Caro senhor Khalifa:
Escrevo-lhe a partir de Leça da Palmeira para dar-lhe os parabéns pela escolha do Qatar para organizar o Mundial de 2022. Saúdo particularmente o facto de a generalidade da Imprensa não ter condenado a atribuição de tal evento a um país como o que V. Ex.ª tão democraticamente dirige, ao contrário do que aconteceu com os Jogos Olímpicos na China. Mas certamente que nos dez anos que nos separam do evento contará com uma onda de indignação patrocinada pela Amnistia Internacional, até agora tão sossegada.
Certamente que o facto de o país de V. Ex.ª ter petróleo e gás natural até dar c'um pau é mera coincidência, mesmo estando nós a falar de um país onde não há leis, para além da Lei de V. Ex.ª, regendo-se por uma Constituição provisória desde 1970, onde não são permitidos partidos políticos ou eleições. Confesso que me faz um bocadinho de espécie V. Ex.ª não permitir o amor através do rabinho, mesmo entre adultos e por mútuo consentimento. O amor não deve ser condicionado, seja sob que forma for.
Caro Khalifa, pá - vamos tornar isto um bocadinho mais pessoal, seu democrata -, apesar de seres dono e senhor de um país que está um bocadinho acima do Irão no Índice Democrático, safas-te por seres mais aberto que os vizinhos da Arábia Saudita. Ainda por cima não fazes parte do Eixo do Mal, seu sortudo, mesmo patrocinando o Hamas em 50 milhões de dólares.
Digo-te já que se não alterares aquela lei que controla o acesso ao álcool vais ter sérios problemas com os amantes do futebol. Isto para não falar no mulherio que por lá andará a pecar como se não houvesse amanhã. Por falar nisso, acho que devias reconsiderar a construção do Estádio Al-Khor, que tem a forma de, vá lá, uma pombinha. Ou de uma vagina, pronto, esse ponto do pecado que as mulheres transportam de um lado para o outro como se fosse delas.
Sei que vais construir 12 novos estádios e foi esse motivo que me levou a escrever-te. Temos em Portugal cinco estádios semi-novos que podes levar para a tua terrinha. Coimbra, Leiria, Faro, Bessa, Aveiro estão praticamente novos e por utilizar. Deste modo, pouparias umas esmolas com o pessoal que vai para o teu país com promessas de enormes salários mas que chega aí e é xulado à força toda.
Posto isto, tens sorte em não ser chinês e em não te afirmares comunista. Não procurei fotos tuas mas terás certamente uns lindos olhos, para que ainda, e apesar de tudo isto, não tenhas sido crucificado na praça pública. Crucificado sem ofensa, claro.
Fico a aguardar resposta ASAP.
Teu,
RMS
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
segunda-feira, dezembro 27, 2010
quinta-feira, dezembro 23, 2010
Agora a sério, feliz natal
As notícias de que os portugueses gastam milhares de milhões são cíclicas. Normalmente, aparecem por altura do Natal, juntamente com estudos que dizem que comer como se não houvesse amanhã não faz mal, o chocolate emagrece, o bolo-rei tem pouco açúcar e por aí fora.
Centrando-me no primeiro tema, seria interessante saber quanto é que os portugueses movimentam nos outros meses do ano; por outro lado, seria ainda mais curioso perceber quantas das pessoas não aproveitam o subsídio de natal - os que ainda o têm - para pagar contas que ficaram em atraso durante o resto do ano. De outro modo, tenho todo o direito e mais algum de achar que é uma notícia filha da puta, que visa atirar areia para os olhos dos portugueses, fazendo-os crer que os vizinhos não sofrem com a crise.
Por falar em crise, anda por aí um senhor famoso por causa do bolo-rei que se vangloria de ter concedido aos pensionistas o 14.º mês. Ora, convém dizer que faz tanto sentido dizer uma coisa destas, como dizer que foi Cavaco que permitiu o associativismo na PSP, por exemplo. Uma coisa como a outra não foram benesses, foram fruto de muitas e muitas lutas de milhares de trabalhadores que não se resignaram e fizeram valer a sua vontade.
O mesmo senhor, que afirma nada ter a ver com o BPN, ajudou o governo do PS a oferecer ao BPN mais do dobro do valor disponibilizado por Sócrates para combater a crise. Dos 2,2 mil milhões de euros disponibilizado, um terço foi para o sector bancário e o tremendo 1 por cento ficou para o apoio ao emprego. Portanto, quem criou a crise é ajudado; quem a paga, que se foda.
E quem a paga somos todos nós, incluindo aqueles a quem roubaram 15 euros no salário de Janeiro, incluindo estas trabalhadoras da Eurest, despedidas e/ou com processos disciplinares, por, imagine-se, levarem para casa restos de comida. Refira-se que a Eurest é propriedade do Compass Group, que apresentou, em 2010, os seguintes resultados:
"We have delivered another year of strong performance, despite the challenging economic conditions, with record operating profit of over £1 billion and a return to organic revenue growth. Our ongoing focus on operational efficiency has enabled us to both invest in future growth and deliver another increase in the margin of 40 basis points".
Percebe-se, portanto, que a Eurest não possa pagar aos seus empregados de forma a que não tenham de levar sobras para casa. Ou então são só uns filhos da puta.
Fiz questão* de escrever aqui, com as letras todas, o que me apeteceu, como também me apetece mandar para a grande puta que pariu os senhores, sejam eles quem forem, que decidiram censurar o Zeca, numa alegada homenagem, porque acham que "merda" é feio.
Posto isto, continuemos a luta, sem que tenhamos de chegar ao desespero.
Feliz natal.
* tenho um leitor!
Centrando-me no primeiro tema, seria interessante saber quanto é que os portugueses movimentam nos outros meses do ano; por outro lado, seria ainda mais curioso perceber quantas das pessoas não aproveitam o subsídio de natal - os que ainda o têm - para pagar contas que ficaram em atraso durante o resto do ano. De outro modo, tenho todo o direito e mais algum de achar que é uma notícia filha da puta, que visa atirar areia para os olhos dos portugueses, fazendo-os crer que os vizinhos não sofrem com a crise.
Por falar em crise, anda por aí um senhor famoso por causa do bolo-rei que se vangloria de ter concedido aos pensionistas o 14.º mês. Ora, convém dizer que faz tanto sentido dizer uma coisa destas, como dizer que foi Cavaco que permitiu o associativismo na PSP, por exemplo. Uma coisa como a outra não foram benesses, foram fruto de muitas e muitas lutas de milhares de trabalhadores que não se resignaram e fizeram valer a sua vontade.
O mesmo senhor, que afirma nada ter a ver com o BPN, ajudou o governo do PS a oferecer ao BPN mais do dobro do valor disponibilizado por Sócrates para combater a crise. Dos 2,2 mil milhões de euros disponibilizado, um terço foi para o sector bancário e o tremendo 1 por cento ficou para o apoio ao emprego. Portanto, quem criou a crise é ajudado; quem a paga, que se foda.
E quem a paga somos todos nós, incluindo aqueles a quem roubaram 15 euros no salário de Janeiro, incluindo estas trabalhadoras da Eurest, despedidas e/ou com processos disciplinares, por, imagine-se, levarem para casa restos de comida. Refira-se que a Eurest é propriedade do Compass Group, que apresentou, em 2010, os seguintes resultados:
"We have delivered another year of strong performance, despite the challenging economic conditions, with record operating profit of over £1 billion and a return to organic revenue growth. Our ongoing focus on operational efficiency has enabled us to both invest in future growth and deliver another increase in the margin of 40 basis points".
Percebe-se, portanto, que a Eurest não possa pagar aos seus empregados de forma a que não tenham de levar sobras para casa. Ou então são só uns filhos da puta.
Fiz questão* de escrever aqui, com as letras todas, o que me apeteceu, como também me apetece mandar para a grande puta que pariu os senhores, sejam eles quem forem, que decidiram censurar o Zeca, numa alegada homenagem, porque acham que "merda" é feio.
Posto isto, continuemos a luta, sem que tenhamos de chegar ao desespero.
Feliz natal.
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Natal
Há duas alturas do ano que não suporto: uma é o Natal, a outra é o Natal outra vez. Fica tudo maluco à procura de presentes e mais presentes, até para aqueles que estão ausentes, mais os telefonemas de ocasião, mais os postais, mais os mails, mais os postais dentro dos mails.
Não há maior hipocrisia que o Natal, mais a merda das campanhas para dar esmolas a quem tem de sobreviver o ano inteiro, muito para além da noite de 24 para 25 de Dezembro, sem contar com as outras campanhas, que dão esmolas a troco de 50% nos lucros, mais os sms, mais o resto todo. Mais as luzinhas nas ruas e o boneco da Coca-Cola a subir pelas paredes e o menino jesus de olhos em bico nas janelas.
Sou oficialmente contra o Natal. Encerrem-me, pronto.
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quinta-feira, dezembro 16, 2010
De despedimento em despedimento, até ao despedimento final!
Soubemos ontem pelo patrão dos patrões que, umas horas mais tarde, o Conselho de Ministros aprovaria 50 novas medida de combate à crise. A UGT não desgosta da coisa, que inclui um valor máximo para o valor das indemnizações aos trabalhadores despedidos.
É preciso saber quem manda em quê e em quem.
É preciso saber quem manda em quê e em quem.
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segunda-feira, dezembro 06, 2010
segunda-feira, novembro 29, 2010
(Des)Pudor local - um conto completamente saído da minha imaginação fértil
Era uma vez uma freguesia fictícia que existe junto ao mar, com um rio que lhe dá nome. Nessa freguesia, como em todas as outras, há o poder local, que vai gerindo a coisa ao som de música pimba e porco assado, tudo bem medido a trote de cavalos, ali para os lados de uma zona esquecida.
Naquela freguesia, havia um presidente da Junta que vamos designar por, sei lá, PS. Ora, o PS era um presidente zeloso, atento às novas tecnologias e sempre muito próximo dos cidadãos. Tão próximo que tinha grupos de acompanhamento para tudo e mais alguma coisa. Entre eles, estava o das colectividades da freguesia, que reúnem periodicamente para discutir assuntos relacionados com as actividades de cada uma.
Nesses encontros discutem-se coisas tão importantes como museus para colecções de carrinhos em miniatura. Sempre com vista a acompanhar de perto tudo o que as colectividades vão fazendo, PS fez questão de relembrar às colectividades que aquelas que não estivessem presentes nas reuniões seriam lembradas - ou esquecidas - quando, no final do ano, chegasse a altura de distribuir os subsídios.
E era assim, que se ia passando a vida política nesta freguesia completamente imaginária, que nada tem a ver com este post ou com este comentário.
Fim.
Naquela freguesia, havia um presidente da Junta que vamos designar por, sei lá, PS. Ora, o PS era um presidente zeloso, atento às novas tecnologias e sempre muito próximo dos cidadãos. Tão próximo que tinha grupos de acompanhamento para tudo e mais alguma coisa. Entre eles, estava o das colectividades da freguesia, que reúnem periodicamente para discutir assuntos relacionados com as actividades de cada uma.
Nesses encontros discutem-se coisas tão importantes como museus para colecções de carrinhos em miniatura. Sempre com vista a acompanhar de perto tudo o que as colectividades vão fazendo, PS fez questão de relembrar às colectividades que aquelas que não estivessem presentes nas reuniões seriam lembradas - ou esquecidas - quando, no final do ano, chegasse a altura de distribuir os subsídios.
E era assim, que se ia passando a vida política nesta freguesia completamente imaginária, que nada tem a ver com este post ou com este comentário.
Fim.
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sexta-feira, novembro 26, 2010
Vem aí o mês do horror
Vem aí o mês das campanhas e não é de Janeiro que estou a falar, das presidenciais, se é que alguém se lembra disso, porque entre candidatos que acordam com passarinhos no dia da Greve Geral e o outro cadáver que ocupa o cargo, parece não existir mais nenhum, pelo menos de acordo com os media.
Falo do mês de Dezembro, das Leopoldinas, das Popotas, dos ursinhos, dos porta-chaves, dos lacinhos e dos pins para apoiar tudo e mais alguma coisa que nos pese na consciência durante os dias em que damos com o boneco da Coca-Cola a trepar pelas janelas e varandas.
Depois pode tudo voltar ao normal, que estamos todos a cagar-nos para isso. Ou então aderimos a uma causa fofinha no Facebook e dormimos melhor durante uns dias.
Há ainda o livro de uma campanha qualquer de apoio aos desgraçadinhos que custa dois euros. Um deles fica para a cadeia de hipermercados. Ou seja, eu, o cidadão comum, contribuo com 100 por cento do valor do livro para uma causa solidária, mas o grupo económico só dá metade desse valor à instituição. Faz todo o sentido, tendo em conta a "solidariedade" praticada por esta gente.
Belmiro de Azevedo é um dos que alinha na palhaçada, claro, que sempre dá para fazer de conta que tem uma gota de solidariedade social. No entanto, será que Belmiro de Azevedo alguma vez pensa que tem trabalhadores seus que vão depois recorrer às ajudas que o próprio patrão oferece? Não faria mais sentido aumentar o salário dos seus trabalhadores para que estes não tivessem de recorrer a ajudas de outras instituições para que consigam sobreviver?
Não, não faria, por isso é que Belmiro de Azevedo, cheio de preocupações, começou a contratar trabalhadores - deve ser deste tipo de emprego quando se fala na abertura de hipermercados ao domingo: (...) os felizardos entraram ao serviço no passado dia 6 de Novembro e têm contrato até 24 de Dezembro de 2010. O pagamento, esse, será feito mediante recibo verde ou acto único, mas só a partir de 15 de Janeiro de 2011. Quanto ao salário, não tem mistérios: cada contratado recebe 12€ por turno, e cada turno tem cinco horas. Feitas as contas, apura-se que o salário/hora é de 2,4€, ou seja inferior aos 2,7€ que resultam do salário mínimo nacional. Acresce que os trabalhadores assim distinguidos com a oferta de emprego Sonae têm apenas um dia de descanso por semana, não recebem o subsídio de refeição em vigor na empresa, e não recebem trabalho nocturno apesar de um dos «turnos» terminar às 24 horas.
Posto isto, viva o Natal!
Falo do mês de Dezembro, das Leopoldinas, das Popotas, dos ursinhos, dos porta-chaves, dos lacinhos e dos pins para apoiar tudo e mais alguma coisa que nos pese na consciência durante os dias em que damos com o boneco da Coca-Cola a trepar pelas janelas e varandas.
Depois pode tudo voltar ao normal, que estamos todos a cagar-nos para isso. Ou então aderimos a uma causa fofinha no Facebook e dormimos melhor durante uns dias.
Há ainda o livro de uma campanha qualquer de apoio aos desgraçadinhos que custa dois euros. Um deles fica para a cadeia de hipermercados. Ou seja, eu, o cidadão comum, contribuo com 100 por cento do valor do livro para uma causa solidária, mas o grupo económico só dá metade desse valor à instituição. Faz todo o sentido, tendo em conta a "solidariedade" praticada por esta gente.
Belmiro de Azevedo é um dos que alinha na palhaçada, claro, que sempre dá para fazer de conta que tem uma gota de solidariedade social. No entanto, será que Belmiro de Azevedo alguma vez pensa que tem trabalhadores seus que vão depois recorrer às ajudas que o próprio patrão oferece? Não faria mais sentido aumentar o salário dos seus trabalhadores para que estes não tivessem de recorrer a ajudas de outras instituições para que consigam sobreviver?
