Nem de propósito. O comentador de tudo e todos, Luís Delgado, na sua coluna de opinião no Diário de Notícias, sob o título "Decomposição de Fidel", brinda-nos com algumas pérolas históricas. Este homem sabe tudo. Desde política a história, passando por tácticas militares, economia e finanças.
Logo no terceiro parágrafo, o comentador polivalente avança com acusações que têm como base, segundo o próprio, uma biografia não autorizada, da autoria de um jornalista francês.
"...foi afastando ou eliminando todos os que a seu lado lutaram, de Camilo Cienfuegos a Che Guevara.". Afastado será, alegamente, Ernesto Guevara de La Serna, o argentino internacionalista que, depois de consumada a revolução em Cuba, partiu numa demanda para África, onde constatou o evidente: Era, e é, um continente repartido por fronteiras estabelecidas de acordo com os interesses colonizadores. Por isso, a divisão de tribos em lados opostos das linhas dos mapas, acabou por banalizar as guerras num continente riquíssimo. Mas isso é um lugar-comum.
Deduz-se, portanto, que o "eliminado" terá sido Camilo Cienfuegos. No mínimo surreal.
"Fidel Castro foi a maior mentira do século, mas alimentada por uma elite europeia e latino-americana que se devia envergonhar, por uma vez, da cobertura que foi dando, e ainda dá, a um ditador cruel que destruiu um país e reprimiu milhões de cidadãos.". Talvez. Talvez o Homem nem tenha pisado a lua. Talvez o Bush não tenha vencido as primeiras eleições. Talvez o Santana Lopes tenha sido um bom chefe de Governo. Talvez a retoma esteja mesmo aí.
O que não levanta grande discussão é que Cuba, para um país destruído, tem um sistema de saúde que faz inveja ao construído Portugal. O sistema educativo idem. As liberdades pessoais e colectivas são discutíveis é certo.
Mas, e há sempre um mas, Luís Delgado devia provar factualmente o que era bom em Cuba no tempo de Fulgêncio Baptista. Como era a liberdade de expressão, a liberdade sindical e a pluralidade partidária. Entre outros.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
2 comentários:
Há sempre um "mas", de facto. Ou mais. E mentiras, então, há-as por todo o lado. Podemos é escolher ver só as que dão mais jeito à prosa ou ao olhar. Gostava de saber como se compara liberdade com leite. Já tentei, mas acho que uma coisa nada tem a ver com a outra. Com as aspirinas sucede a mesma coisa. Não consigo vê-las como alternativa a quaisquer valores. Na dúvida, prefiro as dores de cabeça.
Ui! Mentiras não faltam por aí! E anónimos com comentários tão bem escritos, então, nem se fala! São as maravilhas da liberdade que a democracia da blogosfera nos permite.
No post, não há qualquer comparação de liberdades. Há, isso sim, uma dúvida que tenho e permanece, em relação a ser dito que Fidel "destruiu um país". Ora, para haver destruição, pressupõe-se que algo estava a ser construído. E continuo sem saber o que de bom estava ser construído pelo Baptista, sob a alçada dos EUA.
É verdade, cada um escolhe as mentiras em que acredita. Eu prefiro as do Granma e as que dizem que Cuba é o país que mais investe na educação em relação ao PIB - http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=580008&div_id=291 - e é, ao mesmo tempo, um dos países que mais cresce, economicamente, por ano, cerca de 10%, apesar do embargo democrático dos EUA.
É assim a vida, eu escolho estas, tu, provavelmente, escolhes os livros de grandes repórteres ou dos exilados em Miami. São as duas legítimas.
Volta sempre, de preferência com nome.
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