Consta que não é aceitável, legítimo, democrático, um atentado à liberdade de expressão. Um mau exemplo, ao que parece, que os dois últimos protestos não foram realizados em locais apropriados.
Parece que o melhor Povo do mundo passou a ser, outra vez, como nos anos da governação de Sócrates, o PCP. Percebe-se o incómodo de Santos Silva, o que gosta de malhar na esquerda, no PCP, e de Assis, ex-líder parlamentar do PS. Eles próprios viram do que o melhor Povo do mundo é capaz e saíram, entregando o país ao PSD-CDS e FMI, três dias depois de os banqueiros terem dito que era preciso "ajuda" externa. Eles assinaram o memorando, PSD e CDS colocaram-no pior do que já era. E continuam sem perceber que o melhor Povo do mundo já não aguenta mais, ao contrário do que diz o amigo Ulrich.
Por um lado, o PSD já teve a sua Beatriz Talejón em Duarte Marques - dois farsolas - que se até se manifestou aquando da "Geração à Rasca". Era preciso sair à rua com os jovens. No ano passado, a foi a vez de a Juventude Socialista sair à rua, na primeira manifestação do movimento Que Se Lixe a Troika. É também a isto que deve chamar-se alternância democrática, em versão protesto.
Sejamos objectivos: a constante desvalorização das enormes manifestações que se verificaram em Portugal nos últimos anos levam a lutas mais contundentes. O que ouvíamos do governo do PS é o mesmo que ouvimos do governo PSD-CDS. "As manifestações são um direito democrático", ponto. É isto que retiram de milhares de pessoas que se manifestam. Mas prosseguem o saque.
O Povo não quer esta política nem este governo. E podem apresentar as sondagens que quiserem. Façam sondagens à porta dos centro de emprego. Façam uma com os milhares de jovens e não só que estão desempregados, com os que emigraram, com os trabalhadores precários, com quem viu a sua reforma roubada, com os que viram as suas pensões reduzidas, com os que não podem pagar taxas moderadoras, com os pais das crianças que desmaiam com fome, com todos os que sofrem com o caminho de miséria para onde aquela gente nos empurra.
Com a posição demonstrada por Assis e Santos Silva, o PS prova que aprendeu nada. Distanciar-se destes protestos mostra que continua a não ser alternativa e apenas alternância. E alguns incomodam-se mesmo com a Grândola. Talvez porque saibam que Zeca Afonso tinha intervenção política na música e fora dela e que, hoje, o que fazem os que protestam não é homenageá-lo, é defendê-lo. Para que viva. Para que viva sempre.
Fica um excerto da entrevista de Zeca Afonso à RTP, em 1984, tão actual. E é também por isto que o Zeca os assusta tanto:
"Os jovens, e eu digo os jovens de todas as classes, estão um pouco à mercê de um sistema que não conta com eles - que hipocritamente fala deles. O 25 de Abril não foi feito para esta sociedade, para aquilo que agora estamos agora a viver. Aqueles que ajudaram a fazer o 25 de Abril, não só aqueles que o fizeram, imaginaram uma sociedade muito diferente da actual, que está a ser oferecida aos jovens.
Os jovens deparam-se problemas tão graves, ou talvez mais graves do que aqueles que nós tivemos que enfrentar, o desemprego, por exemplo, e por vezes não têm recursos, o sistema ultrapassa-os, o sistema oprime-os, criando-lhes uma aparência de liberdade.
Eu creio que a única atitude foi aquela que nós tivemos, nós refiro-me à minha geração, de recusa frontal, recusa inteligente, se possível até pela insubordinação, se possível até pela subversão, do modelo de sociedade que lhes está a ser oferecido, com belos discursos, com o fundamento da legalidade democrática, com o fundamento do respeito pelos cidadãos, pelos direitos dos cidadãos, é, de facto uma sociedade teleguiada de longe por qualquer FMI, por qualquer deus-banqueiro que é imposta aos jovens de hoje.
Tal como nós, eles têm que a combater, que a destruir, que a enfrentar com todas as suas forças, organizando-se para criarem a sociedade que têm em mente que não é, com certeza - estou convencido - a sociedade de hoje".
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