Não, não faria, por isso é que Belmiro de Azevedo, cheio de preocupações, começou a contratar trabalhadores - deve ser deste tipo de emprego quando se fala na abertura de hipermercados ao domingo: (...) os felizardos entraram ao serviço no passado dia 6 de Novembro e têm contrato até 24 de Dezembro de 2010. O pagamento, esse, será feito mediante recibo verde ou acto único, mas só a partir de 15 de Janeiro de 2011. Quanto ao salário, não tem mistérios: cada contratado recebe 12€ por turno, e cada turno tem cinco horas. Feitas as contas, apura-se que o salário/hora é de 2,4€, ou seja inferior aos 2,7€ que resultam do salário mínimo nacional. Acresce que os trabalhadores assim distinguidos com a oferta de emprego Sonae têm apenas um dia de descanso por semana, não recebem o subsídio de refeição em vigor na empresa, e não recebem trabalho nocturno apesar de um dos «turnos» terminar às 24 horas.
Posto isto, viva o Natal!
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terça-feira, novembro 23, 2010
Fui à manif e safei-me
No sábado estive lá para os lados de Lisboa, na manif anti-NATO. Fui dos que participou ordeiramente na coisa, que, aliás, primou pelo civismo, para desagrado de alguns esquerdistas, radicais livres, ou L-Casei Imunitass, ou lá como é que se chama esta gente.
Sem o BE para dar-lhes boleia, os AdP, Activistas de Preto, optaram por desfilar sozinho, embora o Soeirinho tenha vindo depois ampará-los, não vá perder algum amigo que por lá ande ainda chateado pelo apoio bloquista ao candidato presidencial do Governo.
Sobre o que é dito no link acima, devo esclarecer o seguinte: A PAGAN e as centenas de outras organizações que a dita diz representar, não quiseram associar-se à CPPC na promoção da manif, avançando para uma própria.
Curiosamente, ou não, ao longo do texto, o Renato acusa a CGTP de não ter permitido à PAGAN integrar um desfile que a PAGAN não quis integrar. O Renato queria carros a arder, montras partidas, uma coisa assim da moda, como se vê nas televisões. E nada impedia a PAGAN de tê-lo feito, porque reparei que em Lisboa o que não falta são automóveis. E montras, senhores, ui, as montras!
Na verdade, o desfile decorreu com a normalidade possível, as duas dezenas de jovens que desceram do Liceu de Camões desfilaram onde entenderam, e não houve necessidade de recorrerem às orientações do líder do grupo que distribuía um jornal em formato "Expresso", na saída do metro do Rossio. Não foi preciso fugirem "para as ruas que atravessam a avenida, em caso de carga policial".
Na verdade, o desfile decorreu com a normalidade possível, as duas dezenas de jovens que desceram do Liceu de Camões desfilaram onde entenderam, e não houve necessidade de recorrerem às orientações do líder do grupo que distribuía um jornal em formato "Expresso", na saída do metro do Rossio. Não foi preciso fugirem "para as ruas que atravessam a avenida, em caso de carga policial".
Mas que me intriga na PAGAN é esta simpatia pela resistência islâmica e pelas religiões. Não sei o que passou pela cabeça de quem escreveu a coisa. As religiões, sejam elas quais forem, são e sempre foram, ao longo da história, centros de estupidificação e subserviência dos Povos. Dizer que apoiam resistentes islamitas é cair num ridículo sem fundo.
Pela minha parte, apoio os movimentos de resistência populares em qualquer parte do Mundo, pela libertação dos Povos e contra todos os fundamentalismos, sejam os fundamentalistas da NATO, sejam os da Al-Qaeda. Defender o contrário é muito lindo mas é a milhares de quilómetros de distância, porque pimenta nos olhos dos outros não arde.
Pela minha parte, apoio os movimentos de resistência populares em qualquer parte do Mundo, pela libertação dos Povos e contra todos os fundamentalismos, sejam os fundamentalistas da NATO, sejam os da Al-Qaeda. Defender o contrário é muito lindo mas é a milhares de quilómetros de distância, porque pimenta nos olhos dos outros não arde.
Indo ao que interessa, a manifestação cumpriu os seus objectivos: teve uma forte mobilização, decorreu sem incidentes que pusessem em causa a integridade física de quem pretendia manifestar-se.
Sobre a inevitável guerra de números, o Expresso resolveu a questão. Contratou um especialista em contar multidões! Fomos 8.000, segundo o especialista. Das duas, uma: ou este especialista tem tanto de especialista como eu de carpinteiro; ou a CGTP tem uma organização que apenas lhe permite mobilizar números redondos, já que na manif da Função Pública participaram apenas 10.000.
Eu, especialista em coisa nenhuma, aprecio a especialidade deste caramelo. A sério que sim.
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quinta-feira, novembro 18, 2010
Murais, grafitis e tudo o que apele à mobilização dos trabalhadores
Estas imagens inserem-se na campanha da Câmara Municipal do Porto para limpar a cidade?
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quinta-feira, novembro 11, 2010
5Dias e uns feriados
Desde que me estreei nestas coisas da blogosfera que há blogues obrigatórios. Um deles é o 5Dias e não é de agora. Gosto dos debates que proporciona nos comentários, fui gostando do tom da maioria dos textos, mesmo não concordando com alguns, obviamente.
Há autores que acompanho invariavelmente, nomeadamente, o Nuno Ramos de Almeida, o Carlos Vidal e o Tiago Mota Saraiva.
Por afinidades políticas, certamente, dá-me especial gozo ler a sinceridade cáustica do Vidal, que vai espalhando pelos 5Dias aquilo que, às vezes, os meus camaradas têm algum receio de dizer, rompendo com o politicamente correcto.
Ao longo do tempo, o 5Dias foi-se modificando, com novos autores, e novos grafismos. Hoje está diferente. Não sei se pior ou melhor, sei que diferente. Sei que alberga agora gente que precisa, primeiro, de perceber do que fala, para não cair no ridículo do radicalismo que tanta vezes tem sido alvo - e certeiro - de outros bloggers de uma suposta esquerda moderna, que apoia o candidato do Governo numas eleições. Mas centremo-nos no que interessa, que isto das presidenciais há-de dar letra a outras postas.
Eu não conheço a Diana Dionísio, por isso vou procurar não fazer juízos de carácter sobre ela em relação a esta posta, que seria brilhante se fosse irónica, mas, nos muitos comentários que proporcionou (71 a esta hora) percebe-se que não é.
Pergunta a Diana se "Está marcada alguma concentração / manifestação para o dia 24? É que ainda não dei por isso. Alguém me pode esclarecer? Alguma estrutura dessas que tenta organizar as massas está a pensar marcar alguma coisa? Encontramo-nos nalgum lado para dar uns gritos"?
Por partes:
A esmagadora maioria das estruturas representativas dos trabalhadores já aderiu, pelo que as massas deverão estar organizadas não só para aderir à greve, como também para mobilizar e esclarecer os restantes camaradas, através das centenas de plenários e de piquetes que hão-de realizar-se por todo o país.
Não sei que noção terá a Diana do que é uma manifestação. Já fui a muitas - é uma pena não verem o meu orgulho ao dizer isto - e nunca lá fui só para dar uns gritos com a malta. Quando preciso de desanuviar, bato com a cabeça na parede, exercito umas tíbias e por aí fora. É este tipo de ligeireza quando se fala numa manifestação que não beneficia em nada o momento que vivemos. Esta tentativa de redução do verdadeiro significado de uma manifestação é precisamente o que interessa à opinião publicada. Que de cada vez que os trabalhadores, estudantes, reformados, empregados, desempregados saem à rua é para dar "uns gritos". Nunca o fiz. Nem nos meus tempos de estudante nem enquanto trabalhador. Sempre que fui a uma manifestação foi para marcar uma posição e gritar palavras de ordem a plenos pulmões. Nunca fui a uma manif por não ter algo mais interessante para fazer ou porque é giro ir a manifs.
Este esvaziamento do que representa uma manifestação, seja ela de quem for, pode colher dividendos dentro de alguns sectores, mas certamente que não contribui para o êxito das lutas de massas que hão-de vir neste e no próximo ano, seja com o PS ainda no Governo, seja com o PSD, isto se o Povo não acordar a tempo.
Sobre a manifestação em dia de Greve Geral:
Evidentemente que não há manifestação numa Greve Geral. Isso implicaria que, para transporte dos manifestantes, os trabalhadores dos transportes públicos, por exemplo, não estivessem em greve, tal como os das empresas de aluguer de autocarros ou os das bombas de gasolina ou os das estações de serviço. A bicicleta pode sempre ser um bom meio - que até é simpático para alguns autores do 5Dias - mas ir de Leça a Lisboa a pedalar ainda é um esticão.
A ideia de que uns podem trabalhar para levar os outros é tão absurda como a do jornalista que não faz greve porque alguém tem de a noticiar. É simplesmente a negação do protesto.
Uma Greve Geral é uma Greve Geral. Não é uma greve-só-um-bocadinho-geral-porque-a-malta-quer-ir-dar-uns berros.
E já agora, quando se fala nos grandes protestos de França, repare-se na quantidade deles que teve lugar precisamente nos locais onde se concentravam os piquetes. Mas não vale a pena comparar realidades distintas.
Com ou sem estas ideias iluminadas, que nada têm de novo - lá vem a doença infantil do comunismo outra vez à baila -, a Greve Geral de 24 de Novembro há-de ser um enorme êxito, assim o queiram os trabalhadores.
E um agradecimento ao Carlos Vidal por esta posta.
Há autores que acompanho invariavelmente, nomeadamente, o Nuno Ramos de Almeida, o Carlos Vidal e o Tiago Mota Saraiva.
Por afinidades políticas, certamente, dá-me especial gozo ler a sinceridade cáustica do Vidal, que vai espalhando pelos 5Dias aquilo que, às vezes, os meus camaradas têm algum receio de dizer, rompendo com o politicamente correcto.
Ao longo do tempo, o 5Dias foi-se modificando, com novos autores, e novos grafismos. Hoje está diferente. Não sei se pior ou melhor, sei que diferente. Sei que alberga agora gente que precisa, primeiro, de perceber do que fala, para não cair no ridículo do radicalismo que tanta vezes tem sido alvo - e certeiro - de outros bloggers de uma suposta esquerda moderna, que apoia o candidato do Governo numas eleições. Mas centremo-nos no que interessa, que isto das presidenciais há-de dar letra a outras postas.
Eu não conheço a Diana Dionísio, por isso vou procurar não fazer juízos de carácter sobre ela em relação a esta posta, que seria brilhante se fosse irónica, mas, nos muitos comentários que proporcionou (71 a esta hora) percebe-se que não é.
Pergunta a Diana se "Está marcada alguma concentração / manifestação para o dia 24? É que ainda não dei por isso. Alguém me pode esclarecer? Alguma estrutura dessas que tenta organizar as massas está a pensar marcar alguma coisa? Encontramo-nos nalgum lado para dar uns gritos"?
Por partes:
A esmagadora maioria das estruturas representativas dos trabalhadores já aderiu, pelo que as massas deverão estar organizadas não só para aderir à greve, como também para mobilizar e esclarecer os restantes camaradas, através das centenas de plenários e de piquetes que hão-de realizar-se por todo o país.
Não sei que noção terá a Diana do que é uma manifestação. Já fui a muitas - é uma pena não verem o meu orgulho ao dizer isto - e nunca lá fui só para dar uns gritos com a malta. Quando preciso de desanuviar, bato com a cabeça na parede, exercito umas tíbias e por aí fora. É este tipo de ligeireza quando se fala numa manifestação que não beneficia em nada o momento que vivemos. Esta tentativa de redução do verdadeiro significado de uma manifestação é precisamente o que interessa à opinião publicada. Que de cada vez que os trabalhadores, estudantes, reformados, empregados, desempregados saem à rua é para dar "uns gritos". Nunca o fiz. Nem nos meus tempos de estudante nem enquanto trabalhador. Sempre que fui a uma manifestação foi para marcar uma posição e gritar palavras de ordem a plenos pulmões. Nunca fui a uma manif por não ter algo mais interessante para fazer ou porque é giro ir a manifs.
Este esvaziamento do que representa uma manifestação, seja ela de quem for, pode colher dividendos dentro de alguns sectores, mas certamente que não contribui para o êxito das lutas de massas que hão-de vir neste e no próximo ano, seja com o PS ainda no Governo, seja com o PSD, isto se o Povo não acordar a tempo.
Sobre a manifestação em dia de Greve Geral:
Evidentemente que não há manifestação numa Greve Geral. Isso implicaria que, para transporte dos manifestantes, os trabalhadores dos transportes públicos, por exemplo, não estivessem em greve, tal como os das empresas de aluguer de autocarros ou os das bombas de gasolina ou os das estações de serviço. A bicicleta pode sempre ser um bom meio - que até é simpático para alguns autores do 5Dias - mas ir de Leça a Lisboa a pedalar ainda é um esticão.
A ideia de que uns podem trabalhar para levar os outros é tão absurda como a do jornalista que não faz greve porque alguém tem de a noticiar. É simplesmente a negação do protesto.
Uma Greve Geral é uma Greve Geral. Não é uma greve-só-um-bocadinho-geral-porque-a-malta-quer-ir-dar-uns berros.
E já agora, quando se fala nos grandes protestos de França, repare-se na quantidade deles que teve lugar precisamente nos locais onde se concentravam os piquetes. Mas não vale a pena comparar realidades distintas.
Com ou sem estas ideias iluminadas, que nada têm de novo - lá vem a doença infantil do comunismo outra vez à baila -, a Greve Geral de 24 de Novembro há-de ser um enorme êxito, assim o queiram os trabalhadores.
E um agradecimento ao Carlos Vidal por esta posta.
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sexta-feira, novembro 05, 2010
Parece que a partir de agora, mensalmente uma vez por mês, que é como quem diz, seis vezes em meio ano, também vou andar por aqui
Publicado no Notícias de Matosinhos. Clica na imagem para aumentar ou então tenta ler assim, que se calhar é bem mais engraçado.
quinta-feira, outubro 21, 2010
Começou a campanha
Não é, ainda, a das presidenciais. Apesar de o eterno candidato Alegre - preso pela PIDE, blá, blá, blá - ter já vindo denunciar as bandeirinhas que Cavaco emprestou aos miúdos. Não se sabe se são os mesmos miúdos de escolas que foram beijar a mãe ao Pai-Sócrates nas distribuições do Magalhães, quando Alegre era ainda deputado eleito pelo partido que apoiava e apoia o Governo. Aliás, reza a história que, nesse tempo, o recurso era mais elaborado, com a contratação de figurantes.
A campanha que já começou foi outra. Depois de quatro anos de forte ataque aos funcionários públicos, esse exército de malandros pago a peso de ouro, que nada em direitos e se afoga em benefícios, o alvo passou a ser aqueles malandros dos desempregados. Esse bando de mandriões inúteis que nada quer fazer.
Há dias, na RTP1, em horário pós-Jornal da Noite, um empresário dos têxteis, coitado, queixava-se de não ter pessoas para trabalhar, quando lhes oferecia o valor astronómico de 475 euros mensais. Uma fortuna, nos dias que correm. Infelizmente, o empresário nunca disse quais os seus rendimentos, nem qual a parte da mais-valia criada revertia para quem produz o valor.
Simultaneamente, vêm ideias peregrinas de colocar os desempregados a limpar matas, como se o subsídio de desemprego não fosse a forma de o Estado assegurar a sobrevivência daqueles que perderam o emprego; como se estar desempregado fosse uma regalia social, que merece a pena de trabalhar a troco do que descontou.
Esta campanha mediática de diabolização dos desempregados é só mais uma forma de dividir a sociedade. Atacar os desempregados sem abordar as causas do desemprego. Serve o Governo e serve o poder económico, que, a par do Estado, vai instituindo a precariedade como verdade absoluta e inalienável do progresso.
O desemprego é um drama, não é uma opção. E não são os desempregados que têm de pedir desculpa por estarem na situação em que estão. É a sociedade que deve pedir-lhes desculpa por continuar a acreditar neste modelo económico.
A campanha que já começou foi outra. Depois de quatro anos de forte ataque aos funcionários públicos, esse exército de malandros pago a peso de ouro, que nada em direitos e se afoga em benefícios, o alvo passou a ser aqueles malandros dos desempregados. Esse bando de mandriões inúteis que nada quer fazer.
