O i surgiu há uns tempos não só como um novo jornal, mas
como um jornal novo. Num formato pouco tradicional, até já ganhou prémios
internacionais de design, que devem orgulhar todos os que lá trabalham.
Mais tarde, o i acabou vendido e com nova direcção, também
editorial. Perdeu a linha recta e desviou-se para a direita mais retrógrada,
sob a tutela de António Ribeiro Ferreira, que nas últimas semanas se tem
entretido em insultos e calúnias a tudo o que se assemelha com sindicatos e
movimentos de trabalhadores.
Há dias, o ex-colunista do Correio da Manhã, onde assinava a
crónica “Diário da Manhã”, um título bem elucidativo do que sai daquela cabeça
e escorre até aos dedinhos com que bate no teclado, decidiu que “é preciso
partir a espinha aos sindicatos”.
Ribeiro Ferreira gasta toda a sua crónica caricaturando os
pançudos sindicalistas, acomodados a qualquer coisa que o cronista deve achar
mordomias – e só o que vai dentro daquela cabeça poderá explicar.
Na verdade, Ribeiro Ferreira faz de ponto da sociedade,
soprando-lhe aos olhos aquilo que o guião indica: contra os sindicatos, pela
inevitabilidade da crise, pelo fim dos direitos adquiridos pelos trabalhadores.
Ora, mas em todas as peças de teatro há espaço para o improviso, como bem se vê
no filme “Pai Tirano”, filmado na década de 40 – tempos que serão de boa
memória para o colunista.
Por vezes, o actor, que neste caso é colectivo, surpreende
encenadores, pontos e outros que tais, e sai do guião, transformando a peça em
algo bem mais interessante, dependendo do contexto. Pode ser que assim seja. Da
minha parte, espero que sim.
E já que estamos numa de teatros, é melhor ter cuidado. Não
vá o povo, em vez de partir a espinha aos sindicatos, começar a distribuir “pancadas
de Molière”.
*Publicado originalmente na edição de Outubro do jornal Notícias de Matosinhos.
*Publicado originalmente na edição de Outubro do jornal Notícias de Matosinhos.
1 comentário:
Excelente artigo..
Keep on keepin'on!
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