terça-feira, dezembro 20, 2011

O emigrante

Hoje fui dar uma volta ao Twitter. Assim, sem mais nem menos, aparece-me uma posta qualquer do Duarte Marques, deputado da nação e presidente da JSD. Perguntei-lhe o que achava a JSD sobre os constantes apelos à emigração dos jovens e dos professores, primeiro por um secretário de Estado, depois pelo Primeiro Ministro, respectivamente.

(clica para ampliar)

Respondeu-me que era "demagogia", uma resposta política de político, completando que quando "tanto se falava de mobilidade só porque é o PSD a falar nisso é um escândalo". Não sei o que me preocupa mais, se a notória imbecilidade da personagem, se a notória imbecilidade de todos os que ajudaram a eleger este senhor. Quem tiver paciência - muita - pode ir àquela rede social e observar a conversa.

Ora, eu não emigro, não quero. O Duarte Marques, segundo o próprio, emigrou durante cinco anos. perguntou-me se achava mal que as pessoas saíssem do país para voltarem com mais formação. Não, não acho. Acho que quem sair desta estrumeira em que vivemos dificilmente voltará. Mas isso sou eu.

No entanto, o Duarte Marques nunca foi um em emigrante. Duarte Marques foi, durante cinco anos, assessor do PSD no Parlamento Europeu e voltou a Portugal nas últimas eleições, como deputado.

Isso, menino, não é emigrar. Emigrar é saíres do teu país e ires arruinar os pulmões para as minas de Léon. Emigrar é saíres daqui e ires trabalhar nas obras em França. Emigrar é fuçares o jornal à espera de um qualquer país que peça gente qualificada para trabalhar e isso tu nunca fizeste.

Isso, menino, não é emigrar. Isso é o início de uma carreira, certamente promissora, na política. E tu, tão novinho, és mais um boy. Um dia chegarás, se o Povo quiser, a uma qualquer secretaria de Estado e serás um herói quando te olhares ao espelho, porque o que te preenche essa cabecinha não há-de dar para mais.

Desejo-te as maiores felicidades. Ou não, porque mentir é feio.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

O fim da rosa*

À data em que escrevo este texto ainda não está dada mais uma machadada no frágil tecido produtivo de Leça da Palmeira. Mas sê-lo-á, em Assembleia Municipal extraordinária devidamente convocada para o efeito. Quem vive em Leça sabe que, nas últimas duas décadas, principalmente, Leça se transformou num oásis da linha de praia, ficando para trás a zona norte da freguesia, bem como a zona de Gonçalves, ali por trás do Centro Hípico do Porto.


Há quase 30 anos Leça deixou cair a FACAR. Na altura, os trabalhadores acusavam a Câmara Municipal de estar a ceder a interesses imobiliários, o que foi prontamente desmentido pelo então autarca, Narciso Miranda. Anos mais tarde, com umas alterações ao PDM, construíram-se as torres que agora vemos ainda antes de entrar em Leça, bem como o complexo Entre Quintas. É que o tempo tem esta coisa teimosa de dar razão a quem a tem.

Anos mais tarde, com manobras mais ou menos obscuras, nasceu, paredes-meias com a Petrogal, um condomínio de luxo, numa distância da refinaria inferior àquela que, durante muitos anos, foi considerada de segurança. Toda a gente sabe como.

Agora, Leça da Palmeira perderá a Ramirez para Perafita, ficando por saber o que sucederá com o actual espaço da fábrica, onde me habituei a ver dezenas de ondas cor-de-rosa das batas das operárias.

A Rua Óscar da Silva ficará ainda mais pobre. Veremos como viverão os pequenos negócios nas imediações da Ramirez. Veremos o que nascerá no lugar da fábrica. Mais tarde ou mais cedo. É aquela coisa do tempo...

