A sondagem da edição online do jornal "Público" trouxe-me à memória um episódio passado na Póvoa de Varzim, há quase dois anos.
A pergunta é muito simples: A sua ceia de Natal inclui bacalhau?
Dois anos atrás, na bancada de Imprensa do Estádio do Varzim, comentávamos a fraca presença de público nas bancadas. O clube poveiro não deixa de ser um histórico do futebol nacional, apesar do momento delicado que atravessa.
Clube de gente de trabalho, famoso pelas mulheres da Póvoa, acérrimas defensoras dos "Lobos do Mar".
Apesar da fúria
Em conversa, continuámos a avançar possibilidades. O preço dos bilhetes, claro. Mas houve um camarada que foi mais longe. E disse o que todos pensávamos mas que não dizíamos, porque é daquelas realidades duras.
"As pessoas não têm dinheiro para o bacalhau, quanto mais para vir ao futebol!". Simples, claro e directo.
"A ceia de Natal vai ser com carapaus".
Carapaus de bacalhau, portanto, para os homens e mulheres que vão ao mar buscar o sustento. Já foi tempo. A Póvoa transformou-se num enorme centro turístico de betão que esconde por trás os tradicionais bairros piscatórios, que ainda hoje rivalizam como há décadas.
Bairros de gente humilde, que recusam o destino que a CEE, CE e, agora, UE, lhes foi impondo.
Na casa dos pescadores poveiros, os carapaus cheiram a um bacalhau de faz de conta.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
2 comentários:
Não conheço um único pescador que não esteja em forma. Todos morenaços, todos cheios de rugas e em forma. São a minha Lili Caneças sem biquinhos ranhosos e com palavrões de virar a prudência a qualquer um.
Vou escrever sobre os que conheço.
Sobre o bacalhau: é-lhe dado um valor que não tem.
Este blog precisa ser actualizado.
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