Fui ontem alertado para o facto de ter surgido no facebook da Câmara Municipal de Matosinhos uma nota com o título "Matosinhos é uma das cidades menos poluídas do país". Primeiro não acreditei, depois fui verificar, depois confirmei. A nota existe mesmo e é parte, sim, só parte, de um estudo da Organização Mundial de Saúde que decorreu em 2008, contabilizando mais de 1.100 cidades de todo o mundo.
Quem vive no concelho sabe bem que o estudo pode ter vários méritos, mas há em Matosinhos o pequeno detalhe da refinaria de Leça da Palmeira. Uma pesquisa, que nem precisa de ser muito profunda revela várias questões:
As cidades consideradas pela OMS foram Lisboa, Maia, Funchal, Braga e Matosinhos, tendo sido submetidas a vários critérios. Começando por aqui, parece-me abusivo, a mim, que percebo pouco destas coisas, dizer que Matosinhos é uma das cidades menos poluídas do país, quando apenas cinco foram consideradas.
Num dos parâmetros, apresenta 23 microgramas por metro cúbico (m3) no que diz respeito ao nível de partículas poluidoras do ar, designadas por PM10 (partículas em suspensão com diâmetro menor do que dez milésimos de milímetro). Sendo assim, Matosinhos - a cidade ou o concelho? -, é realmente a menos poluída das cinco consideradas, segundo os dados de 2008. No entanto, o limite máximo considerado pela OMS é de 20 microgramas por metro cúbico, ficando nós acima do desejado. E não me parece que comparar o nosso nível de poluição com o de Tóquio - sim, se lerem a nota da CMM esta fá-lo - seja propriamente algo de positivo. É que Tóquio tem cerca de 8.340.000 habitantes, o município de Matosinhos, e não a cidade, tem algo a rondar os 175.000.
Para confirmar o que melhor a CMM divulga, fui à notícia do Público, de 27 de Setembro, onde outro pequeno detalhe atrai a atenção. No artigo, é referido que no que respeita às PM2,5 (partículas em suspensão com diâmetro menor do que dois milésimos
de milímetro e meio), apenas foram analisadas as cidades de Lisboa, Funchal e Maia.
Curiosamente, estas partículas, PM2,5 são, segundo o Público, aquelas que surgem através da queima da madeira, consumo de derivados do
petróleo e tráfego automóvel. E parece-me que a Jomar ainda não fechou e a Petrogal continua a refinar.
Voltando à nota, a CMM omite a questão destas últimas partículas. Mais: no comunicado remete para a página da Agência Portuguesa do Ambiente. No entanto, nenhuma das cinco estações de medição da qualidade do ar de Matosinhos controla as PM2,5, teoricamente aquelas que mais afectam quem vive no concelho.
Posto isto, a CMM continua a insistir em fazer-me de burro. E eu continuarei a exigir que, se me querem burro, pelo menos que me ponham uma albarda.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
terça-feira, outubro 04, 2011
Respirar em Matosinhos
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