*Publicado originalmente na edição de Dezembro do Notícias de Matosinhos

sexta-feira, novembro 25, 2011

As freguesias, a Ramirez e a bisca

Ontem, na Assembleia Municipal extraordinária convocada pelo presidente da Assembleia Municipal de Matosinhos, houve vários assuntos em debate. O que mais me atraiu a atenção, confesso, foram os novos factos em torno da possível extinção/agregação de freguesias.
Primeiro: depois da reunião que o Movimento Por Leça manteve com o vereador Correia Pinto, a 21 de Outubro, onde foi referido que seria agendada uma AM extraordinária com a maior brevidade possível, ficámos a saber que o seu agendamento só seria decidido no final da AM de ontem. Que também foi extraordinária.
O presidente da CMM, Guilherme Pinto, revelou que só não tinha participado nas iniciativas da Junta de Freguesia de Leça porque o presidente da Junta sempre afirmou que a sua presença não era necessária.
Ora, na última Assembleia de Freguesia, o mesmo presidente da Junta, questionado sobre a ausência de Guilherme Pinto, afirmou desconhecer a agenda do presidente da Câmara. E assim se entalam dois compadres.

De notar também os avanços e recuos do presidente da Junta de Leça: primeiro era a favor da extinção de freguesias; passou a ser a favor da extinção de algumas freguesias, passou a ser a contra a extinção de freguesias - sendo impulsionador do movimento Freguesias Sempre -, deixou de comparecer nas reuniões do movimento que impulsionou (foi apenas a uma) e, agora, volta a ser a favor da extinção de freguesias, colocando Leça da Palmeira como deixando de ser uma freguesia agregada para ser uma "freguesia potencialmente agregadora". Alguém de Guifões, presente nas galerias, disse, e bem: "Existe alguém que, pedindo o respeito pela sua identidade, parece que está a querer passar por cima da de outros".
Outras informações sobre o mesmo assunto estão na página do Facebook do Movimento Por Leça.

Seguiu-se uma pequena intervenção sobre a Ramirez, que não comentarei uma vez que a minha opinião sobre o assunto será publicada na edição de Dezembro do jornal Notícias de Matosinhos, pelo que não seria correcto divulgá-la aqui.

Entretanto, enquanto se discutiam todas as matérias que, na minha humilde opinião, merecem alguma atenção, e não digo toda, vá, para não ser muito exigente, havia gente com outros afazeres.

O vereador Guilherme Aguiar, eleito pelo PSD e cooptado pelo PS, estava com a cabeça em água enquanto procurava a carta que lhe faltava para completar o jogo de Solitário no seu moderno Ipad.

E assim corre a vida em Matosinhos.

segunda-feira, novembro 14, 2011

Somos Leça!*


Estive entre as pessoas que, no Facebook, criou o Movimento Por Leça, tendo como objectivo evitar a agregação da Freguesia de Leça da Palmeira. Depois, foi necessário dar corpo às quase 800 pessoas que aderiram, em meia-dúzia de dias, à página do Movimento. Para isso, foi agendada uma Assembleia Popular, que depois proporcionou o episódio lamentável que conhecemos. É certo que esta não é a altura para fazer avaliações políticas sobre este processo, mas este e outros casos não serão esquecidos; quando Leça vir assegurada a sua continuidade enquanto Freguesia, tudo o que se passou, com todos os protagonistas, voltará a estar em cima da mesa.

Por agora, centremo-nos em Leça da Palmeira, que é o que está em causa, aliás, foi o que sempre esteve em causa, apesar de um ou outro ego mais crescido.
Leça há-de ser sempre Leça, mas, para isso, é preciso que o Poder Local seja de facto a forma mais próxima de democracia, para lá dos porcos no espeto e dos subsídios às colectividades.

É fundamental que o Povo deixe de ver o Poder Local como “jobs for the boys”, como foi caracterizado pelo ex-ministro Teixeira dos Santos em plena Assembleia da República. Aliás, nestas mesmas páginas, referi a possibilidade de Matosinhos se juntar a Leça da Palmeira, tendo em conta a Reforma do Poder Local preparada pelo governo PS e levada a cabo pela coligação PSD-CDS.
Leça da Palmeira precisa de uma Junta de Freguesia, independentemente da avaliação política que se faça de quem a conduz.

