 habitantes. O bairro dos subúrbios madrilenos foi um importante espaço de resistência à ditadura de Franco, o que lhe valeu o apelido de "pequena Rússia". O orgulho de classe continua a ter uma marca profunda e tem o seu expoente nos adeptos do clube do bairro operário, o Rayo Vallecano. Os Bukaneros, claque do Rayo, são um grupo assumidamente antifascista e, na última Greve Geral, pagaram por isso. Como poderão ver nas imagens que ilustram o texto, os Bukaneros utilizam a curva, 'la grada', para enviar mensagens políticas e sociais, pelo que começam a ser incómodos para todos os poderes.



Espanha: estado opressor

Nos últimos tempos a repressão acentuou-se generalizadamente na Europa, particularmente no país vizinho. Das detenções arbitrárias no País Basco, às acusações de apologia ao terrorismo do poeta e rapper Pablo Hasel e do produtor Marc Hijo de Sam, que lhes valeram vários dias na prisão.

Na noite de 13 para 14 de Novembro, Alfonso Fernández, de 21 anos, saiu de casa com a namorada para participar num piquete de greve. Perto de casa foram ambos detidos e levados para uma esquadra sem motivo aparente. Seguiram-se interrogatórios por polícias de cara tapada, ameaças a familiares e, para surpresa do próprio, uma acusação de posse de explosivos, que pode resultar numa ena de prisão entre quatro e oito anos. E mais ameaças e pressão para uma autoconfissão.

Nas diligências efectuadas em casa de Alfon nada foi encontrado. Alfon serviu também de desculpa para uma invasão policial de um dos pontos onde os Bukaneros costumam reunir-se. E, mais uma vez, nada de incriminatório foi encontrado.


Acabar com os Bukaneros?

É convicção generalizada entre os membros dos Bukaneros que Alfon está a servir de bode expiatório para uma possível ilegalização do grupo de adeptos. Estes têm-se destacado na denúncia da corrupção do futebol moderno, contra os horários absurdos dos jogos do campeonato espanhol e os jogos do campeonato às quintas-feiras. Tudo a bem do interesse económico das televisões e das direcções dos clubes e contra o que o futebol deve ser: uma festa de adeptos para os adeptos.



Marcha proibida
Os Bukaneros, a IU, associações sindicais e movimentos sociais organizaram uma série de eventos de solidariedade, que culminariam com uma marcha, no dia 15 de Dezembro, até aos estabelecimento prisional onde está Alfon. A marcha foi considerada ilegal e acabou por não se realizar. Alfon estava proibido de efectuar telefonemas desde a quarta-feira anterior. Curiosamente, no sábado, a sua mãe recebeu um telefonema. Era Alfon. Avisava a sua mãe que, caso a marcha se realizasse, seria enviado para as Canárias... O direito de manifestação está ameaçado também em Espanha.



Alfon continua detido
Alfon está ainda hoje detido, em prisão preventiva. É o único detido em toda a Europa por eventos relacionados com a Greve Geral. Primeiro, devido a pressões de altas instâncias judiciais, o argumento utilizado era a possibilidade de fuga, que foi depois descartada. Agora, continua detido por, supostamente, ser uma ameaça à paz social. Todo o contacto que tem com familiares, amigos e mesmo advogados tem a presença de elementos policiais. O amigos que lhe escreveram para a cadeia estão a ser perseguidos e investigados pela polícia.


Silêncio mediático, UE calada
Parece incrível mas estamos a falar de um estado da União Europeia, que deveria ser o farol das liberdades e garantias dos seus cidadãos. Que não o é já todos sabemos. Só não estávamos habituados a que não o fosse tão descaradamente. Os media mainstream também não dão importância ao caso. Apenas blogs e redes sociais vão impedindo que este caso caia no esquecimento e que um jovem permaneça na cadeia por ter consciência de classe, por ser inconformado, por não se resignar.

Pablo Hasel, também ele ex-detido, fez este poema em homenagem a Alfon, onde consta também o testemunho da mãe do jovem.



Toda a informação aqui: LIBERTAD ALFON!
Também no Facebook: ALFON LIBERTAD!

Espero, em breve, ver nas curvas portuguesas uma tarja que seja a solidarizar-se com Alfon.

