terça-feira, maio 20, 2008

82

Porque nasci no início da década de 80, consegui apanhar a tempo a boleia de algumas novidades tecnológicas que surgiram a um ritmo alucinante. Mas acho que a febre do ano 2000, que, pelos menos para quem tinha oito anos anos em 1990, seria o ano da viragem de tudo, acabou por ser uma decepção.

Os carros não voam alto; não nos teletransportamos; não fomos a Marte; um monte de coisas. Isto, partindo do princípio que o mundo não acabaria em 2000. Não acabou.

Havia uma enorme expectativa em torno do século XXI. Ouvíamos, vezes sem conta, dizerem "às portas do século XXI" para condenar atrasos ou justificar inovações. Progressos, nem por isso.

Na escola ouvíamos os prognósticos dos professores de História, de Geografia, de Português, de Inglês sobre o que seria o novo século. Tive muitos e bons professores e quase todos tinham um ponto em comum quando abordávamos o novo século: As guerras do século XXI seriam despoletadas não por religiões, não por territórios, não por petróleo, mas sim pela disputa da água. A água que foi sendo oferecida, a retalho, a compadres da autarquia que ajudaram a criar jobs para boys, de boys, de boys.

A verdade é que quase uma década depois de termos passado o ano 2000, os conflitos existentes não são por causa de água, mas sim de alimentos. O mundo rico continua a sufocar o mundo pobre, o petróleo aumenta à custa da especulação, o euro entrou em vigor e agora é uma tragédia porque os especialistas não o esperavam mais caro que o dólar, aumenta tudo de uma forma absurdamente desproporcional em relação ao que cada pessoa recebe em troca do seu trabalho.

Em 2008, vamos caminhando numa espécie de conta-gotas por baixo da pia, que já pinga há muito e vai acabar por deixá-la vazia. Conta-gotas de suor e lágrimas que milhões e milhões de pessoas vertem pelo que deveria ser básico. H2O e cloreto de sódio - é o que vêem os governantes.

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