O primeiro passo para recuperar a confiança perdida é servir de exemplo, mostrar que estão a servir e não a servir-se, sem jogadas de bastidores que permitam capitalizar mais uns votos para ter o poder pelo poder ou o poder pelo cargo.

Situações como as de deputados municipais que fazem negócios que lhes permitem fazer fortunas em dez minutos, são inaceitáveis e tiram força àqueles que, em defesa do poder democrático conquistado com o 25 de Abril, pretendem efectivamente servir o Povo.

Leça há-de ser Leça e sê-lo-á através da luta de todos os leceiros e de todos aqueles que pretendam aderir à causa.

Somos Leça!

*Artigo publicado na edição de Novembro do jornal Notícias de Matosinhos, escrito antes da concentração de dia 12 de Outubro, que motivou a escrita do post anterior.

domingo, outubro 30, 2011

Pratos limpos

Ontem estive presente na concentração em frente à Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, promovida pelo executivo da mesma, para lutar contra a agregação a Matosinhos. Estive presente enquanto membro do Movimento Por Leça, e, confesso, tenho feito um esforço tremendo para dissociar o esforço de convergência que os membros da Comissão Coordenadora do MPL defendem da minha opinião pessoal sobre muitos assuntos.

Ontem, digam os jornais o que disserem, a população não respondeu da forma que toda a gente esperava. Se estiveram entre 250 a 300 pessoas, foi muito. Talvez no jantar da noite, no restaurante Rochedo, tenha estado mais gente - nem sei se teve lugar, confesso - e não podemos esquecer que seria o jantar o "primeiro momento de luta contra a extinção da Freguesia".

Felizmente, depois de surgir o Movimento Por Leça, a Junta decidiu andar da perna e correr atrás do prejuízo, organizando uma série de iniciativas, algumas sobrepostas a outras já agendadas pelo Movimento. Ontem, falei em nome do Movimento, deixando passar ao lado a questão da moção reprovada pelo PS, PSD e CDS contra a extinção de freguesias, apresentada pela CDU na Assembleia Munucipal.
O Movimento surgiu com um propósito agregador, sem pretender retirar quaisquer dividendos políticos. E é assim que deve manter-se. Por isso, custa-me estar ao lado de quem apregoa a união, o espírito agregador e apressa-se, quando tem palco, em atirar na direcção da oposição, no caso o PSD, apesar de dizer, ao mesmo tempo, que esta não é uma luta partidária.

Não, não estou a defender o PSD, estou só a defender Leça da Palmeira. Para mim, o estado decadente a que o Poder Local chegou deve-se tanto ao PS como ao PSD. E, para quem não sabe, sou militante do Partido Comunista Português, nunca o escondi.
Mas o espírito de união não será construído com declarações como esta: «A nossa primeira grande acção é já no dia 4 de Novembro, com uma assembleia de freguesia extraordinária, onde vamos tentar envolver todos os partidos porque infelizmente, até à data, o PSD local não tem comparecido a nenhuma das nossas iniciativas, por isso achamos que chegou à altura do PSD, publicamente, deixar de enterrar a cabeça na areia, deixar de ser conivente com este Governo, esquecer os interesses partidários e olhar para o interesse comum, que é o interesse da freguesia”, criticou».

Sejamos claros e objectivos e recordemos, então, que esta medida já estava ser preparada pelo PS quando o Governo de Sócrates caiu, pela mão de Teixeira dos Santos.

Não é disto, neste momento, que Leça da Palmeira precisa. A avaliação e o comportamento político de todos os partidos deverá ser remetida para mais tarde, quando tivermos ganho esta batalha e Leça da Palmeira continuar a ser freguesia. Isto não é unir. É comprar guerras partidárias em lugar de centrar-se no essencial. E, por muito grande que seja o ego de alguns, o que interessa é Leça da Palmeira.

