segunda-feira, novembro 29, 2010

(Des)Pudor local - um conto completamente saído da minha imaginação fértil

Era uma vez uma freguesia fictícia que existe junto ao mar, com um rio que lhe dá nome. Nessa freguesia, como em todas as outras, há o poder local, que vai gerindo a coisa ao som de música pimba e porco assado, tudo bem medido a trote de cavalos, ali para os lados de uma zona esquecida.

Naquela freguesia, havia um presidente da Junta que vamos designar por, sei lá, PS. Ora, o PS era um presidente zeloso, atento às novas tecnologias e sempre muito próximo dos cidadãos. Tão próximo que tinha grupos de acompanhamento para tudo e mais alguma coisa. Entre eles, estava o das colectividades da freguesia, que reúnem periodicamente para discutir assuntos relacionados com as actividades de cada uma.

Nesses encontros discutem-se coisas tão importantes como museus para colecções de carrinhos em miniatura. Sempre com vista a acompanhar de perto tudo o que as colectividades vão fazendo, PS fez questão de relembrar às colectividades que aquelas que não estivessem presentes nas reuniões seriam lembradas - ou esquecidas - quando, no final do ano, chegasse a altura de distribuir os subsídios.

E era assim, que se ia passando a vida política nesta freguesia completamente imaginária, que nada tem a ver com este post ou com este comentário.

Fim.


sexta-feira, novembro 26, 2010

Vem aí o mês do horror

Vem aí o mês das campanhas e não é de Janeiro que estou a falar, das presidenciais, se é que alguém se lembra disso, porque entre candidatos que acordam com passarinhos no dia da Greve Geral e o outro cadáver que ocupa o cargo, parece não existir mais nenhum, pelo menos de acordo com os media.

Falo do mês de Dezembro, das Leopoldinas, das Popotas, dos ursinhos, dos porta-chaves, dos lacinhos e dos pins para apoiar tudo e mais alguma coisa que nos pese na consciência durante os dias em que damos com o boneco da Coca-Cola a trepar pelas janelas e varandas.

Depois pode tudo voltar ao normal, que estamos todos a cagar-nos para isso. Ou então aderimos a uma causa fofinha no Facebook e dormimos melhor durante uns dias.

Há ainda o livro de uma campanha qualquer de apoio aos desgraçadinhos que custa dois euros. Um deles fica para a cadeia de hipermercados. Ou seja, eu, o cidadão comum, contribuo com 100 por cento do valor do livro para uma causa solidária, mas o grupo económico só dá metade desse valor à instituição. Faz todo o sentido, tendo em conta a "solidariedade" praticada por esta gente.

Belmiro de Azevedo é um dos que alinha na palhaçada, claro, que sempre dá para fazer de conta que tem uma gota de solidariedade social. No entanto, será que Belmiro de Azevedo alguma vez pensa que tem trabalhadores seus que vão depois recorrer às ajudas que o próprio patrão oferece? Não faria mais sentido aumentar o salário dos seus trabalhadores para que estes não tivessem de recorrer a ajudas de outras instituições para que consigam sobreviver?

Não, não faria, por isso é que Belmiro de Azevedo, cheio de preocupações, começou a contratar trabalhadores - deve ser deste tipo de emprego quando se fala na abertura de hipermercados ao domingo: (...) os felizardos entraram ao serviço no passado dia 6 de Novembro e têm contrato até 24 de Dezembro de 2010. O pagamento, esse, será feito mediante recibo verde ou acto único, mas só a partir de 15 de Janeiro de 2011. Quanto ao salário, não tem mistérios: cada contratado recebe 12€ por turno, e cada turno tem cinco horas. Feitas as contas, apura-se que o salário/hora é de 2,4€, ou seja inferior aos 2,7€ que resultam do salário mínimo nacional. Acresce que os trabalhadores assim distinguidos com a oferta de emprego Sonae têm apenas um dia de descanso por semana, não recebem o subsídio de refeição em vigor na empresa, e não recebem trabalho nocturno apesar de um dos «turnos» terminar às 24 horas.