Há dias, na RTP1, em horário pós-Jornal da Noite, um empresário dos têxteis, coitado, queixava-se de não ter pessoas para trabalhar, quando lhes oferecia o valor astronómico de 475 euros mensais. Uma fortuna, nos dias que correm. Infelizmente, o empresário nunca disse quais os seus rendimentos, nem qual a parte da mais-valia criada revertia para quem produz o valor.
Simultaneamente, vêm ideias peregrinas de colocar os desempregados a limpar matas, como se o subsídio de desemprego não fosse a forma de o Estado assegurar a sobrevivência daqueles que perderam o emprego; como se estar desempregado fosse uma regalia social, que merece a pena de trabalhar a troco do que descontou.
Esta campanha mediática de diabolização dos desempregados é só mais uma forma de dividir a sociedade. Atacar os desempregados sem abordar as causas do desemprego. Serve o Governo e serve o poder económico, que, a par do Estado, vai instituindo a precariedade como verdade absoluta e inalienável do progresso.
O desemprego é um drama, não é uma opção. E não são os desempregados que têm de pedir desculpa por estarem na situação em que estão. É a sociedade que deve pedir-lhes desculpa por continuar a acreditar neste modelo económico.
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sexta-feira, outubro 15, 2010
Zombies em tempo de vampiros
Acordar vivo deve ser das melhores sensações que se tem. Continuar vivo ao ler aos jornais, nem sempre. Seja pelas notícias, seja pelas opiniões, quase invariavelmente as mesmas, com caras diferentes.
Hoje, chegou a mostarda ao nariz da jornalista Câncio, o que não é fácil, diga-se. Sem entrar em piadas fáceis - tipo, a Fernanda cância-me - a jornalista puxa dos galões de grande repórter e assume todo o seu ódio ao PCP, num artigo repleto de preconceito, mentiras e deturpações. Nada de novo, portanto, até porque é a própria que o assume no texto.
Assumindo a defesa das chefias das redacções, revela que os seus superiores não cortam os seus textos. Tem sorte. E nós cheios de azar. Não lhe passa pela cabeça denunciar, por exemplo, a precariedade reinante no meio onde trabalha. Não, porque o mundo visto a partir dos saltos altos da senhora tem outra perspectiva. Tão grave como isso, é afirmar claramente que há, nas redacções, um preconceito em relação ao PCP por parte dos seus - dela - camaradas* de redacção. Assume-se a voz de toda uma classe e revela que os jornalistas têm reservas em dar notícias sobre a actividade de um partido eleito na AR por terem espaço a mais nas páginas, dado que "não o levam a sério". Assim, sem perceber - o que não é fácil, já que sabe tudo sobre tudo -, Câncio confirma tudo o que nega no primeiro parágrafo.
É desta coerência que é feita a massa media que suporta o governo Socrático. Acusa o Partido com mais vitalidade e capacidade de mobilização de ser um zombie, exactamente no mesmo dia em que um dirigente do PS acusou outro de aliciamento, num exemplo de como se passam as coisas nos corredores do poder.
Estes não são zombies, são vampiros.
E eu, ingénuo, certamente, prefiro ser zombie toda a vida do que vampiro por um dia.
*Camaradas de redacção era a designação usada entre jornalistas, pelo menos há 10 anos, quando pela primeira vez entrei numa redacção. Agora, em alguns jornais devem ser quiduxos de redacção, ou coisa parecida.
Hoje, chegou a mostarda ao nariz da jornalista Câncio, o que não é fácil, diga-se. Sem entrar em piadas fáceis - tipo, a Fernanda cância-me - a jornalista puxa dos galões de grande repórter e assume todo o seu ódio ao PCP, num artigo repleto de preconceito, mentiras e deturpações. Nada de novo, portanto, até porque é a própria que o assume no texto.
Assumindo a defesa das chefias das redacções, revela que os seus superiores não cortam os seus textos. Tem sorte. E nós cheios de azar. Não lhe passa pela cabeça denunciar, por exemplo, a precariedade reinante no meio onde trabalha. Não, porque o mundo visto a partir dos saltos altos da senhora tem outra perspectiva. Tão grave como isso, é afirmar claramente que há, nas redacções, um preconceito em relação ao PCP por parte dos seus - dela - camaradas* de redacção. Assume-se a voz de toda uma classe e revela que os jornalistas têm reservas em dar notícias sobre a actividade de um partido eleito na AR por terem espaço a mais nas páginas, dado que "não o levam a sério". Assim, sem perceber - o que não é fácil, já que sabe tudo sobre tudo -, Câncio confirma tudo o que nega no primeiro parágrafo.
É desta coerência que é feita a massa media que suporta o governo Socrático. Acusa o Partido com mais vitalidade e capacidade de mobilização de ser um zombie, exactamente no mesmo dia em que um dirigente do PS acusou outro de aliciamento, num exemplo de como se passam as coisas nos corredores do poder.
Estes não são zombies, são vampiros.
E eu, ingénuo, certamente, prefiro ser zombie toda a vida do que vampiro por um dia.
*Camaradas de redacção era a designação usada entre jornalistas, pelo menos há 10 anos, quando pela primeira vez entrei numa redacção. Agora, em alguns jornais devem ser quiduxos de redacção, ou coisa parecida.
quinta-feira, outubro 14, 2010
Solidariedade
O Um Tal de Blog associa-se, divulga e apela à participação nesta iniciativa do Aventar.
quinta-feira, setembro 30, 2010
Basicamente, é isto
segunda-feira, setembro 27, 2010
Da rua do contador para a rua do ouvidor
Que me perdoe o António Torrado, ídolo da minha infância, o roubo descarado de um livro dele para este espaço de podridão, por entre zeros e uns e outros.
Ouvi há pouco um dos maiores contadores de histórias dos novos tempos, Teixeira dos Santos, afirmar que as reformas laborais, nomeadamente no que respeita à maior facilidade dos despedimentos, ajudou a enfrentar a crise. E terá ajudado, ainda que não os mais de 600.000 desempregados que existem actualmente, aos quais podemos acrescentar os muitos milhares de precários.
Devidamente suportado pela OCDE, o contador sugere um aumento de impostos. Do IVA e do IMI, para acrescentar que uma das medidas propostas por aquele organismos é "manter baixos os salários da função pública para conseguir um ajustamento generalizado dos ordenados".
Portanto, não há necessidade de aumentar os salários para estimular o consumo, sempre com o reforço da produção nacional, mais vale nivelar tudo por baixo. Faz sentido. Tanto sentido como tentar vender anzóis a minhocas.
Na rua do contador não deve haver muitos desempregados, nem idosos com pensões de miséria, nem jovens sem perspectivas de encontrar trabalho. Na rua do contador, que passa por ela no banco de trás do seu topo de gama, com os vidros, fumados, à sombra de um puro.
Na rua do ouvidor as coisas são diferentes. Não há passeios, sequer, nem vidros fumados, tirando o SG Gigante, o Ritz ou o Ventil. E vamos ouvindo e encolhendo os ombros, como se tudo isto fosse tão inevitável como o sol que nasce todos os dias.
E quando percebermos que não é pode ser que as coisas mudem. Até lá, levamos com eles.
Ouvi há pouco um dos maiores contadores de histórias dos novos tempos, Teixeira dos Santos, afirmar que as reformas laborais, nomeadamente no que respeita à maior facilidade dos despedimentos, ajudou a enfrentar a crise. E terá ajudado, ainda que não os mais de 600.000 desempregados que existem actualmente, aos quais podemos acrescentar os muitos milhares de precários.
Devidamente suportado pela OCDE, o contador sugere um aumento de impostos. Do IVA e do IMI, para acrescentar que uma das medidas propostas por aquele organismos é "manter baixos os salários da função pública para conseguir um ajustamento generalizado dos ordenados".
Portanto, não há necessidade de aumentar os salários para estimular o consumo, sempre com o reforço da produção nacional, mais vale nivelar tudo por baixo. Faz sentido. Tanto sentido como tentar vender anzóis a minhocas.
Na rua do contador não deve haver muitos desempregados, nem idosos com pensões de miséria, nem jovens sem perspectivas de encontrar trabalho. Na rua do contador, que passa por ela no banco de trás do seu topo de gama, com os vidros, fumados, à sombra de um puro.
Na rua do ouvidor as coisas são diferentes. Não há passeios, sequer, nem vidros fumados, tirando o SG Gigante, o Ritz ou o Ventil. E vamos ouvindo e encolhendo os ombros, como se tudo isto fosse tão inevitável como o sol que nasce todos os dias.
E quando percebermos que não é pode ser que as coisas mudem. Até lá, levamos com eles.
segunda-feira, setembro 20, 2010
Quando for grande quero ter espaço
Quando for grande quero ser bombeiro, polícia, médico, futebolista. Era assim, pelo menos no meu tempo e, com ele, tudo muda. A ideia que tenho é que já não há profissões. Há formação focalizada em determinadas áreas, mas já ninguém é coisa alguma, excepção feita a uma elite que preenche jornais, rádios e televisões.
Esses são tudo e mais alguma coisa. Ganharam até o estatuto de especialistas. Há especialistas em futebol, economia, finanças, médio oriente, avançado oriente, extremo oriente, direito, torto, inclinado e tudo o mais que possa imaginar-se. São precisamente estes senhores e senhoras que roubam espaço à notícia.
Os dias de hoje querem fazer crer que já não precisamos de pensar, porque temos quem pense por nós. Não me refiro a programas específicos de opinião, legítimos, pois claro, mesmo quando a opinião é a mesma por palavras diferentes. Refiro-me ao espaço da notícia, que é cada vez menor, para ceder o lugar a tudo o que é especialista. De há uns anos a esta parte, os media encheram-se com opinião; mais grave ainda: com a mesma opinião. E a notícia, a reportagem, a proximidade entre consumidores de informação e o dever de informar - não dos jornalistas, mas dos órgãos - foi-se perdendo no meio de vaidades e interesses que valem os 15 minutos de fama ou os 2cmx2cm de foto na folha do jornal, com os devidos títulos honoríficos no final da prosa.
E nós, a massa bruta, engolimos a sabedoria que os "sotôres" nos servem de bandeja, porque pensar está fora de moda. Aliás, pensar sempre foi um perigo. Desde sempre que pensar pode ser sinónimo de perceber. E perceber pode ser das coisas mais perigosas que há.
Esses são tudo e mais alguma coisa. Ganharam até o estatuto de especialistas. Há especialistas em futebol, economia, finanças, médio oriente, avançado oriente, extremo oriente, direito, torto, inclinado e tudo o mais que possa imaginar-se. São precisamente estes senhores e senhoras que roubam espaço à notícia.
Os dias de hoje querem fazer crer que já não precisamos de pensar, porque temos quem pense por nós. Não me refiro a programas específicos de opinião, legítimos, pois claro, mesmo quando a opinião é a mesma por palavras diferentes. Refiro-me ao espaço da notícia, que é cada vez menor, para ceder o lugar a tudo o que é especialista. De há uns anos a esta parte, os media encheram-se com opinião; mais grave ainda: com a mesma opinião. E a notícia, a reportagem, a proximidade entre consumidores de informação e o dever de informar - não dos jornalistas, mas dos órgãos - foi-se perdendo no meio de vaidades e interesses que valem os 15 minutos de fama ou os 2cmx2cm de foto na folha do jornal, com os devidos títulos honoríficos no final da prosa.
E nós, a massa bruta, engolimos a sabedoria que os "sotôres" nos servem de bandeja, porque pensar está fora de moda. Aliás, pensar sempre foi um perigo. Desde sempre que pensar pode ser sinónimo de perceber. E perceber pode ser das coisas mais perigosas que há.
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sexta-feira, setembro 10, 2010
Leça da Palmeira, uma Freguesia a carvão
Já é sabido que, fora da linha de mar, Leça da Palmeira sempre foi uma freguesia que funciona a carvão, mesmo estando nós já na era da fibra óptica. Para os mais desatentos, Leça da Palmeira foi, das 10 freguesias que compõem o concelho de Matosinhos, a última a ter habitação social, pavilhão municipal e quer-me parecer que, tão cedo, não terá uma piscina municipal, já que, no local onde estava prevista a sua construção está a ser erguida uma nova bancada em torno do complexo desportivo da Bataria.
Há muita Leça por descobrir por parte do poder local. Mormente entre a Exponor e o Monte Espinho, ali mesmo, na fronteira com Perafita. O Bairro da Bataria é só mais um exemplo disso. Foi construído sem passeios, porque fora do centro da cidade e dos condomínios fechados a malta não precisa de passeios, tem há anos um parque infantil que não pode ser utilizado por falta de condições de segurança e vive paredes meias com um depósito de carvão a céu aberto. Isto sem referir os falecidos, mas não enterrados, armazéns da Nobre, que convidam à entrada de quem lá passa, seja para matar o vício, seja para vendê-lo. Não havia passadeiras, que foram pintadas à pressa num final de tarde, véspera de uma manhã em que a CDU de Leça da Palmeira levaria a cabo a sua pintura simbólica. Até hoje, as ditas passadeiras continuam sem sinalização vertical que as anuncie.
Também a zona de Gonçalves é uma parte esquecida, salvo os 100 metros de alcatrão que levam à nova loja da Megasport. Gonçalves é a zona onde está o Centro Hípico, que continua em obras de melhoramento. Por trás dele está Gonçalves, que vive com o cheiro a merda dos cavalos e onde, não há muito tempo, um dos moradores dizia que "estão mais preocupados com os cavalos do que com as pessoas". Gonçalves também sobrevive sem passeios, separado por paralelo e alcatrão, mandado colocar à pressa, também em vésperas de uma visita da CDU.
Leça da Palmeira continua a duas velocidades. A da fibra óptica ao centro, com o norte a carvão.
Há muita Leça por descobrir por parte do poder local. Mormente entre a Exponor e o Monte Espinho, ali mesmo, na fronteira com Perafita. O Bairro da Bataria é só mais um exemplo disso. Foi construído sem passeios, porque fora do centro da cidade e dos condomínios fechados a malta não precisa de passeios, tem há anos um parque infantil que não pode ser utilizado por falta de condições de segurança e vive paredes meias com um depósito de carvão a céu aberto. Isto sem referir os falecidos, mas não enterrados, armazéns da Nobre, que convidam à entrada de quem lá passa, seja para matar o vício, seja para vendê-lo. Não havia passadeiras, que foram pintadas à pressa num final de tarde, véspera de uma manhã em que a CDU de Leça da Palmeira levaria a cabo a sua pintura simbólica. Até hoje, as ditas passadeiras continuam sem sinalização vertical que as anuncie.
Também a zona de Gonçalves é uma parte esquecida, salvo os 100 metros de alcatrão que levam à nova loja da Megasport. Gonçalves é a zona onde está o Centro Hípico, que continua em obras de melhoramento. Por trás dele está Gonçalves, que vive com o cheiro a merda dos cavalos e onde, não há muito tempo, um dos moradores dizia que "estão mais preocupados com os cavalos do que com as pessoas". Gonçalves também sobrevive sem passeios, separado por paralelo e alcatrão, mandado colocar à pressa, também em vésperas de uma visita da CDU.
Leça da Palmeira continua a duas velocidades. A da fibra óptica ao centro, com o norte a carvão.
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segunda-feira, julho 05, 2010
Linda Lovelace, desta vez em forma de manchete
Passou de moda a discussão sobre a liberdade dos media e a manipulação a que estão sujeitos. Temos férias, Verão, crimes e a comissão de inquérito ao caso PT-TVI deu em coisa nenhuma. Continuo a defender que o que sempre esteve em causa não é a liberdade de expressão, mas antes as liberdades de informar e de ser informado.
Hoje, o Público faz manchete com os nossos empresários, coitadinhos, que não aproveitam as facilidades do código laboral para despedir. O Público ajuda estes inocentes uma semana depois de Portugal ficar a conhecer uma taxa de desemprego - oficial - que está perto dos 11%. Sem contar com os milhares que vão desaparecendo dos ficheiros do IEFP.