O presidente da Junta sabe que tenho legitimidade de perguntar-lhe, também, por que é que a delegação da Junta que deveria estar presente em frente à Câmara Municipal de Matosinhos, no dia da concentração organizada pelo Movimento, não apareceu. Ou antes, apareceu, mas já estava na sala onde a delegação do MPL viria a ser recebida pelo vereador Correia Pinto. Posso perguntar, também, se o presidente apenas não quis colar a Junta (PS) a uma concentração em frente a uma Câmara PS. Se não foi também uma questão de interesses partidários que levou o MPL a esperar por uma delegação da junta que nunca chegou - ou antes, que chegou bem antes de todos.

Obviamente, isto é um desabafo pessoal e não vincula o Movimento. E, caso assim entendam os membros do MPL e a sua Comissão Coordenadora, estou disponível para abandoná-la, continuando a desenvolver todos os esforços em prol de Leça da Palmeira enquanto Freguesia, independentemente da avaliação que faço de quem a dirige. Foi sempre o meu propósito, como, acredito, seja o de todos os membros do MPL.

SOMOS LEÇA!

quarta-feira, outubro 12, 2011

O ponto do i*


O i surgiu há uns tempos não só como um novo jornal, mas como um jornal novo. Num formato pouco tradicional, até já ganhou prémios internacionais de design, que devem orgulhar todos os que lá trabalham.
Mais tarde, o i acabou vendido e com nova direcção, também editorial. Perdeu a linha recta e desviou-se para a direita mais retrógrada, sob a tutela de António Ribeiro Ferreira, que nas últimas semanas se tem entretido em insultos e calúnias a tudo o que se assemelha com sindicatos e movimentos de trabalhadores.
Há dias, o ex-colunista do Correio da Manhã, onde assinava a crónica “Diário da Manhã”, um título bem elucidativo do que sai daquela cabeça e escorre até aos dedinhos com que bate no teclado, decidiu que “é preciso partir a espinha aos sindicatos”.
Ribeiro Ferreira gasta toda a sua crónica caricaturando os pançudos sindicalistas, acomodados a qualquer coisa que o cronista deve achar mordomias – e só o que vai dentro daquela cabeça poderá explicar.
Na verdade, Ribeiro Ferreira faz de ponto da sociedade, soprando-lhe aos olhos aquilo que o guião indica: contra os sindicatos, pela inevitabilidade da crise, pelo fim dos direitos adquiridos pelos trabalhadores. Ora, mas em todas as peças de teatro há espaço para o improviso, como bem se vê no filme “Pai Tirano”, filmado na década de 40 – tempos que serão de boa memória para o colunista.
Por vezes, o actor, que neste caso é colectivo, surpreende encenadores, pontos e outros que tais, e sai do guião, transformando a peça em algo bem mais interessante, dependendo do contexto. Pode ser que assim seja. Da minha parte, espero que sim.
E já que estamos numa de teatros, é melhor ter cuidado. Não vá o povo, em vez de partir a espinha aos sindicatos, começar a distribuir “pancadas de Molière”.

*Publicado originalmente na edição de Outubro do jornal Notícias de Matosinhos.

terça-feira, outubro 11, 2011

A primeira pessoa do singular

Às vezes, há qualquer coisa na primeira pessoa do singular que me faz alguma confusão. O "eu" é, às vezes, tão pequenino, que acaba por reduzir quem o usa sem critério a uma dimensão quase invisível. Paradoxalmente, quem usa o "eu" com muita frequência acaba reduzido à terceira pessoa do singular, para quem está fora do "eu". Passa a ser ele; ele quer, ele pode, ele que faça.

Para mim, a primeira pessoa do plural é a forma mais bonita de expressão quando queremos alcançar um objectivo. Sim, o herói colectivo, esse mesmo, o que Camões imortalizou.