Partilha e divulga!

Adenda: entrevista com a mãe de Alfon:

(Reparem na música do genérico do programa)


segunda-feira, dezembro 17, 2012

Violência inqualificável*



Nos últimos tempos temos assistido a uma escalada de violência miserável. No concelho de Matosinhos, os duelos entre irmãos intensificam-se e ainda estamos a dez meses das eleições, com o trio Narciso-Guilherme-Parada a semi-apresentarem-se como candidatos à presidência da Câmara Municipal.

Narciso está mais ou menos resguardado, vai fazendo a sua campanha estratégica de só aparecer quando interessa. Já Guilherme Pinto e António Parada regressam a um registo que foi habitual no PS de Matosinhos e terminou tragicamente na lota.
Nas últimas três grandes iniciativas do PS de Matosinhos, seja o PS do actual presidente ou o PS do candidato Parada, o resultado foi péssimo.

Nas eleições para a concelhia houve de tudo, desde a vandalização de carros até insultos e outros mimos; seguiu-se a tristemente célebre reunião de Guifões, que teve o seu auge com a agressão a uma jornalista e a polícia no local para acalmar os nervos. Mais recentemente, um jantar de apoio a Guilherme Pinto terminou também com confrontos e a presença da polícia.

A luta pelo poleiro anda quentinha, mas o concelho merece melhor. Melhor que esta política, melhor que este tipo de política e melhor que estes protagonistas.

*Publicado, originalmente, na edição de dezembro do Notícias de Matosinhos

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Isto é Portugal


Clica na imagem para ver a reportagem - Na imagem, a jovem tem 19 anos e um filho de 16 meses. Todas as noites percorre, com o filho, 16 contentores do lixo à procura de roupas.


Ontem a RTP fez serviço público. Esta reportagem de 40 minutos é o reflexo de um país a que fechamos os olhos. Eu obrigaria todos a verem esta reportagem. Querem fazer cidadania? Vejam esta reportagem. E pensem. Não consigo escrever ou descrever mais sobre o que vi ontem.


A reportagem foi também ouvir Isabel Jonet. E cada um que tire as suas conclusões. Eu tirei as minhas e continuam a corroer-me por dentro:

Isabel Jonet: "Eu penso que é mais correcto falar-se em carências alimentares, porque há que relativizar até a situação que se passa nos países mais desenvolvidos e o que se passa nos países subdesenvolvidos, como África. E, portanto, temos que relativizar e falarem carências alimentares".

Jornalista: "Mas estas mães que encontrámos nas escolas falam-nos em fome..."

Isabel Jonet: "Pois, porque é tudo um olhar relativo sobre a situação que tinham previsto ter. Se for para África, há pessoas que não comem mais do que uma tigela de arroz por dia. De facto, esses têm fome. Há muitas famílias cá em Portugal que não têm uma refeição completa por dia. Há mutitos idosos, nomeadamente idosos, que vivem sozinhos, que não comem uma refeição completa todos os dias".

Jornalista: "Mas isso não é fome..."

Isabel Jonet: Isso não é fome. Mas são os idosos. No caso das crianças, todas aquelas crianças que podem ir às cantinas escolares ou que são apoiadas... que frequentam ATL, Instituições de Solidariedade Social, ATL, cheches, etc, é-lhes garantida uma refeição na, na , na insituição durante o dia. Muitas chegam a casa e já não jantam.

Jornalista: "Mas isso é uma carência alimentar, não é fome..."

Isabel Jonet: Não é. Eu acho que é uma carência alimentar.

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Soares no seu labirinto


Que me perdoe Gabo, que nem Soares é Bolívar, nem eu sou Gabo, mas o labirinto em que Mário Soares se move é digno de um romance. É um personagem dado a sentimentos extremos, de todos os quadrantes. Amado ou odiado. Dentro e fora dos vários PS, entre o que levantou Alegre e o que o apoiou com Sócrates. Soares tem debitado tudo o que lhe vem à cabeça seja na página cheia de caracteres que tem no DN, seja em entrevistas que, de vez em quando, vai dando por aí.

