Quando for grande quero ser bombeiro, polícia, médico, futebolista. Era assim, pelo menos no meu tempo e, com ele, tudo muda. A ideia que tenho é que já não há profissões. Há formação focalizada em determinadas áreas, mas já ninguém é coisa alguma, excepção feita a uma elite que preenche jornais, rádios e televisões.
Esses são tudo e mais alguma coisa. Ganharam até o estatuto de especialistas. Há especialistas em futebol, economia, finanças, médio oriente, avançado oriente, extremo oriente, direito, torto, inclinado e tudo o mais que possa imaginar-se. São precisamente estes senhores e senhoras que roubam espaço à notícia.
Os dias de hoje querem fazer crer que já não precisamos de pensar, porque temos quem pense por nós. Não me refiro a programas específicos de opinião, legítimos, pois claro, mesmo quando a opinião é a mesma por palavras diferentes. Refiro-me ao espaço da notícia, que é cada vez menor, para ceder o lugar a tudo o que é especialista. De há uns anos a esta parte, os media encheram-se com opinião; mais grave ainda: com a mesma opinião. E a notícia, a reportagem, a proximidade entre consumidores de informação e o dever de informar - não dos jornalistas, mas dos órgãos - foi-se perdendo no meio de vaidades e interesses que valem os 15 minutos de fama ou os 2cmx2cm de foto na folha do jornal, com os devidos títulos honoríficos no final da prosa.
E nós, a massa bruta, engolimos a sabedoria que os "sotôres" nos servem de bandeja, porque pensar está fora de moda. Aliás, pensar sempre foi um perigo. Desde sempre que pensar pode ser sinónimo de perceber. E perceber pode ser das coisas mais perigosas que há.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
segunda-feira, setembro 20, 2010
Quando for grande quero ter espaço
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