Em Leça da Palmeira vivemos um momento que precisa de um herói colectivo, sem bicos-de-pés ou bicos de qualquer outra ordem. Quando alguém me diz coisas como "eu preciso da tua força", "eu preciso do teu empenho" soa-me a um desejo de protagonismo reduzido a um herói individual que só existe nos filmes. Ou a uma citação digna dos Beiblades e Picatchus que não faltam por aí.

Neste momento, Leça da Palmeira não precisa de umbigos do tamanho do buraco da Madeira. Leça da Palmeira precisa de união, de um herói colectivo que sempre foram e serão as gentes de Leça. O resto tem de ficar para outras lutas.


Leça é enorme, não cabe num ego só; fica apenas à medida do orgulho que temos em Leça da Palmeira enquanto Leceiros.


O Povo Leceiro decidirá o seu destino através de um colectivo que há-de ser cada vez maior, cheio de um sentimento único e que só quem passa por Leça da Palmeira consegue perceber.

Nós somos Leça!


MOVIMENTO POR LEÇA

Suprapartidário, independente e aberto a todos os cidadãos!

SOMOS LEÇA!

segunda-feira, outubro 10, 2011

Partidarite - A moção

Hoje, durante a discussão gerada no Facebook em torno a possibilidade da extinção da Freguesia de Leça da Palmeira, fui várias vezes acusado pelo presidente da Junta de "partidarite".

O que motivou a acusação, reiterada e repetida até à exaustão, foi o facto de eu ter denunciado no já famoso jantar que, na Assembleia Municipal, o mesmo presidente da Junta tenha votado contra uma moção apresentada pela CDU que rejeita esta reorganização do Poder Local.
Daí para frente, entre as "boas-vindas à luta por Leça", sem esquecer as referências feitas ao seu "amigo" Luís Santos, que por acaso é meu pai, até afirmar que precisava da minha energia para a luta, foi um fartar de elogios e contra-elogios.

Para que não restem dúvidas sobre o que o presidente da Junta não defende, pelo menos na Assembleia Municipal, aqui fica o texto da moção rejeitada:





Moção

Considerando que a Troika estrangeira em conjunto com os que no nosso país subscreveram o programa de agressão e submissão pretendem impor a redução substancial de autarquias (freguesias e municípios);
Considerando que o poder local democrático, indissociável da existência de órgãos próprios eleitos democraticamente, com poderes e competências próprias e agindo em total autonomia face a outros órgãos e, submissão apenas à Constituição, às leis, aos tribunais em sede de aplicação dessas mesmas leis e ao povo, é parte da arquitectura do Estado Português;
Considerando ainda que as autarquias constituem um dos pilares da democracia pelo número alargado de cidadãos que chama a intervir, como representantes do povo, na gestão da coisa pública, pelas oportunidades de participação efectiva dos cidadãos em geral nas decisões que lhes interessam, pela forma aberta e transparente da sua acção e ainda pelas realizações concretas que promove e têm contribuído para a melhoria da salubridade, das acessibilidades, dos transportes, do acesso à saúde, à educação, à cultura e à prática desportiva;
Considerando que o poder local democrático e as pessoas territoriais que o integram detém atribuições únicas essenciais ao bem-estar das pessoas, à representação e defesa dos interesses populares e à concretização da vida em sociedade;
Mais considerando que é herdeiro de tradições centenárias (milenares no caso de muitas das freguesias que querem ver extintas) em cujo caldo se consolidaram e sobrevivem elementos essenciais da identidade comunitária à escala local e a própria identidade nacional, deles diversa, mas que os integre na sua múltipla diferença;
Considerando, por fim que é residual o peso do poder local nas contas públicas e, em especial, ínfimo o das freguesias;
Considerando que de há muito que alguns não se conformam com o carácter avançado,  democrático e progressista do poder local e que alguns outros, em particular, de há muito consideram as freguesias como algo dispensável e até incómodo;
Considerando que a seriedade e coerência de qualquer reforma da organização administrativa que se pretenda eficaz deve considerar prioritariamente a criação das Regiões Administrativas e não a extinção de freguesias ou municípios;

