sexta-feira, janeiro 16, 2009

Tiro ao lado (Parte II)

Porque não consigo comentar esta posta do 5Dias, aqui fica o comentário em jeito de contra-posta:

Vamos então aguardar o fim do inquérito, relembrando que, por questões de coerência, quem considera - e bem - que à polícia não cabe julgar, não se transforme ele próprio em juiz.

No entanto, no seguimento de comentários que deixei no post anterior, gostaria mais uma vez de realçar a postura da Direcção Nacional da PSP em casos que podem estar relacionados com a qualidade do serviço policial.

Esta notícia de 2 de setembro de 2008 é um exemplo disso mesmo:
http://www.aspp-psp.pt/comunicacao.php?id=263

«Contactado pelo JN, Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), considerou "preocupantes" os resultados conhecidos até ao momento. A começar pelas três mil candidaturas. "É muito pouco, se compararmos, por exemplo, com a década de 90, em que chegava a haver até 14 mil candidatos e, por vezes, 6000 passavam à última fase. Alguma coisa não está bem", afirmou.

(...)

«"Desta forma, poderá haver uma redução dos níveis de exigência e de qualidade para entrar na PSP, numa altura em que é preciso melhorar em todos os sentidos para responder aos problemas de segurança", argumentou o dirigente, explicando a pouca afluência de cidadãos como um "reflexo" da falta de condições que marca o quotidiano da Polícia. "Hoje em dia, ser polícia não é uma profissão atractiva. Vive-se em permanente risco de vida; não se trabalha com condições dignas e o salário é ridículo. É preciso uma política séria de segurança", concluiu Paulo Rodrigues.»

Ou seja, são os próprios polícias que se preocupam com esta questão. Do Governo e da DN da PSP nem uma palavra.

Como conclusão, deixo aqui um texto que me dei ao trabalho de bater, por não encontrar online, publicado na revista Focus de 28 de Dezembro de 2008, na rubrica Bilhete Postal:

"Pisar o risco

Paulo Rodrigues
Presidente da ASPP/PSP
Associação Sindical dos Profissionais da Polícia

Ser profissional da polícia é mais que uma profissão. É um modo de vida. Pelas restrições nos direitos de cidadania e pela natureza da missão que encarnamos. Temos um poder político que não reconhece a especificidade dos profissionais que integram a PSP e isso em nada beneficia as instituições ou a própria democracia. Das muitas reformas anunciadas ao longo dos anos, poucas são as que estão no terreno, as que beneficiam os cidadãos e as que tiveram em conta o contributo dos sindicatos nas reuniões com os diversos ministros da Administração Interna.
Este menosprezo constante dos profissionais da polícia assumiu contornos particularmente graves com este Governo: Desde a perda do poder de compra, dos descontos para o Sistema de Assistência na Doença, passando pelas condições de aposentação e pré-aposentação, até às condições laborais – dos meios e equipamentos às instalações – também a área da formação tem sido negligenciada. Defendemos uma formação constante, técnica e táctica, e na área das relações humanas. Por vezes, a intervenção de um polícia pode ter consequências socais gravíssimas. Viu-se há uns anos o que sucedeu em França e vemos o que acontece agora na Grécia. O paralelo entre os dois casos está na faísca que ateou o fogo: Tudo começou com uma intervenção policial. Também há muito que alertamos para a insatisfação crescente no seio da PSP, que o Governo teima em desvalorizar. Os polícias convivem com o risco, apenas pedimos ao poder político que não o pise, exigindo o respeito e reconhecimento que nos é devido".

2 comentários:

João Branco (JORB) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Branco (JORB) disse...

por alguma razão estranha o seu comentário tinha ido parar ao spam. por tal aceite o meu sincero pedido de desculpas
concordo com praticamente tudo o que diz na sua resposta.

caso veja que o seu comentário não foi publicado passado 1 dia, por favor contacte-me em joaoluisbranco[at]gmail.com

obrigado

ps.: concordo em absoluto que os ordenados de miséria e a fraca formação dada aos polícias fazem com que a qualidade desça.

na minha opinião ocorre na polícia o mesmo que no ensino: os candidatos a agentes novos (da polícia ou professores) são fraquinhos e a formação que recebem é fraca também. é uma espiral que tem que ser quebrada.

cada vez mais se instala a ideia feita que:

- só vai para professor aquele aluno que não conseguiu mais que uma média de 10 no secundário. é o curso mais fácil

- só vai para polícia que gosta de bater, só vão para polícia os desordeiros que não conseguiram acabar o 12º (a psp só pede o 11º não é? )

Atenção: eu não acho que as duas afirmações anteriores sejam totalmente verdade mas é preciso fazer um esforço grande para combater estas tendências

Também interessante é a reacção dos ministros ao assunto. Enquanto Maria De Lourdes Rodigues entra na afronta directa aos agentes, chamando-lhes "professorzecos" , Rui Pereira não cede às exigências dos sindicatos da polícia e, para compensar, age com graxa e elogios

http://www.google.pt/search?q=%22rui+pereira+elogia%22&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:en-US:official&client=firefox-a