Toda a teoria económica fora do pensamento económico dominante se baseia em "ses". Não há forma de fugir a isso, porque não há forma de comprovar a teoria no contexto económico-social actual. Todas as tentativas de aplicar o pensamento económico marxista são sancionadas política e economicamente. E nem sequer a hipótese de pensar o marxismo é possibilitada nas mesmas circunstâncias que o pensamento dominante, como bem disse Paul Sweezy, já em 1973:
*"O paradigma subjacente que, neste caso, insiste no conflito, no desequilíbrio e na descontinuidade, data igualmente de há uma centena de anos. Precisamente porque o conhecimento que ele produz constitui uma crítica total da sociedade existente, é natural que os beneficiários desta ordem social não o tenham aceite - em primeiro lugar as classes possidentes, que são também as detentoras do poder político. A economia marxista foi, portanto, rejeitada por todas as instituições estabelecidas da sociedade: os governos, as escolas, colégios e universidades. Em consequência, tornou-se a ciência social dos indivíduos e classes em revolta contra a ordem social estabelecida".
(...)
"A «investigação normalizada» no interior do quadro do paradigma marxiano tem sido, desde o início extremamente difícil de levar a cabo. Excluídos das universidades e dos institutos de investigação, os economistas marxistas não tiveram as facilidades, o tempo, o ambiente conveniente de que dispunham os outros investigadores. A maior parte deles teve de consagrar as suas vidas a outras tarefas , muitas vezes em sectores de actividade em sectores da actividade política que exigiam um trabalho esgotante e uma grande tensão nervosa. Em tais circunstâncias, , não é de espantar que tão poucas coisas tenham sido realizadas: pelo contrário, talvez se deva antes sublinhar o facto de tanto se ter concretizado nestas circunstâncias".
No caso dos salários da Função Pública, há que considerar vários factores - ressalvando sempre que os cálculos económicos baseados em médias não são fiáveis, na minha modesta opinião, pelo que o conceito estatístico fiável seria a moda - entre eles, por exemplo, o facto de o número de licenciados a trabalhar na FP ser superior em 75% em relação aos que trabalham no sector privado, como nota o Eugénio Rosa, proscrito, precisamente, pelo que escrevi no parágrafo anterior. No sector privado não, há por exemplo, juízes - ainda -, mas o salário destes entra, evidentemente, nas contas para a média da FP. Façamos as contas entre um juiz que ganhe 3.000 mensais e um auxiliar de acção educativa, que ganha na ordem dos 510 e obtemos um resultado falso, obviamente.
Claro que considero que deve ser o sector privado a subir salários e não a FP a descê-los. E é exequível. Claro que é exequível. Basta para isso que cada trabalhador receba a remuneração justa pelo valor que cria. Reconheço que seja complicado, porque o patrão prefere incluir mais um BMW nas despesas de representação ou análogas. Já agora, convenhamos ainda que as remunerações obtidas pelos patrões portugueses absurdamente elevadas, se atendermos às habilitações - facto - e às capacidades de liderança, inovação, perspectivas de novos investimentos e sensibilidade social - opinião.
Os enfermeiros não chegaram ao valor que reivindicavam aleatoriamente. Não acordaram um dia e pensaram que seria bom receber 1.250 euros. Fizeram-no porque é o valor que recebem os quadros superiores que entram na FP. Não é birra, é justiça.
Não, não é natural e muito menos é compreensível que numa altura em que é necessário estimular a economia, os salários não sejam aumentados, potenciando o consumo e, consequentemente, a receita do Estado através dos - muitos - impostos que cobra.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
quinta-feira, março 04, 2010
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4 comentários:
Pena é que este tipo de análises não sejam divulgadas nos meios de comunicação do sistema...
Ass: Miguel - Leça da Palmeira
A questão é mesmo essa, Miguel. Eugénio Rosa, economista, não aparece na tv, nos jornais e nas rádio. O mesmo se passa, por exemplo, com o Miguel Urbano Rodrigues. Mas há na Internet sites que acompanho regularmente, mas que ainda não coloquei ali na barra lateral: O resistir.info e odiario.info, onde até escreve um economista matosinhense.
Abraço.
Repto:
Queremos, em prol dos direitos de cidadania envolver os advogados com escritórios
em Leça da Palmeira, numa parceria de responsabilidade social com a Junta de Freguesia,
assegurando voluntariamente Apoio Judiciário a quem apresente debilidades económicas e
Sociais.
Este tipo de acção deve ser posta em prática rapidamente, já que as condições Sócio - Económicas
de muitas famílias se estão a agravar.
Saudações Marítimas
José Modesto
Consulto regularmente esses sites de referência. O resistir mais de informação imediata e o diário mais de reflexão sobre vários acontecimentos. A única coisa que resta é divulgar junto dos amigos.
Ass: Miguel
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