Posto isto, viva o Natal!

terça-feira, novembro 23, 2010

Fui à manif e safei-me

No sábado estive lá para os lados de Lisboa, na manif anti-NATO. Fui dos que participou ordeiramente na coisa, que, aliás, primou pelo civismo, para desagrado de alguns esquerdistas, radicais livres, ou L-Casei Imunitass, ou lá como é que se chama esta gente.
Sem o BE para dar-lhes boleia, os AdP, Activistas de Preto, optaram por desfilar sozinho, embora o Soeirinho tenha vindo depois ampará-los, não vá perder algum amigo que por lá ande ainda chateado pelo apoio bloquista ao candidato presidencial do Governo.
Sobre o que é dito no link acima, devo esclarecer o seguinte: A PAGAN e as centenas de outras organizações que a dita diz representar, não quiseram associar-se à CPPC na promoção da manif, avançando para uma própria.
Curiosamente, ou não, ao longo do texto, o Renato acusa a CGTP de não ter permitido à PAGAN integrar um desfile que a PAGAN não quis integrar. O Renato queria carros a arder, montras partidas, uma coisa assim da moda, como se vê nas televisões. E nada impedia a PAGAN de tê-lo feito, porque reparei que em Lisboa o que não falta são automóveis. E montras, senhores, ui, as montras!
Na verdade, o desfile decorreu com a normalidade possível, as duas dezenas de jovens que desceram do Liceu de Camões desfilaram onde entenderam, e não houve necessidade de recorrerem às orientações do líder do grupo que distribuía um jornal em formato "Expresso", na saída do metro do Rossio. Não foi preciso fugirem "para as ruas que atravessam a avenida, em caso de carga policial".

Mas que me intriga na PAGAN é esta simpatia pela resistência islâmica e pelas religiões. Não sei o que passou pela cabeça de quem escreveu a coisa. As religiões, sejam elas quais forem, são e sempre foram, ao longo da história, centros de estupidificação e subserviência dos Povos. Dizer que apoiam resistentes islamitas é cair num ridículo sem fundo.
Pela minha parte, apoio os movimentos de resistência populares em qualquer parte do Mundo, pela libertação dos Povos e contra todos os fundamentalismos, sejam os fundamentalistas da NATO, sejam os da Al-Qaeda. Defender o contrário é muito lindo mas é a milhares de quilómetros de distância, porque pimenta nos olhos dos outros não arde.

Indo ao que interessa, a manifestação cumpriu os seus objectivos: teve uma forte mobilização, decorreu sem incidentes que pusessem em causa a integridade física de quem pretendia manifestar-se.

Sobre a inevitável guerra de números, o Expresso resolveu a questão. Contratou um especialista em contar multidões! Fomos 8.000, segundo o especialista. Das duas, uma: ou este especialista tem tanto de especialista como eu de carpinteiro; ou a CGTP tem uma organização que apenas lhe permite mobilizar números redondos, já que na manif da Função Pública participaram apenas 10.000.

Eu, especialista em coisa nenhuma, aprecio a especialidade deste caramelo. A sério que sim.

quinta-feira, novembro 11, 2010

5Dias e uns feriados

Desde que me estreei nestas coisas da blogosfera que há blogues obrigatórios. Um deles é o 5Dias e não é de agora. Gosto dos debates que proporciona nos comentários, fui gostando do tom da maioria dos textos, mesmo não concordando com alguns, obviamente.
Há autores que acompanho invariavelmente, nomeadamente, o Nuno Ramos de Almeida, o Carlos Vidal e o Tiago Mota Saraiva.

Por afinidades políticas, certamente, dá-me especial gozo ler a sinceridade cáustica do Vidal, que vai espalhando pelos 5Dias aquilo que, às vezes, os meus camaradas têm algum receio de dizer, rompendo com o politicamente correcto.

