Ontem, o Alexandre Soares dos Santos cagou numa das mais importantes datas da história da humanidade e descobriu-nos a careca. Somos mais desumanos do que pensamos.
Enquanto os media mainstream se debruçam nas questões legais, do dumping à concorrência desleal - já agora, com o pagamento de um dia e meio de trabalho a cada trabalhador, aliado ao desconto generalizado de 50 por cento na conta final, terá havido algum lucro para a empresa? - o que mais me preocupa é a moralidade de quem levou a cabo a iniciativa e de quem embarcou nela.
Já agora, os media que se fodam mais as "palavras de ordem de sempre", os "conceitos sempre repetidos" mais a conotação pejorativa que lhe dão. Se são as palavras de sempre é porque as reivindicações com décadas continuam a fazer cada vez mais sentido.
Já dizia um poeta brasileiro que "a necessidade é maior do que a moral" e o capital não perdoa. O capital faz-nos não só passar por necessidades como faz-nos acreditar que precisamos do que não precisamos. Ontem, uma parte da população precisou de tudo e mais alguma coisa. Duas conclusões:
Primeiro, o capital mata-nos à fome e oferece-nos depois comida* com 50 por cento de desconto como se fosse uma benesse, um favor que nos faz por enriquecermos o PIB, no caso o da Holanda, enquanto tem impostos reduzidos e paga miseravelmente aos trabalhadores. Basicamente, vende-nos o que produzimos quase de borla de forma a parecer barato - Portugal é um dos países da UE com os custos de trabalho mais baratos. Diz que é o mercado, mais a lei da oferta e da procura. Para mim é só selvagem. O que ontem aconteceu foi dar com uma mão o que têm tirado com as duas.
Segundo, a data escolhida não é ingénua. Podemos todos relativizar, mas não é. É uma afronta a todos os trabalhadores e às suas lutas e fez com que fosse quase esquecida por uma parte da sociedade. Depois, abre o debate sobre o significado do 1.º de Maio, mesmo que muita gente não saiba qual é nem o que representou ao longo de décadas. Relativiza-se tudo, porque "se uns trabalham, outros também podem trabalhar", mesmo que se comparem hospitais e esquadras de polícia a supermercados, sem se perceber o ridículo da coisa. Eu acrescento, em adaptação livre do Saramago: relativizem a puta que vos pariu a todos.
Segundo, a data escolhida não é ingénua. Podemos todos relativizar, mas não é. É uma afronta a todos os trabalhadores e às suas lutas e fez com que fosse quase esquecida por uma parte da sociedade. Depois, abre o debate sobre o significado do 1.º de Maio, mesmo que muita gente não saiba qual é nem o que representou ao longo de décadas. Relativiza-se tudo, porque "se uns trabalham, outros também podem trabalhar", mesmo que se comparem hospitais e esquadras de polícia a supermercados, sem se perceber o ridículo da coisa. Eu acrescento, em adaptação livre do Saramago: relativizem a puta que vos pariu a todos.
A génese do 1.º de Maio tinha por princípio uma reivindicação clara: oito horas de descanso, oito horas de trabalho e oito horas de lazer. Os trabalhadores, massa insatisfeita, conquistaram mais e mais ao longo dos anos. O capital, com uma sociedade reduzida ao poder do consumo, retaliou. Estamos a viver um momento de viragem histórica. Seja para que lado for.
Por fim, uma palavra de solidariedade para com os trabalhadores das grandes superfícies que ontem foram coagidos a trabalhar, apesar do pré-aviso de greve e para aqueles que tiveram mesmo de aproveitar os descontos de ontem para terem um mês menos difícil. A necessidade foi, para alguns, maior que a moral.
*Por "comida" entendam-se produtos, só para não haver quem diga que não se passa fome em Portugal.
1 comentário:
ótimo blog, parabéns...
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