Esta notícia do Público é tudo menos inocente - em época de crise, a flexibilização laboral vem sempre à baila - e o futuro provará que este tipo de peças encomendadas renderá cada vez menos dividendos aos media mainstream. Porque se há uns anos era preciso ir ao arquivo em papel para encontrar o Teixeira dos Santos a dizer o mesmo, hoje basta um clique, ou dois, pronto, do novo menino d'oiro da Comunicação Social, Pedro Passos-Coelho.
Não sou dos que defende que a era dos computadores acabará com os jornais diários em papel - dizia-se o mesmo sobre os gratuitos e ainda na semana passada fechou um. Terão sempre um leitor, pelo menos, que sou eu. Que gosto de os sentir e de os cheirar. Mas terão de defender a sua credibilidade. E os meios de informação alternativos, sejam sites, blogues ou redes sociais ajudam a desmontar agendas e interesses mais ou menos escondidos que só enganam os incautos. A minha geração, como as que se seguirão, só não será mais e melhor informada se não quiser. E os jornais têm de estar cada vez mais atentos a isto.
Há, no entanto, um lado positivo: A manchete de hoje, no Público, não descredibiliza o jornalismo, antes pelo contrário ajuda a distinguir o que é informação daquilo que, há uns anos, se chamava broche.
Hoje, o Público faz manchete com os nossos empresários, coitadinhos, que não aproveitam as facilidades do código laboral para despedir. O Público ajuda estes inocentes uma semana depois de Portugal ficar a conhecer uma taxa de desemprego - oficial - que está perto dos 11%. Sem contar com os milhares que vão desaparecendo dos ficheiros do IEFP.
Esta notícia do Público é tudo menos inocente - em época de crise, a flexibilização laboral vem sempre à baila - e o futuro provará que este tipo de peças encomendadas renderá cada vez menos dividendos aos media mainstream. Porque se há uns anos era preciso ir ao arquivo em papel para encontrar o Teixeira dos Santos a dizer o mesmo, hoje basta um clique, ou dois, pronto, do novo menino d'oiro da Comunicação Social, Pedro Passos-Coelho.
Não sou dos que defende que a era dos computadores acabará com os jornais diários em papel - dizia-se o mesmo sobre os gratuitos e ainda na semana passada fechou um. Terão sempre um leitor, pelo menos, que sou eu. Que gosto de os sentir e de os cheirar. Mas terão de defender a sua credibilidade. E os meios de informação alternativos, sejam sites, blogues ou redes sociais ajudam a desmontar agendas e interesses mais ou menos escondidos que só enganam os incautos. A minha geração, como as que se seguirão, só não será mais e melhor informada se não quiser. E os jornais têm de estar cada vez mais atentos a isto.
Há, no entanto, um lado positivo: A manchete de hoje, no Público, não descredibiliza o jornalismo, antes pelo contrário ajuda a distinguir o que é informação daquilo que, há uns anos, se chamava broche.
quarta-feira, junho 23, 2010
Os donos do norte
Rui Rio, Rui Moreira e até um responsável pela igreja católica vieram alertar para o perigo de uma revolta a norte por causa das SCUT. O norte está cada vez mais estreito - acho que já escrevi isto mais lá para baixo - e desta vez vai de Viana a Aveiro em forma de autoestrada.
Não é só o norte que está revoltado e, se o está, não é apenas por causa das portagens nas SCUT, que o candidato Sócrates prometeu não portajar, mas que o primeiro-ministro Sócrates mandou implementar, à custa de chips e tudo. Uma coisa assim moderna, tipo Magalhães mas em muito pequenino.
O norte tem todos os motivos para estar revoltado. Tem as regiões mais pobres do país e pelo menos duas delas serão mesmo penalizadas pela introdução de portagens, mais precisamente, nas zonas do Vale do Ave e do Vale do Sousa e Baixo Tâmega.
Se as portagens nas SCUT servirem para despertar a consciência do norte sobre o que são PS e PSD - uma moeda de uma face só, melhor.
Se servirem para que meia-dúzia de "notáveis" do Porto se autopromovam, para tirarem dividendos de partidos e movimentos portuenses mascarados de nortenhos que estão na calha, então, valem tanto como os deputados do norte eleitos pelo PS e, eventualmente, pelo PSD que aprovarão as portagens.
Mais: O norte revoltar-se-á quando o Povo tiver consciência de que pode mais, de que pode tudo e basta querer, não quando o presidente da Câmara do Porto, o Rui Moreira ou qualquer outra personagem que, na sua cabeça, se ache representativa de uma fatia do Povo nortenho quiser. Por curiosidade, eu, que até participei em vários protestos contra as SCUT, nunca vi por lá bispos, nem o Rui Moreira, nem o Rui Rio, os que agora alertam para o perigo de uma revolta, confortavelmente sentados no sofá. Mas reconheço que possa ser uma falha minha.
Não é só o norte que está revoltado e, se o está, não é apenas por causa das portagens nas SCUT, que o candidato Sócrates prometeu não portajar, mas que o primeiro-ministro Sócrates mandou implementar, à custa de chips e tudo. Uma coisa assim moderna, tipo Magalhães mas em muito pequenino.
O norte tem todos os motivos para estar revoltado. Tem as regiões mais pobres do país e pelo menos duas delas serão mesmo penalizadas pela introdução de portagens, mais precisamente, nas zonas do Vale do Ave e do Vale do Sousa e Baixo Tâmega.
Se as portagens nas SCUT servirem para despertar a consciência do norte sobre o que são PS e PSD - uma moeda de uma face só, melhor.
Se servirem para que meia-dúzia de "notáveis" do Porto se autopromovam, para tirarem dividendos de partidos e movimentos portuenses mascarados de nortenhos que estão na calha, então, valem tanto como os deputados do norte eleitos pelo PS e, eventualmente, pelo PSD que aprovarão as portagens.
Mais: O norte revoltar-se-á quando o Povo tiver consciência de que pode mais, de que pode tudo e basta querer, não quando o presidente da Câmara do Porto, o Rui Moreira ou qualquer outra personagem que, na sua cabeça, se ache representativa de uma fatia do Povo nortenho quiser. Por curiosidade, eu, que até participei em vários protestos contra as SCUT, nunca vi por lá bispos, nem o Rui Moreira, nem o Rui Rio, os que agora alertam para o perigo de uma revolta, confortavelmente sentados no sofá. Mas reconheço que possa ser uma falha minha.
quinta-feira, junho 17, 2010
quarta-feira, junho 02, 2010
Portugal, o Chile dos pequeninos
Ontem surgiu a notícia do fecho de mais escolas do primeiro ciclo. Coisa pouca, umas 900, a somar às 2.000 que os governos de Sócrates já conseguiram fechar. Evidentemente, a maioria está localizada no norte e no interior do país. De acordo com estes dados, os governos do PS já conseguiram fazer baixar de o número de 8.888 escolas básicas para 6.297 até 2008. Agora, são menos 900. Ficam, portanto, 5.397 escolas. Na prática, em meia dúzia de anos, as políticas educativas conseguiram fechar quase 50% das escolas. Um feito notável no que respeita à poupança.
Com este tipo de medidas, a juntar aos SAP, urgências e maternidades, Portugal está a transformar-se num pequeno Chile. Este país da América do Sul tem 4.300 km de comprimento e, em média, 175 quilómetros de largura. Nós não chegamos a tanto, devemos estar mais ou menos com uns 50km de largura e quase 800 de comprimento.
Tudo isto tem um preço. Poupa-se hoje mas, amanhã, teremos um país ainda mais desertificado fora das grandes cidades do litoral. A retirada constante de serviços do interior conduzirá a um fluxo ainda maior para o litoral - que irá ser agravada com a privatização dos CTT, por exemplo.
Deste modo, com estas políticas meramente economicistas, as auto-estradas para o interior deveriam passar a ser feitas apenas num sentido, o que traz. Porque ninguém quer ir para um deserto. E não, não estou a falar da margem sul.
Com este tipo de medidas, a juntar aos SAP, urgências e maternidades, Portugal está a transformar-se num pequeno Chile. Este país da América do Sul tem 4.300 km de comprimento e, em média, 175 quilómetros de largura. Nós não chegamos a tanto, devemos estar mais ou menos com uns 50km de largura e quase 800 de comprimento.
Tudo isto tem um preço. Poupa-se hoje mas, amanhã, teremos um país ainda mais desertificado fora das grandes cidades do litoral. A retirada constante de serviços do interior conduzirá a um fluxo ainda maior para o litoral - que irá ser agravada com a privatização dos CTT, por exemplo.
Deste modo, com estas políticas meramente economicistas, as auto-estradas para o interior deveriam passar a ser feitas apenas num sentido, o que traz. Porque ninguém quer ir para um deserto. E não, não estou a falar da margem sul.
segunda-feira, maio 31, 2010
Da (in)acção e outras histórias
Confesso que não sei se estiveram 298.638 ou 307.672 pessoas na manif de sábado. Sei que foi uma mobilização impressionante de novos, menos novos, empregados, desempregados, funcionários públicos e do sector privado. Aliás, quando o desfile dos funcionários públicos terminou, vinham ainda muitos milhares de trabalhadores e desempregados do sector privado. Nas cores habituais destas andanças, destacavam-se um grupo de desempregadas de Paços de Ferreira, com bandeiras negras. Não, não tinham conta no Facebook nem faziam parte de qualquer causa criada para que possamos manter-nos de cu alapado sem a consciência pesada. Eram operárias da zona de Paços de Ferreira e, segundo as próprias, representavam a fome que por lá se sente.
A UGT, por outro lado, não vê fome, nem motivos para manifestações. Tal como a ministra do Trabalho que, por coincidência, pertenceu às fileiras da UGT. João Proença, o suposto sindicalista que mais útil tem sido aos Governos de direita do PS, não alinha nestas coisas. É a voz do dono que fala mais alto que a voz dos trabalhadores que continuam a ser enganados por aquela gente.
Foi uma jornada de luta gigantesca, que nem radicais vazios, entre bloquistas - que seguiram à margem do desfile, para não variar - e anarquistas conseguiram transformar numa batalha que pudesse desviar as atenções do cerne da questão: A grande resposta do Povo às medidas de austeridade impostas por PS e PSD. A luta saiu à rua e há-de ter eco, mais cedo do que tarde.
Post it: Agora que foi oficializado o apoio do PS a Alegre, será curioso ver os radicais pequeno-burgueses que desfilaram na cauda de manif de sábado marcharem de braço dado com Alegre e Sócrates, rumo à presidência da República. As máscaras de quem padece da "doença infantil do comunismo" vai caindo aos poucos.
A UGT, por outro lado, não vê fome, nem motivos para manifestações. Tal como a ministra do Trabalho que, por coincidência, pertenceu às fileiras da UGT. João Proença, o suposto sindicalista que mais útil tem sido aos Governos de direita do PS, não alinha nestas coisas. É a voz do dono que fala mais alto que a voz dos trabalhadores que continuam a ser enganados por aquela gente.
Foi uma jornada de luta gigantesca, que nem radicais vazios, entre bloquistas - que seguiram à margem do desfile, para não variar - e anarquistas conseguiram transformar numa batalha que pudesse desviar as atenções do cerne da questão: A grande resposta do Povo às medidas de austeridade impostas por PS e PSD. A luta saiu à rua e há-de ter eco, mais cedo do que tarde.
Post it: Agora que foi oficializado o apoio do PS a Alegre, será curioso ver os radicais pequeno-burgueses que desfilaram na cauda de manif de sábado marcharem de braço dado com Alegre e Sócrates, rumo à presidência da República. As máscaras de quem padece da "doença infantil do comunismo" vai caindo aos poucos.
quarta-feira, maio 26, 2010
A vida é feita de aprendizagem
Não, não vai sair daqui qualquer tipo de dissertação filosófica. O que aprendi hoje - já foi ontem, pronto - é que quando uma empresa do Estado é viável e tem potencial para dar lucro mas tal não acontece porque é mal gerida, o que o Estado tem a fazer não é encontrar uma gestão válida, é privatizá-la.
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terça-feira, maio 25, 2010
domingo, maio 16, 2010
A democracia do pensamento único
Economia - 18ª Edição
Samuelson e Nordhaus
Prefácio, Ponto 3,
"Pequeno é melhor":
"Em cada etapa, questionávamos se o material era necessário para compreensão pelos estudantes da economia do século XXI (...) A agricultura, os sindicatos e a economia marxista foram reduzidos para dar lugar à economia do ambiente, à economia de rede, aos ciclos económicos reais e à economia financeira".
Portanto, num dos livros obrigatórios para algumas áreas do ensino universitário - espaços anteriormente conhecidos como centros de reflexão, de avanço ideológico e de importantes lutas contra o fascismo - decidiram os autores reduzir a atenção dada ao pensamento divergente onde, curiosamente, se encontram algumas das respostas para a os problemas económicos actuais: Na produção nacional, que terá de renascer após ter sido destruída pelo liberalismo, pelo capitalismo selvagem da UE, pela organização dos trabalhadores em sindicatos, que não permitam dar mais passos atrás em relação aos avanços civilizacionais conseguidos às custas do sangue de milhares de outros explorados.
Nem um passo atrás. O que o sistema nos tira, teremos de procurar nos meios alternativos, na internet, nos livros, lendo e relendo o que os processos de luta revolucionária dos Povos nos ensinaram ao longo dos séculos.
A luta está aí!
Samuelson e Nordhaus
Prefácio, Ponto 3,
"Pequeno é melhor":
"Em cada etapa, questionávamos se o material era necessário para compreensão pelos estudantes da economia do século XXI (...) A agricultura, os sindicatos e a economia marxista foram reduzidos para dar lugar à economia do ambiente, à economia de rede, aos ciclos económicos reais e à economia financeira".
Portanto, num dos livros obrigatórios para algumas áreas do ensino universitário - espaços anteriormente conhecidos como centros de reflexão, de avanço ideológico e de importantes lutas contra o fascismo - decidiram os autores reduzir a atenção dada ao pensamento divergente onde, curiosamente, se encontram algumas das respostas para a os problemas económicos actuais: Na produção nacional, que terá de renascer após ter sido destruída pelo liberalismo, pelo capitalismo selvagem da UE, pela organização dos trabalhadores em sindicatos, que não permitam dar mais passos atrás em relação aos avanços civilizacionais conseguidos às custas do sangue de milhares de outros explorados.
Nem um passo atrás. O que o sistema nos tira, teremos de procurar nos meios alternativos, na internet, nos livros, lendo e relendo o que os processos de luta revolucionária dos Povos nos ensinaram ao longo dos séculos.
A luta está aí!
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sexta-feira, maio 14, 2010
Precisam-se voluntários
Para voltar a deitar abaixo o que alguns querem trazer de volta. Eu alinho.
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quinta-feira, maio 13, 2010
O Roubo - este não é um post sobre gravadores
Hoje, depois dos telejornais da hora de almoço, José Sócrates veio anunciar-nos publicamente o que já sabíamos: Vai voltar a roubar-nos. Vai aumentar o IVA, o imposto mais injusto de todos os impostos, que tributa de igual forma quem ganha 400 e quem ganha 40.000. Na verdade, não surpreende, menos ainda quando foi firmado um pacto pelo gang do bloco central. E por aqui, ainda alguém se lembra do Passos Coelho da ruptura, do rasgo ou da união, que não seja a união ao PS?
Sócrates, por coincidência, anunciou o roubo ao Povo enquanto o Papa pregava por Fátima, num país que paralisou para ver um anti-homossexual que usa vestido e sapatos vermelhos. Mas há mais e haverá mais. Esperemos pelo Mundial, que enquanto os jogadores chamados por Queiroz procurarão fazer um milagre, haveremos de saber que lá se vai o subsídio de Natal.
Não há respostas únicas para os problemas. Para chegar ao 10, teremos sempre 9+1, o 8+2 e por aí fora. E a mesma resposta à nova velha crise há-de cansar os Povos. E os Povos vão organizar-se e escolher outro caminho. Começou na Grécia e há-de alastrar a Portugal.
