quarta-feira, outubro 12, 2011

O ponto do i*


O i surgiu há uns tempos não só como um novo jornal, mas como um jornal novo. Num formato pouco tradicional, até já ganhou prémios internacionais de design, que devem orgulhar todos os que lá trabalham.
Mais tarde, o i acabou vendido e com nova direcção, também editorial. Perdeu a linha recta e desviou-se para a direita mais retrógrada, sob a tutela de António Ribeiro Ferreira, que nas últimas semanas se tem entretido em insultos e calúnias a tudo o que se assemelha com sindicatos e movimentos de trabalhadores.
Há dias, o ex-colunista do Correio da Manhã, onde assinava a crónica “Diário da Manhã”, um título bem elucidativo do que sai daquela cabeça e escorre até aos dedinhos com que bate no teclado, decidiu que “é preciso partir a espinha aos sindicatos”.
Ribeiro Ferreira gasta toda a sua crónica caricaturando os pançudos sindicalistas, acomodados a qualquer coisa que o cronista deve achar mordomias – e só o que vai dentro daquela cabeça poderá explicar.
Na verdade, Ribeiro Ferreira faz de ponto da sociedade, soprando-lhe aos olhos aquilo que o guião indica: contra os sindicatos, pela inevitabilidade da crise, pelo fim dos direitos adquiridos pelos trabalhadores. Ora, mas em todas as peças de teatro há espaço para o improviso, como bem se vê no filme “Pai Tirano”, filmado na década de 40 – tempos que serão de boa memória para o colunista.
Por vezes, o actor, que neste caso é colectivo, surpreende encenadores, pontos e outros que tais, e sai do guião, transformando a peça em algo bem mais interessante, dependendo do contexto. Pode ser que assim seja. Da minha parte, espero que sim.
E já que estamos numa de teatros, é melhor ter cuidado. Não vá o povo, em vez de partir a espinha aos sindicatos, começar a distribuir “pancadas de Molière”.

*Publicado originalmente na edição de Outubro do jornal Notícias de Matosinhos.

1 comentário:

lp16 disse...

Excelente artigo..
Keep on keepin'on!