Nós temos esta coisa de condescender os mais velhos. Deve ser do fado. A culpa é do fado. "Abaixo o fado", já dizia Vasco Santana, n'A Canção de Lisboa. Nós temos, mas eu não gosto, nem condescendo. Soares tem demasiadas responsabilidades para que possa fazê-lo.

Ontem voltou a dar cartas numa entrevista à TVI24 e o que fica não é digno de quem foi Presidente da República durante dez anos, Primeiro-ministro e deputado no Parlamento Europeu, e, mais que isso, de alguém que terá combatido o fascismo de Salazar.

Dizer que "nem no tempo de Salazar viu tanta fome no país" é mentiroso. E perigoso. Não perigoso no sentido em que pode incendiar ainda mais os ânimos - para mim, o ponto de ruptura estará em 2013 -, mas no sentido de banalizar aquilo que foi o regime de Salazar. Soares acordou agora de um sono profundo da era Sócrates, em que os amanhãs cantavam e o país prosperava, mas isso não pode dar-lhe o direito de dizer tudo.

Não nos equivoquemos: eu tenho tanta simpatia por este governo como Mário Soares. É, de facto, um governo criminoso, económica e socialmente, a miséria é real e aprofunda-se diariamente. Hoje mesmo, com a indemnização por despedimento a baixar para 12 dias por ano de trabalho. Ou seja, quando se pretende baixar a despesa com as funções sociais do Estado, empurram-se as pessoas para essa dependência.

Soares não se lembra de não haver gente sem dinheiro para o pão no tempo de Salazar, como não se lembrará do que significou para o país a entrada na UE e o fim de tudo o que era produção nacional. Mais grave, Soares não se lembra de que era Primeiro-ministro nas duas anteriores intervenções do FMI em Portugal, em 1977 e 1983. Na altura, como hoje, o que existiu foram redução de salários, subida de impostos, cortes no subsídio de Natal, entre outras medidas que hoje já não nos parecem estranhas. O que foi a fome em todo o país e particularmente na península de Setúbal naqueles anos.

Soares faz agora o papel de Alegre com Sócrates. A diferença é que o PS não está no poder e não quer eleições, particularmente num ano como 2013. Não quer porque tem Seguro e Seguro não é visto como um líder, e António Costa, ao recandidatar-se a Lisboa, parece estar mais interessado em ser Presidente da República do que líder do PS para candidato a Primeiro-ministro; não quer porque é um ano de autárquicas e as lutas internas pelo poder em cada quintal vêm ao de cima.

Então, para que serve o palavreado de Soares se não é escutado dentro do seu próprio partido?

Se é certo que temos de olhar em frente, não podemos esquecer o que está para trás na história recente do país. E os vários PS, incluindo o de Soares, não estão isentos de culpas.

Soares está cansado e nós estamos cansados de Soares.

O miúdo veste o quê?


O Tiago já deixou aqui uma compilação dos artigos dedicados pelos opinadores do Expresso ao XIX Congresso do PCP. Se as respostas dadas por mim e pelo Francisco respondem ao Daniel Oliveira e ao Henrique Monteiro, vi hoje um novo artigo relacionado com o Centro de Trabalho Vitória.

Com o sugestivo título "O PCP veste Prada... e Gucci!", o miúdo ali em cima, de nome João Lemos Esteves, debita uma série de lugares-comuns e factos errados que, tendo em conta o facto de escrever num blog do Expresso, poderá valer-lhe um grande futuro no grupo de Balsemão.

Por pontos, o escriba dedica-se a especular sobre os comunistas; o que são, os seus Centros de Trabalho, como vivem e o que vestem. Vamos, assim, responder ponto por ponto.

Ponto 1 - "As crenças de criança" estão em todo o artigo. O autor ignora o facto de o PCP, quando adquire um imóvel, não poder controlar a vizinhança. É mais ou menos como nos blogs. Eu não controlo, e ainda bem, porque me divertem, os disparates que se escrevem noutros blogs. O "partido marginal" no panorama político e social é mais uma "crença de criança" do miúdo.

Ponto 2 - O PCP convive na Avenida da Liberdade com quem passou a existir ao seu lado. Sem qualquer preconceito que os preconceituosos anti-comunistas acham que os comunistas têm. Ao "luxuoso edifício" iremos mais à frente.