O primeiro passo será a 29 de Maio, com a CGTP. Os seguintes, espero eu, hão-de ser mais duros e efectivos. Porque isto não é (mais) um plano de austeridade. Isto é um roubo.
Sócrates, por coincidência, anunciou o roubo ao Povo enquanto o Papa pregava por Fátima, num país que paralisou para ver um anti-homossexual que usa vestido e sapatos vermelhos. Mas há mais e haverá mais. Esperemos pelo Mundial, que enquanto os jogadores chamados por Queiroz procurarão fazer um milagre, haveremos de saber que lá se vai o subsídio de Natal.
Não há respostas únicas para os problemas. Para chegar ao 10, teremos sempre 9+1, o 8+2 e por aí fora. E a mesma resposta à nova velha crise há-de cansar os Povos. E os Povos vão organizar-se e escolher outro caminho. Começou na Grécia e há-de alastrar a Portugal.
O primeiro passo será a 29 de Maio, com a CGTP. Os seguintes, espero eu, hão-de ser mais duros e efectivos. Porque isto não é (mais) um plano de austeridade. Isto é um roubo.
quinta-feira, maio 06, 2010
Do desnorte ao sentimento de impunidade vai um Ricardo Rodrigues de distância
Já se disse quase tudo sobre o episódio miserável que envolveu o deputado socialista Ricardo Rodrigues. É um deputado do PS, eleito pelo círculo dos Açores que, ironia das ironias, foi incumbido da tarefa de intervir no Parlamento para criticar a suposta falta de liberdade dentro de um partido que não o dele, como aqui se pode confirmar, no célebre episódio da Lei da Rolha que os socialistas decidiram levar a plenário. Estamos a falar do deputado que roubou dois gravadores a dois jornalistas durante uma entrevista, sem sequer ter a inteligência de levar também a câmara de filmar.
O desnorte do PS, nos últimos tempos, tem sido evidente, principalmente para quem segue a Comissão de Inquérito ao caso PT-TVI, onde está também - ó, surpresa! - o deputado Ricardo Rodrigues. Outro socialista, Manuel Seabra, uma espécie de Ricardo Rodrigues em pequenino tem procurado seguir as pisadas do mestre, mas ainda tem muito que caminhar. Embora o seu percurso também seja curioso: De presidente da Câmara de Matosinhos durante breves instantes, saltou para chefe de gabinete de António Costa na Câmara de Lisboa e chegou a deputado eleito pelo Porto.
Voltando ao Ricardo Rodrigues, é o rosto de um PS que se perdeu e vive na sombra de alegadas perseguições ao amado líder, um partido para quem vale tudo na defesa dos interesses não do Povo que o elegeu, não do PS, mas do amado líder. E seguem-lhe o exemplo, aproveitando o sentimento de impunidade que grassa entre os membros daquele partido: De que vale tudo e não há consequências.
Francisco Assis, ao defender Ricardo Rodrigues, desceu ao mesmo nível do deputado açoriano. São estes os homens-fortes do partido que suporta quem nos governa. E é por isso que não se pode esperar muito mais desta gente.
O desnorte do PS, nos últimos tempos, tem sido evidente, principalmente para quem segue a Comissão de Inquérito ao caso PT-TVI, onde está também - ó, surpresa! - o deputado Ricardo Rodrigues. Outro socialista, Manuel Seabra, uma espécie de Ricardo Rodrigues em pequenino tem procurado seguir as pisadas do mestre, mas ainda tem muito que caminhar. Embora o seu percurso também seja curioso: De presidente da Câmara de Matosinhos durante breves instantes, saltou para chefe de gabinete de António Costa na Câmara de Lisboa e chegou a deputado eleito pelo Porto.
Voltando ao Ricardo Rodrigues, é o rosto de um PS que se perdeu e vive na sombra de alegadas perseguições ao amado líder, um partido para quem vale tudo na defesa dos interesses não do Povo que o elegeu, não do PS, mas do amado líder. E seguem-lhe o exemplo, aproveitando o sentimento de impunidade que grassa entre os membros daquele partido: De que vale tudo e não há consequências.
Francisco Assis, ao defender Ricardo Rodrigues, desceu ao mesmo nível do deputado açoriano. São estes os homens-fortes do partido que suporta quem nos governa. E é por isso que não se pode esperar muito mais desta gente.
terça-feira, maio 04, 2010
Homens ao mar!
Ando um bocado farto de discursos. De Cavaco a Aguiar Branco, passando por Sócrates, Gama, profetas da desgraça e optimistas militantes. Não, a situação não está fácil, mas nunca esteve. Aliás, desafio alguém - vivo - a dizer-me quando é que estivemos bem, sem crise, fosse do défice, fosse internacional, fosse financeira ou económica.
A 25 de Abril, Cavaco, um dos mais proeminentes coveiros da nação, que só não mandou alcatroar o oceano Atlântico porque não teve fundos comunitários suficientes, decidiu virar-se para o mar. Logo ele. Ele que foi um dos maiores responsáveis pela destruição da indústria da pesca portuguesa e das outras que lhe estavam associadas. Segundo uma notícia do Público de 2009, a frota pesqueira reduziu-se 10% entre 1998 e 2008. Na mesma notícia pode ler-se que "uma das razões que contribuíram para o emagrecimento da frota nacional foi a consolidação das políticas de União Europeia voltadas para a preservação dos recursos marinhos - face aos riscos de extinção que pesam sobre muitas espécies. Um aumento da capacidade de extracção afecta o processo natural de renovação de stocks e, por isso, Bruxelas vem impondo, ano após ano, reduções significativas das capacidades de captura (os TAC ou quotas de pesca). Isto faz com que muitas embarcações fiquem sujeitas a limites de descarga de peixe, que tornam menos rentável a actividade, ou que a impedem mesmo, a partir do momento em que a quota anual se esgotou. Os empresários acabam por optar pelo abate da embarcação, que beneficia de atractivos apoios. A armação nacional foi também afectada pelo encerramento ou a diminuição do esforço de pesca permitido em muitos dos pesqueiros externos onde chegou a operar com evidente sucesso e importante retorno."
Ora, se a notícia é verdadeira no que diz respeito aos incentivos ao abate, a que sociais-democratas, onde incluo socialistas e soaristas, sempre deram o seu aval, não é totalmente verdade que as políticas de preservação das espécies marinhas tenham estado na origem de quotas de pesca. Desde sempre que os pescadores fazem um período de pausa, chamado defeso. Antigamente, no final do Verão, salgavam-se as sardinhas para serem comidas durante o Inverno, que era quando não havia peixe ou quando não se podia ir ao mar, porque o mar tem destas coisas e nem sempre deixa que lá vão. O mesmo sucedia no final de Abril. Porque os pescadores são só pescadores, não são estúpidos, e não estão interessados em que se acabe o que lhes dá o pão.
Cavaco acordou, a 25 de Abril de 2010, para o mar. No entanto, já em 2002, numa edição da revista O Militante, podia ler-se que "(...) pela continuada falta de uma política para as pescas portuguesas, a pesca e os sectores que lhe estão associados, têm vindo a diminuir o seu peso relativo na economia nacional, sendo que, só na última década, a produção de pescado passou das 319.000 toneladas, em 1990, para as 150.000 toneladas, em 2000, a frota pesqueira passou de 16.000 embarcações, para 10.750 e o número de pescadores matriculados diminuiu, no mesmo período, de 41.000 para 25.000, ao mesmo tempo que a capacidade de produção da indústria conserveira se terá reduzido em mais de 60%, sendo ainda mais significativa a redução da actividade da indústria de construção naval."
Tudo isto tem um responsáveis, como há responsáveis para o estado a que chegou a pesca nacional, que obriga a que, tantas vezes imprudentemente, os homens saiam para o mar, porque a fome, às vezes, é maior que o medo. A fome. Assim, sem eufemismos, que tenho para mim que esta coisa dos eufemismos também é culpada pelo Estado a que chegámos.
As sucessivas crises têm rostos e têm culpados. Um deles é Cavaco. E chega de dizer que temos de fazer sacrifícios. Parafraseando Fernando Tordo: A crise é coisa demasiado cara para ser culpa dos pobres.
A 25 de Abril, Cavaco, um dos mais proeminentes coveiros da nação, que só não mandou alcatroar o oceano Atlântico porque não teve fundos comunitários suficientes, decidiu virar-se para o mar. Logo ele. Ele que foi um dos maiores responsáveis pela destruição da indústria da pesca portuguesa e das outras que lhe estavam associadas. Segundo uma notícia do Público de 2009, a frota pesqueira reduziu-se 10% entre 1998 e 2008. Na mesma notícia pode ler-se que "uma das razões que contribuíram para o emagrecimento da frota nacional foi a consolidação das políticas de União Europeia voltadas para a preservação dos recursos marinhos - face aos riscos de extinção que pesam sobre muitas espécies. Um aumento da capacidade de extracção afecta o processo natural de renovação de stocks e, por isso, Bruxelas vem impondo, ano após ano, reduções significativas das capacidades de captura (os TAC ou quotas de pesca). Isto faz com que muitas embarcações fiquem sujeitas a limites de descarga de peixe, que tornam menos rentável a actividade, ou que a impedem mesmo, a partir do momento em que a quota anual se esgotou. Os empresários acabam por optar pelo abate da embarcação, que beneficia de atractivos apoios. A armação nacional foi também afectada pelo encerramento ou a diminuição do esforço de pesca permitido em muitos dos pesqueiros externos onde chegou a operar com evidente sucesso e importante retorno."
Ora, se a notícia é verdadeira no que diz respeito aos incentivos ao abate, a que sociais-democratas, onde incluo socialistas e soaristas, sempre deram o seu aval, não é totalmente verdade que as políticas de preservação das espécies marinhas tenham estado na origem de quotas de pesca. Desde sempre que os pescadores fazem um período de pausa, chamado defeso. Antigamente, no final do Verão, salgavam-se as sardinhas para serem comidas durante o Inverno, que era quando não havia peixe ou quando não se podia ir ao mar, porque o mar tem destas coisas e nem sempre deixa que lá vão. O mesmo sucedia no final de Abril. Porque os pescadores são só pescadores, não são estúpidos, e não estão interessados em que se acabe o que lhes dá o pão.
Cavaco acordou, a 25 de Abril de 2010, para o mar. No entanto, já em 2002, numa edição da revista O Militante, podia ler-se que "(...) pela continuada falta de uma política para as pescas portuguesas, a pesca e os sectores que lhe estão associados, têm vindo a diminuir o seu peso relativo na economia nacional, sendo que, só na última década, a produção de pescado passou das 319.000 toneladas, em 1990, para as 150.000 toneladas, em 2000, a frota pesqueira passou de 16.000 embarcações, para 10.750 e o número de pescadores matriculados diminuiu, no mesmo período, de 41.000 para 25.000, ao mesmo tempo que a capacidade de produção da indústria conserveira se terá reduzido em mais de 60%, sendo ainda mais significativa a redução da actividade da indústria de construção naval."
Tudo isto tem um responsáveis, como há responsáveis para o estado a que chegou a pesca nacional, que obriga a que, tantas vezes imprudentemente, os homens saiam para o mar, porque a fome, às vezes, é maior que o medo. A fome. Assim, sem eufemismos, que tenho para mim que esta coisa dos eufemismos também é culpada pelo Estado a que chegámos.
As sucessivas crises têm rostos e têm culpados. Um deles é Cavaco. E chega de dizer que temos de fazer sacrifícios. Parafraseando Fernando Tordo: A crise é coisa demasiado cara para ser culpa dos pobres.
segunda-feira, maio 03, 2010
Debate
6ª FEIRA DIA 7 DE MAIO
21.30
DEBATE/SESSÃO DE ESCLARECIMENTO ( NO ÂMBITO DAS COMEMORAÇÕES DO 65ª ANIVERSÁRIO DA QUEDA DO REGIME NAZI- FASCISTA) NA JUNTA DE FREGUESIA DE MATOSINHOS, COM O CAMARADA MIGUEL URBANO TAVARES RODRIGUES (JORNALISTA E ESCRITOR).
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agenda
quarta-feira, abril 28, 2010
A PT também gosta deles novinhos...
Há instituições que gostam de apostar em novos valores, alguns bem fresquinhos. E não, não estou a falar de padres nem da igreja católica.
Na administração da PT, por exemplo, ficamos saber que não são todos filhos da mãe. Também há filhos do pai. Neste caso, filhos do pai que celebrizou a frase "no jobs for the boys". O Rui Pedro Soares, cujo perfil desapareceu daqui, nem sequer era o administrador mais novo da PT. Há outro, mais jovem, que chegou à administração da PT com 34 anos e que, por coincidência, dá pelo nome de Pedro Guimarães e Melo de Oliveira Guterres. Não sei por quem foi nomeado, não sei se foi pelos accionistas ou se tem a ver com a golden share. Sei que as más línguas dizem que este Pedro Guimarães e Melo de Oliveira Guterres é o mesmo que este.
Mais: Tendo nascido em 1977, a pessoa em causa trabalhou na Merryl Lynch Investment Banking entre 1997 e 2000. Aos 20 anos já dava cartas no mundo da finança. Há gajos com sorte. E com mérito, presumo eu. Ou então são só coincidências.
Na administração da PT, por exemplo, ficamos saber que não são todos filhos da mãe. Também há filhos do pai. Neste caso, filhos do pai que celebrizou a frase "no jobs for the boys". O Rui Pedro Soares, cujo perfil desapareceu daqui, nem sequer era o administrador mais novo da PT. Há outro, mais jovem, que chegou à administração da PT com 34 anos e que, por coincidência, dá pelo nome de Pedro Guimarães e Melo de Oliveira Guterres. Não sei por quem foi nomeado, não sei se foi pelos accionistas ou se tem a ver com a golden share. Sei que as más línguas dizem que este Pedro Guimarães e Melo de Oliveira Guterres é o mesmo que este.
Mais: Tendo nascido em 1977, a pessoa em causa trabalhou na Merryl Lynch Investment Banking entre 1997 e 2000. Aos 20 anos já dava cartas no mundo da finança. Há gajos com sorte. E com mérito, presumo eu. Ou então são só coincidências.
A falar é que a gente se entende - ou então não
Ontem fui a Braga conversar com o Filipe Moura e o Luís Aguiar. Foi em Braga, n'A Brasileira, e a Cátia Castro, com arte e mérito, fez o favor manter ordem na casa. Passa hoje na RUM, às 20h00, e ficará para a história. Mas só porque também existirá em podcast.
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agenda
segunda-feira, abril 26, 2010
quinta-feira, abril 22, 2010
Novo blog
A Esquerda ganha novo contributo na blogosfera. Desta vez pela mão do deputado António Filipe, do PCP, que apresenta o seu Caderno de Apontamentos. Bem-vindo!
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pcp
quinta-feira, abril 15, 2010
Outra vez Alegre
Há por este humilde espaço uma série de posts sobre Manuel Alegre, escritos ao longo da penosa e eterna campanha presidencial em que o poeta decidiu lançar-se há uns anos. Não há muito mais que possa dizer, para além de reiterar que não votarei Alegre. Aliás, mais depressa votaria em Manuel João Vieira.
Por vários motivos. Alegre não quer ser o candidato do PS, quer ser candidato e pronto, levando como refém o partido em que milita há demasiados anos, para ser uma verdadeira alternativa. Se é um facto que a candidatura presidencial é unipessoal, Alegre não devia avançar sem, pelo menos, haver indícios de que havia consultado a sua "família", segundo o próprio.
Do outro lado, a direcção do Bloco que numa espécie de ejaculação precoce, em poucas horas decretou o apoio ao poeta. Agora, como já aqui foi referido mais abaixo, a posição pode resultar nas primeiras fissuras no imaculado Bloco, tendo em conta a simpatia que alguns sentem por Fernando Nobre. Pessoalmente, não acredito que o BE reveja a sua posição, mesmo à custa de uma Convenção Extraordinária, pelo que será curioso e digno de registo ver Alegre ao centro, com Louçã e Sócrates de braço dado.