Ao longo do tempo, o 5Dias foi-se modificando, com novos autores, e novos grafismos. Hoje está diferente. Não sei se pior ou melhor, sei que diferente. Sei que alberga agora gente que precisa, primeiro, de perceber do que fala, para não cair no ridículo do radicalismo que tanta vezes tem sido alvo - e certeiro - de outros bloggers de uma suposta esquerda moderna, que apoia o candidato do Governo numas eleições. Mas centremo-nos no que interessa, que isto das presidenciais há-de dar letra a outras postas.

Eu não conheço a Diana Dionísio, por isso vou procurar não fazer juízos de carácter sobre ela em relação a esta posta, que seria brilhante se fosse irónica, mas, nos muitos comentários que proporcionou (71 a esta hora) percebe-se que não é.

Pergunta a Diana se "Está marcada alguma concentração / manifestação para o dia 24? É que ainda não dei por isso. Alguém me pode esclarecer? Alguma estrutura dessas que tenta organizar as massas está a pensar marcar alguma coisa? Encontramo-nos nalgum lado para dar uns gritos"?

Por partes:
A esmagadora maioria das estruturas representativas dos trabalhadores já aderiu, pelo que as massas deverão estar organizadas não só para aderir à greve, como também para mobilizar e esclarecer os restantes camaradas, através das centenas de plenários e de piquetes que hão-de realizar-se por todo o país.

Não sei que noção terá a Diana do que é uma manifestação. Já fui a muitas - é uma pena não verem o meu orgulho ao dizer isto - e nunca lá fui só para dar uns gritos com a malta. Quando preciso de desanuviar, bato com a cabeça na parede, exercito umas tíbias e por aí fora. É este tipo de ligeireza quando se fala numa manifestação que não beneficia em nada o momento que vivemos. Esta tentativa de redução do verdadeiro significado de uma manifestação é precisamente o que interessa à opinião publicada. Que de cada vez que os trabalhadores, estudantes, reformados, empregados, desempregados saem à rua é para dar "uns gritos". Nunca o fiz. Nem nos meus tempos de estudante nem enquanto trabalhador. Sempre que fui a uma manifestação foi para marcar uma posição e gritar palavras de ordem a plenos pulmões. Nunca fui a uma manif por não ter algo mais interessante para fazer ou porque é giro ir a manifs.

Este esvaziamento do que representa uma manifestação, seja ela de quem for, pode colher dividendos dentro de alguns sectores, mas certamente que não contribui para o êxito das lutas de massas que hão-de vir neste e no próximo ano, seja com o PS ainda no Governo, seja com o PSD, isto se o Povo não acordar a tempo.

Sobre a manifestação em dia de Greve Geral:
Evidentemente que não há manifestação numa Greve Geral. Isso implicaria que, para transporte dos manifestantes, os trabalhadores dos transportes públicos, por exemplo, não estivessem em greve, tal como os das empresas de aluguer de autocarros ou os das bombas de gasolina ou os das estações de serviço. A bicicleta pode sempre ser um bom meio - que até é simpático para alguns autores do 5Dias - mas ir de Leça a Lisboa a pedalar ainda é um esticão.

A ideia de que uns podem trabalhar para levar os outros é tão absurda como a do jornalista que não faz greve porque alguém tem de a noticiar. É simplesmente a negação do protesto.

Uma Greve Geral é uma Greve Geral. Não é uma greve-só-um-bocadinho-geral-porque-a-malta-quer-ir-dar-uns berros.

E já agora, quando se fala nos grandes protestos de França, repare-se na quantidade deles que teve lugar precisamente nos locais onde se concentravam os piquetes. Mas não vale a pena comparar realidades distintas.

Com ou sem estas ideias iluminadas, que nada têm de novo - lá vem a doença infantil do comunismo outra vez à baila -, a Greve Geral de 24 de Novembro há-de ser um enorme êxito, assim o queiram os trabalhadores.

E um agradecimento ao Carlos Vidal por esta posta.