Dezenas de horas dedicadas nas tv's e rádios, outras tantas dezenas nas páginas dos jornais - impressas e virtuais. O Muro de Berlim caiu há 20 anos e vai haver festa de arromba em Berlim, excepção feita para os alemães de leste, cuja esmagadora maioria sentia-se bem na antiga Alemanha Democrática. Aliás, a Sic Notícias tem repetido até à exaustão que o "Mundo festeja a queda do Muro". O Mundo tem destas coisas e gosta de festejar, e ainda bem.
Mas isso são detalhes e nós temos de ser politicamente correctos e ficar contentes com aquilo que achamos ser melhor para os outros, mesmo quando os outros, à distância de 20 anos, consideram não o ser.
Vinte anos depois, há cada vez mais muros. Podemos é querer vê-los ou não. E não são só os verdadeiros, os físicos, seja na Cisjordânia, no México, nos condomínios fechados onde se festeja - não é irónico? - a queda do Muro. Há os muros da barreira ideológica e do preconceito, da corrupção das classes dirigentes, da pobreza galopante, da riqueza fictícia em que acreditamos viver e, se calhar mais grave que tudo, o muro da resignação e dos dados-adquiridos.
E estes ficaram bem mais difíceis de derrubar, depois da queda do outro, há 20 anos.
Derrubado um, quantos muros cresceram depois?
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
segunda-feira, novembro 09, 2009
Hoje, não caiu há 20 anos
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7 comentários:
Não resisto a comparar a tendência comunista com a sorte sportinguista. São os dois fatídicos.
E ambos não desistem de lutar mesmo que saibam de antemão que vão para perder.
Independentemente dos factos que podem ser tão absurdos com os actuais (os humanistas, os económicos, os sociais, que sempre existirão, e se calhar mais ainda na altura de então) ou a desculpa do penteado do Paulo Bento
Não percebi o alcance da coisa. Mas reconheço as minhas limitações.
Olhe, sinceramente nem eu.Prometo que para a próxima explico-me melhor.
Já agora pode dizer-me que raio de comunistas espanhóis são estes que dizem que em Espanha há tantos presos políticos como em Cuba?
É que, sabe, ao contrário de muita gente eu aprecio a opinião comunista. E o estilo.
Só não percebo que se queixem de não conseguir passar a mensagem, e quando tem dois dedos de palanque dizem coisas destas...
lol, está combinado então.
Quanto aos comunistas espanhóis, desconheço o teor das declarações, mas a verdade é que em Euskadi e fora deles há inúmeros presos políticos - e não estamos a falar de etarras. E deve ser a isso que se referiram...
O José Castro deveria parar um pouco, abstrair-se da propaganda que os donos da comunicação social divulgam deformando e não formando. Já por acaso se questionou sobre os avanços sociais que a Europa, e por arrastamento o mundo capitalista, beneficiou depois da denominada, e assim ficará na História, Revolução de Outubro? Por acaso, não se questionou sobre as razões que levam os habitantes da antiga RDA a dizer que antes viviam melhor do que hoje? Não quero deixar de dizer ao Jose Castro que foram cometidos muitos erros, evitáveis se os princípios fossem cumpridos. Mas também lhe quero dizer que apesar disso não escolho a alternativa que me é apresentada, de que Portugal é um exemplo, basta olhar para os dias que correm. Eu acredito, e por isso luto, num País, e num Mundo, mais justo e solidário, tendo perfeitamente definidos os meus adversários. O José Castro e outros, mesmo que se intitulem de esquerda, apenas servem, e sabem-no, os objectivos daqueles que querem que nada mude para que tudo continue na mesma se não puder ser pior. Afinal, as boas almas acabam sempre por se encontrar.
Sondagens como essa revelam, exactamente, o mesmo que a eleição do ditador Oliveira Salazar como português dos portugueses. Esse tipo de saudades existe, por cá, aos pontapés, entre muitos dos mais velhos, que preferiam a paz podre da miséria ao desgoverno que agora vêem. O ideal comunista é bem mais do que estas constatações, pouco críticas, ao nível dos elogios de Bernardino Soares à Coreia do Norte (uma tirania dinástica horrenda, que nada tem a ver com comunismo) ou o silêncio em relação à aniquilação cultural do Tibete pela China. Na RDA, as pessoas viviam mal, esmagadas pelo medo (um em cada cinco cidadãos, digo de cor, estava ligado à Stasi). Agora, têm a referência dos ditos "irmãos ocidentais". Olhando para eles, vêem-se menorizados e é no passado da separação que encontram uma memória de união patriótica. Na verdade, os alemães não quiseram a RDA nem a RFA, saídas da partição decidida pelos vencedores da II Guerra Mundial. Falta-lhes, agora, a identidade nacional, algo que não se constrói com a simples queda de um muro. Os de Leste sentem-se alemães de segunda. É isso que os leva ter saudades de quando eram alemães de Leste de primeira (uns mais do que outros). O comunismo é bem mais do que a experiência falhada do bloco soviético, e é da quebra dessa amarra que depende a sua vitalidade.
Considero e respeito a intervenção do senhor anónimo, mas desprezo a generalização.
Teoria da perseguição vermelha.
E a bem dizer, a par das atitudes que mais receamos são exactamente aquelas em que nós projectamos ser capazes de fazer.
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