Já o PCP anunciou que terá um candidato próprio, o que Alegre também desvalorizou, para dizer que "nunca a esquerda perdeu umas presidenciais por causa do PCP". Pois não. Mas não estamos na década de 80 e, se Soares enganou muita gente, Alegre não deixa margem para enganos. Foi conivente, durante décadas, com as políticas do PS, incluindo com o PS de Sócrates, para quem até pediu uma segunda maioria absoluta.
Num ponto estou de acordo com Alegre, nunca será o PCP a impedir uma vitória da esquerda. Mas para o PCP não impedir uma vitória da esquerda, era preciso que houvesse, numa hipotética segunda volta entre Alegre e Cavaco, algum candidato de esquerda.
Por vários motivos. Alegre não quer ser o candidato do PS, quer ser candidato e pronto, levando como refém o partido em que milita há demasiados anos, para ser uma verdadeira alternativa. Se é um facto que a candidatura presidencial é unipessoal, Alegre não devia avançar sem, pelo menos, haver indícios de que havia consultado a sua "família", segundo o próprio.
Do outro lado, a direcção do Bloco que numa espécie de ejaculação precoce, em poucas horas decretou o apoio ao poeta. Agora, como já aqui foi referido mais abaixo, a posição pode resultar nas primeiras fissuras no imaculado Bloco, tendo em conta a simpatia que alguns sentem por Fernando Nobre. Pessoalmente, não acredito que o BE reveja a sua posição, mesmo à custa de uma Convenção Extraordinária, pelo que será curioso e digno de registo ver Alegre ao centro, com Louçã e Sócrates de braço dado.
Já o PCP anunciou que terá um candidato próprio, o que Alegre também desvalorizou, para dizer que "nunca a esquerda perdeu umas presidenciais por causa do PCP". Pois não. Mas não estamos na década de 80 e, se Soares enganou muita gente, Alegre não deixa margem para enganos. Foi conivente, durante décadas, com as políticas do PS, incluindo com o PS de Sócrates, para quem até pediu uma segunda maioria absoluta.
Num ponto estou de acordo com Alegre, nunca será o PCP a impedir uma vitória da esquerda. Mas para o PCP não impedir uma vitória da esquerda, era preciso que houvesse, numa hipotética segunda volta entre Alegre e Cavaco, algum candidato de esquerda.
quarta-feira, abril 14, 2010
Marcha Contra as Portagens nas SCUT - Agenda
MARCHA CONTRA AS PORTAGENS NAS SCUT
(Grande Porto, Costa da Prata, Litoral Norte)
Dia 17 de Abril (sábado)
PONTOS E HORAS DE PARTIDA
a sair em direcção à Av. dos Aliados, no Porto
- Viana:Campo da Agonia - 14h
- Esposende: Largo do Mercado - 14h30m
- Barcelos: Campo da Feira - 14h
- Vila do Conde: Av. Dr. Júlio Graça - 14h30m
- Póvoa de Varzim: Central Camionagem - 14h30m
- Sto. Tirso: Rotunda Agrela - 14h30m
- Matosinhos: Piscinas Perafita - 14h30m
- Maia: Largo Requeixo, junto ao Maia Jardim - 14h30m
- Porto: Rotunda Castelo do Queijo - 14h30m
- Gaia: Centro Tecnológico em S. Félix da Marinha - 15h
- Vale do Sousa: Largo da Feira de Lousada - 14h30m
- Gondomar: Ex Mercado Rio Tinto - 14h30m
- Valongo: Rotunda da A41 em Alfena - 14h30
- Aveiro: Rotunda EN 109 em Avanca/Estarreja - 14h30m
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agenda
terça-feira, abril 13, 2010
Um novo PSD igualzinho ao anterior, mas com boa imprensa
Já está. Conforme se previa aqui, Passos Coelho já é líder do PSD. Em 15 dias, o PSD realizou dois congressos e teve ainda tempo para umas directas, numa capacidade organizativa de fazer corar de inveja qualquer agência de eventos. Este foi o XXXIII congresso do PSD, quase tantos como anos de vida, numa belíssima imagem de estabilidade interna de um dos partidos que se diz alternativa de Governo.
Deste último congresso, segundo o que consegui ouvir nos intervalos do comentário político, saiu um novo PSD, um PSD renovado, com Miguel Relvas como secretário-geral pela terceira vez, com Rangel - sim, o mesmo que acusou Passos-Coelho de estar a fazer favores a Sócrates durante um debate - no Conselho Nacional e a Aguiar Branco, líder parlamentar de Ferreira Leite, caberá rever o programa do partido.
Nas propostas, encontramos menos estado, uma revisão constitucional, menos estado, mais privatizações, incluindo a RTP, menos estado, contenção salarial e menos estado.
Temos um PSD renovado, portanto.
Deste último congresso, segundo o que consegui ouvir nos intervalos do comentário político, saiu um novo PSD, um PSD renovado, com Miguel Relvas como secretário-geral pela terceira vez, com Rangel - sim, o mesmo que acusou Passos-Coelho de estar a fazer favores a Sócrates durante um debate - no Conselho Nacional e a Aguiar Branco, líder parlamentar de Ferreira Leite, caberá rever o programa do partido.
Nas propostas, encontramos menos estado, uma revisão constitucional, menos estado, mais privatizações, incluindo a RTP, menos estado, contenção salarial e menos estado.
Temos um PSD renovado, portanto.
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quinta-feira, abril 08, 2010
Patrioteiros
Somos facilmente indignáveis. Agora indignamo-nos contra a população de Valença, aqueles desnaturados que traem a pátria e usam bandeiras do país vizinho. E tudo isto só porque a pátria lhes leva o pouco que lhes resta, a saúde. Em compensação, dá-lhes estradas e auto-estradas - agora portajadas - que não levam coisa alguma, só trazem tudo para sítios onde o tudo está bem acima daquilo que necessitamos.
A ingratidão é uma coisa feia e nós, porque estamos cada vez mais nas inúmeras grandes cidades que temos e que se contam pelos dois dedos de uma mão, só temos é de ser gratos à nação pela forma como nos trata.
Pouco importa se as populações fora de Lisboa e Porto já não vivem, sobrevivem. Estamos num tempo de crise, que até é sempre uma coisa nova para nós. Pelo menos, há-de sempre haver uma nova para que pensemos que a crise anterior é que era boa. E isso parece que nos conforta.
À boleia da crise, fecha-se o país aos bocadinhos, aquele país que parece tão longe que só vemos em (grandes) reportagens sobre pastores. Ou no dia do idoso, vá lá. Enquanto vivemos afogados no cimento em frente ao mar, nem nos apercebemos que há populações envelhecidas, que não têm nem automóvel, nem autocarro, nem comboio, muito menos lá para os lados do Tua.
A indignação bacoca de algumas pessoas para com as bandeiras espanholas em Valença leva-os a esquecer o essencial. Que há todo um país que não tem mar e corre sérios riscos de passar a ter coisa nenhuma. E duvido que a pátria tenha ficado agradecida pelas bandeiras do EURO2004. Mesmo tendo sido bandeiras portuguesas.
Confortavelmente instalados à beira-mar, até parece que vivemos bem.
Já agora, vamos assinar isto, que não dói e é livre de impostos...
A ingratidão é uma coisa feia e nós, porque estamos cada vez mais nas inúmeras grandes cidades que temos e que se contam pelos dois dedos de uma mão, só temos é de ser gratos à nação pela forma como nos trata.
Pouco importa se as populações fora de Lisboa e Porto já não vivem, sobrevivem. Estamos num tempo de crise, que até é sempre uma coisa nova para nós. Pelo menos, há-de sempre haver uma nova para que pensemos que a crise anterior é que era boa. E isso parece que nos conforta.
À boleia da crise, fecha-se o país aos bocadinhos, aquele país que parece tão longe que só vemos em (grandes) reportagens sobre pastores. Ou no dia do idoso, vá lá. Enquanto vivemos afogados no cimento em frente ao mar, nem nos apercebemos que há populações envelhecidas, que não têm nem automóvel, nem autocarro, nem comboio, muito menos lá para os lados do Tua.
A indignação bacoca de algumas pessoas para com as bandeiras espanholas em Valença leva-os a esquecer o essencial. Que há todo um país que não tem mar e corre sérios riscos de passar a ter coisa nenhuma. E duvido que a pátria tenha ficado agradecida pelas bandeiras do EURO2004. Mesmo tendo sido bandeiras portuguesas.
Confortavelmente instalados à beira-mar, até parece que vivemos bem.
Já agora, vamos assinar isto, que não dói e é livre de impostos...
terça-feira, abril 06, 2010
Eu também estou solidário, Mexia
Fico sempre comovido quando alguém sai em defesa dos fracos e oprimidos. Hoje foi a vez do Paulo Ferreira, no Jornal de Notícias. O jornalista sai em defesa do pobrezinho do António Mexia, que vai receber um prémio de apenas 3,1 milhões de euros. O Paulo Ferreira não quer que os ricos paguem a crise e eu discordo. Por uma vez, só uma, acho que deviam, pelo menos, ajudar a pagá-la.
Para o Paulo Ferreira, a contestação ao prémio do Mexia é fruto da "inveja social", que considera ser "uma atávica característica dos portugueses". E quem fala assim, não só não é gago, como só pode ser estrangeiro. Claro que nunca é fácil criticar (algumas) figuras públicas, por isso, o autor esclarece que não é a inveja que move "move Seguro, Amaral, Neto e muitos dos que com eles concordam". Ficamos então sem perceber onde entra a inveja: Se nos portugueses todos ou apenas nos portugueses que não são ex-ministros, administradores ou ex-administradores.
O suprema explicação para o prémio de gestores como Mexia vem na conclusão, que por acaso é óbvia desde a primeira linha do artigo: "Portugal precisa como de pão para a boca é mesmo de gente com mérito e capacidade de trabalho". Deixo claro que concordo com o princípio. Portugal precisa de gente com mérito e capacidade de trabalho, mas não apenas de gestores e administradores com mérito e capacidade de trabalho.
O Paulo Ferreira, acérrimo críticos de direitos laborais consagrados na Constituição, devia lembrar-se que há gente com mérito e capacidade de trabalho fora dos gabinetes dos administradores, empregados e assalariados que todos os dias dão o seu melhor e o prémio que recebem é, na maioria das vezes, o salário mínimo.
Mas pode o Paulo Ferreira ficar descansado, que Mexia receberá a remuneração justa, apesar das críticas. Hoje mesmo, a EDP anunciou que "António Mexia vê reduzido o prémio anual de 100% para 80% do salário, mas terá um bónus no final do mandato, em 2011, de cerca de 120% do salário fixo."
Está feita justiça.
PS: Dou de barato que o Paulo Ferreira duvide dos lucros astronómicos da banca. Afinal, o "astronómico" é subjectivo. Mas podia ser intelectualmente honesto e lembrar-se dos benefícios fiscais obscenos, insultuosos e injustificados daquele sector.
Para o Paulo Ferreira, a contestação ao prémio do Mexia é fruto da "inveja social", que considera ser "uma atávica característica dos portugueses". E quem fala assim, não só não é gago, como só pode ser estrangeiro. Claro que nunca é fácil criticar (algumas) figuras públicas, por isso, o autor esclarece que não é a inveja que move "move Seguro, Amaral, Neto e muitos dos que com eles concordam". Ficamos então sem perceber onde entra a inveja: Se nos portugueses todos ou apenas nos portugueses que não são ex-ministros, administradores ou ex-administradores.
O suprema explicação para o prémio de gestores como Mexia vem na conclusão, que por acaso é óbvia desde a primeira linha do artigo: "Portugal precisa como de pão para a boca é mesmo de gente com mérito e capacidade de trabalho". Deixo claro que concordo com o princípio. Portugal precisa de gente com mérito e capacidade de trabalho, mas não apenas de gestores e administradores com mérito e capacidade de trabalho.
O Paulo Ferreira, acérrimo críticos de direitos laborais consagrados na Constituição, devia lembrar-se que há gente com mérito e capacidade de trabalho fora dos gabinetes dos administradores, empregados e assalariados que todos os dias dão o seu melhor e o prémio que recebem é, na maioria das vezes, o salário mínimo.
Mas pode o Paulo Ferreira ficar descansado, que Mexia receberá a remuneração justa, apesar das críticas. Hoje mesmo, a EDP anunciou que "António Mexia vê reduzido o prémio anual de 100% para 80% do salário, mas terá um bónus no final do mandato, em 2011, de cerca de 120% do salário fixo."
Está feita justiça.
PS: Dou de barato que o Paulo Ferreira duvide dos lucros astronómicos da banca. Afinal, o "astronómico" é subjectivo. Mas podia ser intelectualmente honesto e lembrar-se dos benefícios fiscais obscenos, insultuosos e injustificados daquele sector.
Serviço Público - Parque Escolar
O Tiago Mota Saraiva tem no 5Dias um extenso dossiê sobre os escandalosos ajustes directos da empresa Parque Escolar. Simultaneamente, decorre esta petição, que já assinei, e apelo a todos os visitantes - todos os 3, sim - que assinem também!
quinta-feira, abril 01, 2010
Sindicalismo moderno
Há quase um ano, escrevi aqui que António Chora, sindicalista-modelo do Bloco de Esquerda, é ingénuo. Agora, é ingénuo e mais qualquer coisa. Repito: Este é o sindicalista modelo do Bloco, enfiado em reuniões secretas com administradores da Autoeuropa. A ler no Cantigueiro do Samuel.
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quarta-feira, março 31, 2010
Quanto custa um trabalhador?
Voltou a estar na ordem do dia a luta dos enfermeiros pela equiparação salarial aos licenciados de outras áreas que entram na Função Pública, auferindo 1.200 euros mensais. E eu, de forma gratuita e sem dados que o comprovassem, disse que a tributação justa das mais-valias bolsistas serviam para pagar a colocação dos enfermeiros na posição remuneratória adequada durante 20 anos. No entanto, não encontrei dados objectivos sobre este facto. Encontrei outros, sobre a tributação à banca, feita a 15%, quando para as restantes empresas é de 25%. Vamos, portanto, aos factos:
Segundo a ministra da Saúde, há 6.000 enfermeiros que deveriam ser recolocados na posição remuneratória dos 1.200 euros . O salário dos enfermeiros que entram na Função Pública é de 1.020 euros. Tomando este valor chegamos a um reposição na tabela no valor de 180 euros, que pode muito bem ser inferior, atendendo a enfermeiros que ganhem mais por estarem noutras posições remuneratórias. Mesmo assim, façamos as contas:
Um aumento de 180 euros durante 14 meses vale 2.520 euros anuais para cada enfermeiro. Multiplicado por 6.000, custaria ao Estado 15.120.000 de euros anuais. Ora, 15.120.000 de euros é uma pipa de massa. E todos concordamos neste ponto.
Entra aqui a história dos sacrifícios repartidos, da situação difícil, do abismo e da insensibilidade dos sindicatos perante o país. Vejamos com factos a distribuição dos esforços:
"Segundo a dados da APB, no período 2005-2008, ou seja, com este governo, os bancos representados nesta Associação tiveram 10.588 milhões de euros de lucros. Por estes lucros a banca só pagou 1.584 milhões de euros de imposto, o que corresponde a uma taxa efectiva média de apenas 15%. Se a banca tivesse pago a taxa legal (25% de IRC mais 2,5% de Derrama) o Estado teria arrecadado mais 1.328 milhões de euros de receita."
Temos assim 1.328 milhões de receita perdida. Dividindo o valor pelos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008, chegamos a cerca de 330.000.000 por ano. Pegando nos 15.120.000 euros que custará este ano a actualização dos salários dos enfermeiros e multiplicando por 20 o número de anos em questão, chegamos ao valor de 302.400.000 euros.
