segunda-feira, janeiro 24, 2011

Esquerda a qualquer preço?

Pode, Nuno, claro que se pode mudar a esquerda. Para sermos verdadeiros e objectivos, ao longo dos anos, só a esquerda é que mudou. Na forma como aprendeu com erros - e houve alguns - ao longo da história, como avalia o mundo, como o interpreta, como pretende mudá-lo. O mesmo não pode dizer-se da direita, que mantém hoje, como ontem, os mesmos objectivos de sempre. O capital apátrida concentrado num punhado de gente e conquistado à custa dos povos e dos trabalhadores, da manipulação da verdade e da mentira.
Acredito convictamente que a esquerda há-de ser poder e veremos todos como teremos um mundo melhor, mais justo e solidário, mais fraterno e mais igual. Já não acredito, nem quero, é que o consiga a qualquer custo, sem princípios nem coerência, sem lealdade e sem objectivos claramente definidos.

A esquerda é a verdade, tem de representar a verdade e a honestidade intelectual. De outro modo, nunca será esquerda, ou sê-lo-á apenas nas páginas de jornais dedicadas a uma esquerda que vende bem. Em Portugal, nos dias de hoje, o apelo a uma união de esquerdas implicaria por si só o fim das esquerdas. Falando por mim, que jamais estaria ao lado de um projecto com alguém que tem este baixo nível intelectual ao falar da esquerda com que me identifico. Por um motivo óbvio: eu defendo o meu projecto de esquerda e não outro, é por ele que luto e que procuro mobilizar e esclarecer mais e mais gente.

Também seria necessário saber o que querem ao certo as outras esquerdas. No caso do BE, o que quer o BE? Quer a solidariedade internacionalista que até enviou o Soeiro à Grécia para acompanhar a contestação social, ou quer o apoio às medidas de austeridade para aquele país que votou na AR? O que se retira daqui? Qual é projecto para além do folclore?

E no PS quem será de esquerda? Quem haverá naquele partido que suporta o Governo que seja de esquerda e que entenda os cortes salariais, que entenda a redução na fórmula de cálculo das indemnizações por despedimento? Quem restará de esquerda e apoie um partido que, de Soares a Sócrates, desgraçou o país e fez nem mais nem menos aquilo que fariam PSD e CDS? A grande diferença, é que a esquerda tem as costas largas. E a cobro dela o PS desfez grande parte das conquistas de Abril.

A esquerda será poder quando o povo quiser ser esquerda. E não é a esquerda que tem de ser menos esquerda para que o povo assim queira. O trabalho de um militante de esquerda faz-se nas escolas, nos locais de trabalho, nos cafés e na web, com a apresentação de soluções alternativas, contra as fatalidades que nos impõem e a favor da verdade.

O problema da verdade é que, às vezes, é demasiado dura para que alguém queira ouvi-la. A esquerda, sendo a verdade, também. Mas a luta continua, sempre.

2 comentários:

salvoconduto disse...

Este texto contrasta no meio da lamúria geral.

Dele destaco esta frase chave: "A esquerda será poder quando o povo quiser ser esquerda. E não é a esquerda que tem de ser menos esquerda para que o povo assim queira."

Ao trabalho, que nas condições actuais será ainda maior ou será que mesmo com resultados mais favoráveis seria menor?

Ricardo M Santos disse...

Oh camarada, "sendo que nós sempre fomos, seremos cada vez mais"!