Uns anos mais tarde, continuei a ser um bom aluno mas um péssimo estudante. Eu também sofri dores de barriga pré-testes na escola primária. E eram horríveis, não na barriga, mas na cabeça, por não saber controlá-las.
A minha escola - Número 1 da Amorosa, em Leça da Palmeira - era bonita. Dois edifícios separados pelo fascismo de uma espécie de Clube do Bolinha, onde menina não entrava, e vice-versa - na minha altura já havia meninos e meninas misturados. As empregadas, agora funcionárias, tocavam um sino e fazíamos uma fila à porta. Subíamos as escadas de madeira até à sala, onde aprendíamos tudo tanta coisa. À hora certa, as empregas sra. Maria do Rosário, d. Conceição ou a sra. Mariazinha tocavam o sino, outra vez, e íamos para o recreio, jogar à bola com os pacotes de leite vazios e duas balizas feitas com pedras. Isto nos primeiros anos. Depois, mais tarde, já na quarta classe, tínhamos direito a usar o campo maior, com direito a um poste de baliza que era, na verdade, o que restava de uma tabela de básquete. O outro poste continuava a ser uma pedra. E a trave a nossa imaginação, que levava às eternas discussões do "eu-não-chegava".
Na sala imperava a disciplina da D. Arminda, sra. professora, mais a temível régua de madeira. Nunca levei uma reguada, nos quatro anos que lá passei. Tive tanta sorte. No entanto, não deixava de esfregar as mãos nas calças de ganga de cada vez que eram devolvidos os ditados, devidamente corrigidos, em que cada erro valia uma reguada.
O maior castigo que tive foi ficar uma vez, durante um intervalo, a fazer a tabuada do 2. Não soube o resultado de 2x7. Saiu-me tudo da boca, do 12 ao 18, menos o maldito 14. E lá fiquei eu, com o jogo a decorrer lá fora, depois de trocar o pacote de leite, que havia sempre alguém que o pisava e, bola que se presasse, tinha de ser paralelepipédica.
E as cantorias. Cantávamos sempre no final da aula. Detestava tanto cantar. Músicas populares e o hino nacional, de pé, como mandam as regras.
Hoje, os miúdos foram fazer o exame da 4.ª classe. Não havia nada disso, mas a barriga doía na mesma. E, se houvesse, havia de ter-me doído ainda mais.
E o compromisso de honra que miúdos de 9 anos têm de assinar é qualquer coisa tão ridícula que não consigo descrever. Ainda por cima imposto por este governo, a quem a honra é coisa estranha. E, já agora, o compromisso. E, por que não, a verdade.
Não sou especialista em coisa alguma, não sou professor, já não sou aluno. Mas isto parece-me de uma violência enorme para os miúdos. Para mim tê-lo-ia sido. Já não há explicação para submeter os miúdos a este tipo de violência. Havia no tempo dos meus pais, mas eles sobreviveram no fascismo.
Lições de outras troikas |
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