E pronto.
Segundo a ministra da Saúde, há 6.000 enfermeiros que deveriam ser recolocados na posição remuneratória dos 1.200 euros . O salário dos enfermeiros que entram na Função Pública é de 1.020 euros. Tomando este valor chegamos a um reposição na tabela no valor de 180 euros, que pode muito bem ser inferior, atendendo a enfermeiros que ganhem mais por estarem noutras posições remuneratórias. Mesmo assim, façamos as contas:
Um aumento de 180 euros durante 14 meses vale 2.520 euros anuais para cada enfermeiro. Multiplicado por 6.000, custaria ao Estado 15.120.000 de euros anuais. Ora, 15.120.000 de euros é uma pipa de massa. E todos concordamos neste ponto.
Entra aqui a história dos sacrifícios repartidos, da situação difícil, do abismo e da insensibilidade dos sindicatos perante o país. Vejamos com factos a distribuição dos esforços:
"Segundo a dados da APB, no período 2005-2008, ou seja, com este governo, os bancos representados nesta Associação tiveram 10.588 milhões de euros de lucros. Por estes lucros a banca só pagou 1.584 milhões de euros de imposto, o que corresponde a uma taxa efectiva média de apenas 15%. Se a banca tivesse pago a taxa legal (25% de IRC mais 2,5% de Derrama) o Estado teria arrecadado mais 1.328 milhões de euros de receita."
Temos assim 1.328 milhões de receita perdida. Dividindo o valor pelos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008, chegamos a cerca de 330.000.000 por ano. Pegando nos 15.120.000 euros que custará este ano a actualização dos salários dos enfermeiros e multiplicando por 20 o número de anos em questão, chegamos ao valor de 302.400.000 euros.
E pronto.
terça-feira, março 30, 2010
O estranho silêncio dos pecadores
Não faço generalizações, como acusa hoje o Ferreira Fernandes, no DN. Tudo bem, não me acusa directamente, que o senhor não me conhece, mas acusa um bocadinho.
O que (ainda?) choca na pedofilia na igreja católica é o papel que desempenha(?) como representante da moral, do apontamento dos erros dos outros, do perdão a troco de duas velas, da salvação. Sou orgulhosamente pecador e esclareço desde já que não procuro nem quero salvação. Até porque o meu Tio-João-Padre, jesuíta, há-de arranjar qualquer coisa quando chegar a altura.
A igreja é assassina hoje como foi no passado. Desaconselhar o uso do preservativo é criminoso, como é criminoso ver as mulheres como parideiras de potenciais crentes. E nem vale a pena lançar agora a discussão do celibato, porque não é o fim do celibato que acaba com a pedofilia.
Sobre este assunto, a "esquerda democrática e fracturante" no poder, junto com os seus acólitos da blogosfera, anda estranhamente sossegada. Um post aqui, outro acolá. Dos mesmos apaixonados pró-aborto e pró-casamento homossexual, que tanto ajudaram, e bem, nas duas causas. E nem o laico Mário Soares aborda claramente o assunto, também no DN de hoje.
A "esquerda" do PS português é um fenómeno. São os reflexos de terem transformado, há uns anos, casos semelhantes em luta política. Nesta matéria, como noutras, rabos de palha, pois claro, e todos sabemos quais os motivos.
O que (ainda?) choca na pedofilia na igreja católica é o papel que desempenha(?) como representante da moral, do apontamento dos erros dos outros, do perdão a troco de duas velas, da salvação. Sou orgulhosamente pecador e esclareço desde já que não procuro nem quero salvação. Até porque o meu Tio-João-Padre, jesuíta, há-de arranjar qualquer coisa quando chegar a altura.
A igreja é assassina hoje como foi no passado. Desaconselhar o uso do preservativo é criminoso, como é criminoso ver as mulheres como parideiras de potenciais crentes. E nem vale a pena lançar agora a discussão do celibato, porque não é o fim do celibato que acaba com a pedofilia.
Sobre este assunto, a "esquerda democrática e fracturante" no poder, junto com os seus acólitos da blogosfera, anda estranhamente sossegada. Um post aqui, outro acolá. Dos mesmos apaixonados pró-aborto e pró-casamento homossexual, que tanto ajudaram, e bem, nas duas causas. E nem o laico Mário Soares aborda claramente o assunto, também no DN de hoje.
A "esquerda" do PS português é um fenómeno. São os reflexos de terem transformado, há uns anos, casos semelhantes em luta política. Nesta matéria, como noutras, rabos de palha, pois claro, e todos sabemos quais os motivos.
sexta-feira, março 26, 2010
Nada
Zero. É redondo, eu sei, anafadinho. Nos tempos em que gordura era formosura há-de ter sido um número belo. Hoje, o zero só vale à direita. Seja do que for.
Na política, um zero à direita tem valor, mesmo quando é um zero à esquerda e se posiciona no lado canhoto do hemiciclo.
É o preconceito contra o lado certo da coisa. O zero é nada. Nada é o que nós temos e o que a política dominante nos oferece todos os dias: zero.
As agências funerárias do povo gerem as expectativas do poder, mascaradas de ratings. Dizem elas que são árbitro. Melhor, avaliam. Avaliam quanto vale o que temos e o que produzimos. Não avaliam o que queremos nem o que não produzimos porque não nos deixam. E são os mesmos que fazem de árbitro em todo o sistema. Quem são eles? Ninguém sabe ao certo. Serão uma entidade abstracta, filosófica ou qualquer coisa parecida.
Hoje, o nosso Escudo vale zero. Há uns anos, valia pouco, mas pouco é melhor que nada. Por incrível que pareça, quando 200 escudos valiam 1 euro, 200 escudos tinham mais valor que 1 euro. Eu explico: Comprávamos mais com 200 escudos do que passámos a comprar com 1 euro, no minuto a seguir a entrar em vigor.
Para que serviu o euro? Nada. Para o comum dos mortais, nada. Serviu para conter os salários, logo, reduzir custos de produção, o que, associado ao aumento de preços, explica a paixão do capital e dos governos capitalistas pela moeda única.
Somos governados por zeros à direita. E, curiosamente, parecemos gostar.
Na política, um zero à direita tem valor, mesmo quando é um zero à esquerda e se posiciona no lado canhoto do hemiciclo.
É o preconceito contra o lado certo da coisa. O zero é nada. Nada é o que nós temos e o que a política dominante nos oferece todos os dias: zero.
As agências funerárias do povo gerem as expectativas do poder, mascaradas de ratings. Dizem elas que são árbitro. Melhor, avaliam. Avaliam quanto vale o que temos e o que produzimos. Não avaliam o que queremos nem o que não produzimos porque não nos deixam. E são os mesmos que fazem de árbitro em todo o sistema. Quem são eles? Ninguém sabe ao certo. Serão uma entidade abstracta, filosófica ou qualquer coisa parecida.
Hoje, o nosso Escudo vale zero. Há uns anos, valia pouco, mas pouco é melhor que nada. Por incrível que pareça, quando 200 escudos valiam 1 euro, 200 escudos tinham mais valor que 1 euro. Eu explico: Comprávamos mais com 200 escudos do que passámos a comprar com 1 euro, no minuto a seguir a entrar em vigor.
Para que serviu o euro? Nada. Para o comum dos mortais, nada. Serviu para conter os salários, logo, reduzir custos de produção, o que, associado ao aumento de preços, explica a paixão do capital e dos governos capitalistas pela moeda única.
Somos governados por zeros à direita. E, curiosamente, parecemos gostar.
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terça-feira, março 23, 2010
Claques, pancadaria, leis, LPFP, FPF, clubes e dirigentes
No domingo, depois da final da Taça da Liga, ouvi um bocadinho daquela espécie de programa do Rui Santos, na SIC Notícias, onde estava chocado com os lamentáveis incidentes entre adeptos. Estamos todos, perceba-se. Mas dizer que só agora atingimos o limite é de alguém que não vê futebol nas bancadas há muito tempo. Eu explico:
Ir ao futebol na década de 90 era incomensuravelmente mais perigoso do que ir ao futebol nos dias de hoje. A violência era constante em todos os jogos, não só nos jogos grandes, e qualquer clube, de qualquer divisão, tinha uma claque organizada. E os confrontos eram constantes, talvez menos graves, porque a média etária, devido ao fenómeno recente que era o mundo ultra, era bem mais baixa do que a actual.
As claques dentro das quatro linhas
A violência nas bancadas é um problema grave, que já foi bem pior, mas que importa combater. No entanto, é ridículo procurar acabar com a violência nas bancadas ao mesmo tempo que se legitima a violência dentro de campo. E isto acontece todas as semanas, nos programas pós-jornada, independentemente das cores clubísticas. Discute-se a intensidade dos lances mas a intenção passa ao lado.
As claques e os dirigentes
O fenómeno das claques e a dimensão que atingiram fizeram delas as guardas pretorianas de alguns dirigentes. Confrontar uma claque é meio caminho andado para perder um apoio significativo. Actualmente, algumas claques assumem mesmo papéis preponderantes em alguns clubes, como acontece no Sporting, por exemplo, ou assumem uma vertente empresarial, como acontece com a principal claque do FC Porto.
As claques, a LPFP e a FPF
Não é a estas instituições que cabe resolver o problema da violência fora de campo, mas podem, pelo menos, procurar não oferecer as armas. Um jogo num estádio com uma zona envolvente como existe nos estádio do Algarve ou do Jamor é uma irresponsabilidade tremenda.
As claques e as leis
A lei das claques, aprovada em 2004, é a tentativa de resolver por decreto o que não se resolve por decreto. A ilegalização das claques que não estejam registadas por lei só teve um efeito: Aumentar a tensão com as forças de segurança, obrigadas a cumprir - mais - uma má lei. Obviamente, não é por uma claque não estar legalizada que os seus membros deixarão de ir ao estádio, exactamente no mesmo local de sempre, com as mesmas pessoas ao lado. A proibição de usar o símbolo da claque não resolve problema algum, apenas o esconde.
Ao mesmo tempo, uma claque que formalmente não existe, que não pode ostentar os seus símbolos, torna-se muito mais difícil de ser controlada pela polícia. Evidentemente, não são as claques que devem ser sancionadas pelos desacatos, mas sim os elementos que os praticam. A lei das claques prevê a videovigilância nos estádios para que os prevaricadores sejam identificados. Depois, é uma questão de justiça, não é de futebol.
As claques e o Dias Ferreira
Dias Ferreira disse há pouco na SIC que é necessário diferenciar as claques legalizadas das não legalizadas. Segundo o sportinguista, "as que não estão legalizadas, não entram no estádio". Ora, seria prático e fácil de resolver se as claques fossem, sei lá, um guarda-chuva. Um guarda-chuva fica à porta, uma claque que não existe legalmente, não é legalmente uma claque, é um grupo de adeptos que, por coincidência, assiste ao jogo na mesma curva e entoa os mesmos cânticos.
Eu e as claques
Já pertenci, ainda que de forma não oficial, sem cartão, a três claques. Abandonei-as por motivos pessoais. Conheci boas e más pessoas. Vi alegria, dedicação, festejos, tristezas e violência. Basicamente, vi tudo aquilo que vejo todos os dias fora das claques. Basta ligar a tv ou o computador. As claques por si só não são um mal e muito menos são um caso de futebol. Delas fazem parte pessoas que são um problema de polícia e de justiça.
Ir ao futebol na década de 90 era incomensuravelmente mais perigoso do que ir ao futebol nos dias de hoje. A violência era constante em todos os jogos, não só nos jogos grandes, e qualquer clube, de qualquer divisão, tinha uma claque organizada. E os confrontos eram constantes, talvez menos graves, porque a média etária, devido ao fenómeno recente que era o mundo ultra, era bem mais baixa do que a actual.
As claques dentro das quatro linhas
A violência nas bancadas é um problema grave, que já foi bem pior, mas que importa combater. No entanto, é ridículo procurar acabar com a violência nas bancadas ao mesmo tempo que se legitima a violência dentro de campo. E isto acontece todas as semanas, nos programas pós-jornada, independentemente das cores clubísticas. Discute-se a intensidade dos lances mas a intenção passa ao lado.
As claques e os dirigentes
O fenómeno das claques e a dimensão que atingiram fizeram delas as guardas pretorianas de alguns dirigentes. Confrontar uma claque é meio caminho andado para perder um apoio significativo. Actualmente, algumas claques assumem mesmo papéis preponderantes em alguns clubes, como acontece no Sporting, por exemplo, ou assumem uma vertente empresarial, como acontece com a principal claque do FC Porto.
As claques, a LPFP e a FPF
Não é a estas instituições que cabe resolver o problema da violência fora de campo, mas podem, pelo menos, procurar não oferecer as armas. Um jogo num estádio com uma zona envolvente como existe nos estádio do Algarve ou do Jamor é uma irresponsabilidade tremenda.
As claques e as leis
A lei das claques, aprovada em 2004, é a tentativa de resolver por decreto o que não se resolve por decreto. A ilegalização das claques que não estejam registadas por lei só teve um efeito: Aumentar a tensão com as forças de segurança, obrigadas a cumprir - mais - uma má lei. Obviamente, não é por uma claque não estar legalizada que os seus membros deixarão de ir ao estádio, exactamente no mesmo local de sempre, com as mesmas pessoas ao lado. A proibição de usar o símbolo da claque não resolve problema algum, apenas o esconde.
Ao mesmo tempo, uma claque que formalmente não existe, que não pode ostentar os seus símbolos, torna-se muito mais difícil de ser controlada pela polícia. Evidentemente, não são as claques que devem ser sancionadas pelos desacatos, mas sim os elementos que os praticam. A lei das claques prevê a videovigilância nos estádios para que os prevaricadores sejam identificados. Depois, é uma questão de justiça, não é de futebol.
As claques e o Dias Ferreira
Dias Ferreira disse há pouco na SIC que é necessário diferenciar as claques legalizadas das não legalizadas. Segundo o sportinguista, "as que não estão legalizadas, não entram no estádio". Ora, seria prático e fácil de resolver se as claques fossem, sei lá, um guarda-chuva. Um guarda-chuva fica à porta, uma claque que não existe legalmente, não é legalmente uma claque, é um grupo de adeptos que, por coincidência, assiste ao jogo na mesma curva e entoa os mesmos cânticos.
Eu e as claques
Já pertenci, ainda que de forma não oficial, sem cartão, a três claques. Abandonei-as por motivos pessoais. Conheci boas e más pessoas. Vi alegria, dedicação, festejos, tristezas e violência. Basicamente, vi tudo aquilo que vejo todos os dias fora das claques. Basta ligar a tv ou o computador. As claques por si só não são um mal e muito menos são um caso de futebol. Delas fazem parte pessoas que são um problema de polícia e de justiça.
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quarta-feira, março 17, 2010
A casa dos outros
Nada tenho a ver com a vida interna do PSD, nem de outro qualquer partido que não seja o meu. No entanto, a impreparação e amadorismo dos três candidatos à liderança do PSD, mas também do restante aparelho, são anedóticas. Não é preciso ser um génio para perceber que a norma aprovada em congresso seria aproveitada politicamente pelo PS - de uma forma ainda mais absurda, levando o caso à AR.
Por isso, não deixa de ser curioso que ninguém no PSD, antes da aprovação - então uma hipótese que veio a verificar-se - se tenha lembrado de passar os olhos pelos estatutos do PS, e verificar o artigo 94.º. Não era preciso muito.
Noutra casa, noutro quadrante, decorre uma novela que passa ao lado dos media dominantes.
Logo que Alegre anunciou a candidatura à presidência, o Bloco anunciou o seu apoio. Pareceu-me, logo na altura, precipitado, mas, lá está, é na casa dos outros. Mais recentemente, Nobre apresentou também a sua candidatura, que agradou a muita gente do BE. Agora, um grupo de militantes pretende uma convenção extraordinária- um congresso, para quem não sabe - para rever a questão.