Ponto 3 - O miúdo acha que os Centros de Trabalho do PCP não devem ter televisão, menos ainda Sport TV. Pode parecer-lhe estranho, mas os Centros de Trabalho do PCP até têm - imagine-se - computadores com internet! Os Centro de Trabalho que reúnem condições para tal são espaços onde os militantes e não-militantes convivem. Não, ao contrário do que pensa o miúdo, a vida dos comunistas não se resume ao Partido. Até porque o Partido está em tudo o que os seus militantes fazem. No futebol também. Pode passar pela Catedral da Luz e por lá verá artigos de comunistas sobre - espante-se - futebol.

Ponto 4 - O miúdo delira.

Ponto 5 - O miúdo gostava que assim fosse.

Ora, voltando ao CT Vitória, a ignorância do miúdo é algo de tão atroz que serve para explicar tudo o mereceu ser replicado acima - pontos houve que só existem na cabeça do autor. Assim, aqui fica para informação:

Adquirindo o edifício em 1984 (graças à campanha «60 mil contos para o Vitória»), o PCP empreendeu desde então diversas obras de recuperação e reintegração do edifício no seu desenho original, bastante degradado sobretudo a partir dos anos 60. Nas obras dos anos 80 é feito um restauro de toda a fachada, repondo a pala circular sobre a entrada, que fora destruída, e reconstruindo a pérgola do terraço, que ruíra no sismo de 1969. Nas obras dos anos 90 todo o piso térreo é recuperado na base dos elementos decorativos de origem. Com a passagem a Centro de Trabalho Vitória o edifício não só ganhou uma nova e intensa vida, como recuperou toda a dignidade de um dos mais singulares edifícios da cidade de Lisboa.

Ou seja, no PCP não há Somagues, Modernas, sobreiros, submarinos, financiamentos que passam pelo Brasil, Tecnoformas, etc. O PCP votou contra a Lei dos Partidos por entender que estes devem viver através da militância e empenho dos seus membros, com receitas próprias.

Por fim, alguém diga ao miúdo que o PCP não só tem um Centro de Trabalho na Avenida da Liberdade, em Lisboa, como tem outro na Avenida da Boavista, no Porto, e, pasme-se, uma quinta na Amora!

Aprender, aprender... sempre!

O Daniel não percebe

O Daniel Oliveira, que era há uns tempos a vanguarda da esquerda livre e democrática na blogosfera, não percebe como é que o PCP pode começar um congresso a uma sexta-feira, sendo um dia de semana. Ou melhor, percebe e conclui:

"Só de uma forma: se uma parte significativa desses delegados trabalharem para o partido, forem eleitos para cargos políticos com disponibilidade a tempo inteiro ou forem assalariados de organizações que lhe são próximas".

Há muita coisa que o Daniel Oliveira não percebe, mas, centrando-me apenas nesta, eu explico:

É possível começar com o exemplo da Festa do Avante!. Como podem os comunistas construir uma evento político, cultural, artístico daquela dimensão? Pela lógica do Daniel, seria através de funcionários do Partido ou de organizações que lhe são próximas. Qualquer pessoa que conheça a Festa do Avante! sabe que tal seria impossível. Então, como se faz?

Chama-se militância. É encarado como dever dos comunistas logo que aceitam o Programa e Estatutos do Partido. Eu utilizo dias de férias para ajudar a construir a Festa do Avante!, como fazem centenas de outros camaradas meus. Da mesma forma, muita gente utilizou um ou mais dias de férias para poderem estar no XIX Congresso.

Parecerá estranho ao Daniel que o tempo de cada um seja utilizado da forma que pretende, no caso, para participar num acto de cidadania que é a militância política activa?

Explica-se assim, de forma simples, uma mentira absoluta tida como verdade certa pelo Daniel.

Já agora, como foi possível organizar tantas assembleias e reuniões para que fossem discutidos o programa, estatutos e teses? Eu explico também. Por milhares de trabalhadores, estudantes, reformados que consideram importante estar na discussão do que queremos que seja o Partido.

Não era preciso ser muito inteligente para perceber isto. Mas estamos a falar do Daniel Oliveira.

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Em stereo

Desde a semana passada que estou em stereo no Artigo 58.  Os artigos serão publicados também aqui, logo que seja possível.