A direcção do Bloco - não sei se chama assim, mas não me apetece pesquisar o termo - ter-se-à pronunciado sobre a iniciativa, num comunicado que não encontro no site, que até já mereceu uma reacção contrária de um dos movimentos que esteve na origem do BE. O dono da blogosfera oficial bloquista já se pronunciou e faz de porta-voz da defesa da direcção. O link para o Arrastão surge apenas para que se perceba a história, tendo em conta a ausência de notícias. Ressalvo que deixei de visitar Arrastão aquando das mentiras que o dono do blog escreveu e jamais desmentiu.
O que aqui me preocupa não é a vida interna do Bloco. É antes o total silenciamento que esta questão está a merecer por parte da comunicação social. A única referência que vi surgiu numa breve do JN no sábado passado.
Na véspera de um dos actos eleitorais do ano passado, o Público divulgou uma notícia, que já não me lembro se foi manchete, mas que deu uma página inteira, com o abandono de um(!) militante do PCP, que, curiosamente, como veio a ser reconhecido, já estava longe política e ideologicamente do Partido. Qual é o critério da informação?
Esta não é uma questão menor. O BE tem cerca de 7.000 militantes e parece-me que são muito poucos para que esta divisão continue a passar ao lado de toda a imprensa. Se fosse num Partido que eu cá sei, a questão merecia outro tratamento, e é esse tratamento o objecto deste post.
Por isso, não deixa de ser curioso que ninguém no PSD, antes da aprovação - então uma hipótese que veio a verificar-se - se tenha lembrado de passar os olhos pelos estatutos do PS, e verificar o artigo 94.º. Não era preciso muito.
Noutra casa, noutro quadrante, decorre uma novela que passa ao lado dos media dominantes.
Logo que Alegre anunciou a candidatura à presidência, o Bloco anunciou o seu apoio. Pareceu-me, logo na altura, precipitado, mas, lá está, é na casa dos outros. Mais recentemente, Nobre apresentou também a sua candidatura, que agradou a muita gente do BE. Agora, um grupo de militantes pretende uma convenção extraordinária- um congresso, para quem não sabe - para rever a questão.
A direcção do Bloco - não sei se chama assim, mas não me apetece pesquisar o termo - ter-se-à pronunciado sobre a iniciativa, num comunicado que não encontro no site, que até já mereceu uma reacção contrária de um dos movimentos que esteve na origem do BE. O dono da blogosfera oficial bloquista já se pronunciou e faz de porta-voz da defesa da direcção. O link para o Arrastão surge apenas para que se perceba a história, tendo em conta a ausência de notícias. Ressalvo que deixei de visitar Arrastão aquando das mentiras que o dono do blog escreveu e jamais desmentiu.
O que aqui me preocupa não é a vida interna do Bloco. É antes o total silenciamento que esta questão está a merecer por parte da comunicação social. A única referência que vi surgiu numa breve do JN no sábado passado.
Na véspera de um dos actos eleitorais do ano passado, o Público divulgou uma notícia, que já não me lembro se foi manchete, mas que deu uma página inteira, com o abandono de um(!) militante do PCP, que, curiosamente, como veio a ser reconhecido, já estava longe política e ideologicamente do Partido. Qual é o critério da informação?
Esta não é uma questão menor. O BE tem cerca de 7.000 militantes e parece-me que são muito poucos para que esta divisão continue a passar ao lado de toda a imprensa. Se fosse num Partido que eu cá sei, a questão merecia outro tratamento, e é esse tratamento o objecto deste post.
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olha tantas esquerdas,
pcp,
ps,
psd
quarta-feira, março 10, 2010
Olé!
Na semana passada fui à bola. Há anos que não via o Leça no nosso estádio, porque só há um domingo à tarde por semana e, por norma, passo-o trabalhar. O nosso estádio deixou-me triste, também pelas pessoas que não tem nas bancadas, que ajudariam com certeza a esconder a degradação. São os custos do tombo do Leça, pois claro, de que um dia talvez fale aqui. Mas isso são outros quinhent(inh)os.
Tive a sorte de ver o Leça espetar cinco secos ao Pedrouços. Sofremos um golito, pronto, não porque o adversário tenha merecido, mas só porque somos boa gente. E fomos descaradamente roubados, porque o Leça é sempre roubado e, mesmo quando ganha por cinco, merece ganhar por seis.
Vi o jogo ali por baixo do aquário do speaker. Eu não acho que o Leça deva ter um speaker. Que tenha antes um falador ou, no máximo, o homem da sonora. Ao lado estavam uns infiltrados do Pedrouços, na bancada coberta, porque estava a chover muito e não queremos os nossos adversários doentes; queremo-los vivos e de boa saúde para que possamos ganhar-lhes.
Minutos depois de o Pedrouços chegar ao golo de honra, as coisas aqueceram, mas só no relvado. O Leão pediu penalty e, da bancada, surgiram os insultos - os leceiros insultavam o Leão e o avançado que estragou a nossa relva; a malta de Pedrouços insultava o árbitro. A Esperança desceu da bancada, indignada com a ousadia do Leão, e foi à rede chamar-lhe malcriado. Malcriado, sim. E chamou-lhe malcriado e mandou-o de volta para a útero da mãe que o deu à luz, mas sem o eufemismo.
A beleza do futebol está nestas coisas. Na emotividade e irracionalidade da coisa. Nos desabafos que se ouvem nas bancadas e que despejam uma semana inteira de frustrações. Há no futebol a coisa muito portuguesa de piscar o olho e estalar a língua, com um sorriso malandro, sempre que um adversário perde e nós ganhamos. É assim e é bem, porque é democrático e acontece a todos.
A indignação politicamente correcta com os assobios e os olés ficarão bem diplomaticamente, mas caem mal nos adeptos e não é difícil perceber porquê. Ao contrário dos jogadores do Leça, a quem se perdoa facilmente um pontapé na atmosfera ou um golo certo perdido à boca da baliza, os jogadores de futebol que representam a selecção nacional ganham num ano aquilo que muitas pessoas não ganham numa vida de trabalho. Por isso, têm de jogar sempre como se fosse a última vez.
Ao contrário do que diz o seleccionador, não são os adeptos que não devem ir ao estádio se vão para assobiar a equipa; são antes os jogadores que não devem entrar em campo se não estão preparados ou motivados para fazer aquilo que leva as pessoas a pagar bilhete: jogar futebol.
O facto de a estrela da companhia ter dito que "[o jogo com a China] não conta para nada", terá ajudado à assobiadela. Até o presidente da Liga veio lamentar os assobios, mas ainda não vi qualquer lamento, reflexão ou opinião com o facto de cada jogo da segunda prova mais importante do futebol luso ter uma média de 807 espectadores por jogo. É uma questão de prioridades, claro.
Tive a sorte de ver o Leça espetar cinco secos ao Pedrouços. Sofremos um golito, pronto, não porque o adversário tenha merecido, mas só porque somos boa gente. E fomos descaradamente roubados, porque o Leça é sempre roubado e, mesmo quando ganha por cinco, merece ganhar por seis.
Vi o jogo ali por baixo do aquário do speaker. Eu não acho que o Leça deva ter um speaker. Que tenha antes um falador ou, no máximo, o homem da sonora. Ao lado estavam uns infiltrados do Pedrouços, na bancada coberta, porque estava a chover muito e não queremos os nossos adversários doentes; queremo-los vivos e de boa saúde para que possamos ganhar-lhes.
Minutos depois de o Pedrouços chegar ao golo de honra, as coisas aqueceram, mas só no relvado. O Leão pediu penalty e, da bancada, surgiram os insultos - os leceiros insultavam o Leão e o avançado que estragou a nossa relva; a malta de Pedrouços insultava o árbitro. A Esperança desceu da bancada, indignada com a ousadia do Leão, e foi à rede chamar-lhe malcriado. Malcriado, sim. E chamou-lhe malcriado e mandou-o de volta para a útero da mãe que o deu à luz, mas sem o eufemismo.
A beleza do futebol está nestas coisas. Na emotividade e irracionalidade da coisa. Nos desabafos que se ouvem nas bancadas e que despejam uma semana inteira de frustrações. Há no futebol a coisa muito portuguesa de piscar o olho e estalar a língua, com um sorriso malandro, sempre que um adversário perde e nós ganhamos. É assim e é bem, porque é democrático e acontece a todos.
A indignação politicamente correcta com os assobios e os olés ficarão bem diplomaticamente, mas caem mal nos adeptos e não é difícil perceber porquê. Ao contrário dos jogadores do Leça, a quem se perdoa facilmente um pontapé na atmosfera ou um golo certo perdido à boca da baliza, os jogadores de futebol que representam a selecção nacional ganham num ano aquilo que muitas pessoas não ganham numa vida de trabalho. Por isso, têm de jogar sempre como se fosse a última vez.
Ao contrário do que diz o seleccionador, não são os adeptos que não devem ir ao estádio se vão para assobiar a equipa; são antes os jogadores que não devem entrar em campo se não estão preparados ou motivados para fazer aquilo que leva as pessoas a pagar bilhete: jogar futebol.
O facto de a estrela da companhia ter dito que "[o jogo com a China] não conta para nada", terá ajudado à assobiadela. Até o presidente da Liga veio lamentar os assobios, mas ainda não vi qualquer lamento, reflexão ou opinião com o facto de cada jogo da segunda prova mais importante do futebol luso ter uma média de 807 espectadores por jogo. É uma questão de prioridades, claro.
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segunda-feira, março 08, 2010
Eu, a escola e o bullying que não sei se vi
Devo ter tido muita sorte nas minhas passagens pelas escolas públicas. Guardo excelentes memórias das minhas professoras, até da D. Arminda, professora ali na Primária da Amorosa, que, apesar de funcionar muito na base da reguada, estava longe de ser parecida com a sinistra D. Natércia, de quem guardo na memória as parecenças com a Cruela dos 101 Dálmatas, mas sem a madeixa.
Não sei se havia bullying na minha escola. Sei que eu também achava estranho o gajo que saltava ao elástico e trocava blocos de folhinhas com bonecos e cheirinhos doces. E ainda por cima ele jogava ao elástico, enquanto nós fazíamos balizas com paralelos e marcávamos golos de antologia com os pacotes de leite que a escola oferecia.
Era o Nuno, a quem nunca tratei pelo apelido, "Bananas", que carregava os pacotes de leite do portão para os blocos. Pouca apetência para a escola e total desinteresse da família, que o mantinham na Amorosa mesmo quando a idade já se aproximava perigosamente da inspecção para o Serviço Militar Obrigatório.
O Nuno vivia numa família completamente destroçada, que passo a explicar: O avô vivia com a avó emprestada do Nuno. A mãe do Nuno também lá vivia e era talvez mais velha que a madrasta. Se não a era, a vida fê-la mais velha. O Nuno tinha três irmãs, uma filha do mesmo pai e duas de pais diferentes. Era sobrinho de quatro tios e duas tias, que eram mais ou menos irmãos da mãe. Por sua vez, dois tios e uma tia eram distinguidos como filhos do avô e da avó do Nuno, os outros foram casos extraconjugais que o avô trouxe para casa. Tudo isto num espaço que consistia numa casa com 3 divisões e um sótão disfarçado de quarto. A cozinha era fora de casa e o quarto de banho também. O papel higiénico variava entre os sacos castanhos do pão e as listas telefónicas. Às vezes, o Nuno ia buscar flores amarelas, meio murchas, ao campo do Morgado e dava-as à minha mãe, que retribuía como podia, geralmente com pão.
Esta será certamente uma realidade estranha e impensável para algumas pessoas, ali mesmo à portinha do ano 2000. Mas era assim.
Eu não sei se sei o que é o bullying. Sei que sancionar economicamente uma família porque o filho é um agressor, é uma ideia que só pode partir de um imbecil que não tem ideia do país em que vive. Talvez não passe pela cabeça do Albino Almeida que uma criança reage violentamente porque é a realidade com que se depara no quotidiano. Ou porque é uma defesa, quando chega à escola e se riem porque tem umas sapatilhas adidaz e não adidas.
Mais ainda, partir do princípio que os bullyiers são essencialmente pobres é um preconceito filho da puta. Estranho que o presidente da CONFAP não exija, por exemplo, que haja pessoal suficiente a trabalhar nas escolas, para que os alunos não possam sair do espaço sem controlo; espanta-me que o presidente da CONFAP não defenda equipas de psicólogos nas escolas que permitam sinalizar os casos mais graves. Indigna-me que o presidente da CONFAP não reclame dos horários laborais desregrados que impedem os pais de estar com os filhos e defenda, em vez disso, o prolongamento dos horários no ensino. Repugna-me que o presidente da CONFAP não pense sequer em repudiar os baixos salários que obrigam os pais a ter dois e mais empregos para que possam alimentar os filhos, negligenciando forçosamente a sua condição de pais.
Espanta-me, indigna-me, repugna-me que este senhor seja ainda presidente de uma confederação de associações de pais. Porque eu sou pai.
Não sei se havia bullying na minha escola. Sei que eu também achava estranho o gajo que saltava ao elástico e trocava blocos de folhinhas com bonecos e cheirinhos doces. E ainda por cima ele jogava ao elástico, enquanto nós fazíamos balizas com paralelos e marcávamos golos de antologia com os pacotes de leite que a escola oferecia.
Era o Nuno, a quem nunca tratei pelo apelido, "Bananas", que carregava os pacotes de leite do portão para os blocos. Pouca apetência para a escola e total desinteresse da família, que o mantinham na Amorosa mesmo quando a idade já se aproximava perigosamente da inspecção para o Serviço Militar Obrigatório.
O Nuno vivia numa família completamente destroçada, que passo a explicar: O avô vivia com a avó emprestada do Nuno. A mãe do Nuno também lá vivia e era talvez mais velha que a madrasta. Se não a era, a vida fê-la mais velha. O Nuno tinha três irmãs, uma filha do mesmo pai e duas de pais diferentes. Era sobrinho de quatro tios e duas tias, que eram mais ou menos irmãos da mãe. Por sua vez, dois tios e uma tia eram distinguidos como filhos do avô e da avó do Nuno, os outros foram casos extraconjugais que o avô trouxe para casa. Tudo isto num espaço que consistia numa casa com 3 divisões e um sótão disfarçado de quarto. A cozinha era fora de casa e o quarto de banho também. O papel higiénico variava entre os sacos castanhos do pão e as listas telefónicas. Às vezes, o Nuno ia buscar flores amarelas, meio murchas, ao campo do Morgado e dava-as à minha mãe, que retribuía como podia, geralmente com pão.
Esta será certamente uma realidade estranha e impensável para algumas pessoas, ali mesmo à portinha do ano 2000. Mas era assim.
Eu não sei se sei o que é o bullying. Sei que sancionar economicamente uma família porque o filho é um agressor, é uma ideia que só pode partir de um imbecil que não tem ideia do país em que vive. Talvez não passe pela cabeça do Albino Almeida que uma criança reage violentamente porque é a realidade com que se depara no quotidiano. Ou porque é uma defesa, quando chega à escola e se riem porque tem umas sapatilhas adidaz e não adidas.
Mais ainda, partir do princípio que os bullyiers são essencialmente pobres é um preconceito filho da puta. Estranho que o presidente da CONFAP não exija, por exemplo, que haja pessoal suficiente a trabalhar nas escolas, para que os alunos não possam sair do espaço sem controlo; espanta-me que o presidente da CONFAP não defenda equipas de psicólogos nas escolas que permitam sinalizar os casos mais graves. Indigna-me que o presidente da CONFAP não reclame dos horários laborais desregrados que impedem os pais de estar com os filhos e defenda, em vez disso, o prolongamento dos horários no ensino. Repugna-me que o presidente da CONFAP não pense sequer em repudiar os baixos salários que obrigam os pais a ter dois e mais empregos para que possam alimentar os filhos, negligenciando forçosamente a sua condição de pais.
Espanta-me, indigna-me, repugna-me que este senhor seja ainda presidente de uma confederação de associações de pais. Porque eu sou pai.
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