A Assembleia ________________, reunida em    /    / 2011
DELIBERA:
1.      Manifestar a sua convicção de que, pela exiguidade dos recursos públicos que lhe são afectos e pela forma exemplar como são aplicados
a.      As autarquias locais têm um importante papel na promoção das condições de vida local e na realização de investimento público, indispensáveis ao progresso local, no combate às assimetrias regionais e, no presente quadro, às acções que contribuam para atenuar os efeitos da crise e em particular  aos reflexos sociais mais negativos que a aplicação do actual programa de ingerência externa está a impor aos portugueses;
b.      A extinção de autarquias que em quase nada contribuirá para reduzir a despesa pública, não só acarretará novos e maiores gastos para um pior serviço às populações como constituirá um factor de empobrecimento da vida democrática local;
2.      Repudiar a intenção de extinguir as autarquias existentes, seja pela sua pura eliminação seja por recurso a qualquer forma de engenharia política,  que lhes retire o que têm de essencial, a saber, os seus órgãos democraticamente eleitos, as suas atribuições próprias e a parte dos recursos públicos essenciais à sua existência e funcionamento nas condições de autonomia previstas na Constituição da República.

domingo, outubro 09, 2011

O fim de Leça como a conhecemos?

O FMI, juntamente com o PS, PSD e CDS decidiram, parece que está decidido. Leça da Palmeira, a par de Guifões, deixarão de ser freguesias.

Desde sexta-feira passada que era sabido que, de acordo com o previsto no Livre Verde do Poder Local que Leça da Palmeira deixaria de ser freguesia.

Curiosamente, fui convidado, através do Facebook, para um evento, supostamente uma manifestação de protesto contra a extinção da freguesia de Leça da Palmeira. Será uma enorme manifestação, com o custo de 10 euros e num restaurante de... Perafita! Mais, o evento estava já criado para comemorar os dois anos de mandato do actual presidente da Junta.

Obviamente, não participarei, primeiro, porque a luta não se faz em jantares, faz-se nas ruas, com a sensibilização do Povo.

Segundo, porque é fundamental que as pessoas percebam por que são contra a extinção de freguesias. Não por medo de perder qualquer tacho, até porque não o tenho. Sou contra a extinção de qualquer freguesia porque representa um retrocesso na proximidade do Poder Local, entre eleitores e eleitos. Leça da Palmeira ficará, ainda mais, um anexo de Matosinhos, e é isso que não iremos permitir.

Está criado, no Facebook, a página do Movimento Por Leça, um movimento suprapartidário que tem como único propósito defender o poder local plural e democrático, as raízes de Leça da Palmeira e das suas gentes.

terça-feira, outubro 04, 2011

Respirar em Matosinhos

Fui ontem alertado para o facto de ter surgido no facebook da Câmara Municipal de Matosinhos uma nota com o título "Matosinhos é uma das cidades menos poluídas do país". Primeiro não acreditei, depois fui verificar, depois confirmei. A nota existe mesmo e é parte, sim, só parte, de um estudo da Organização Mundial de Saúde que decorreu em 2008, contabilizando mais de 1.100 cidades de todo o mundo.

Quem vive no concelho sabe bem que o estudo pode ter vários méritos, mas há em Matosinhos o pequeno detalhe da refinaria de Leça da Palmeira. Uma pesquisa, que nem precisa de ser muito profunda revela várias questões:

As cidades consideradas pela OMS foram Lisboa, Maia, Funchal, Braga e Matosinhos, tendo sido submetidas a vários critérios. Começando por aqui, parece-me abusivo, a mim, que percebo pouco destas coisas, dizer que Matosinhos é uma das cidades menos poluídas do país, quando apenas cinco foram consideradas.

Num dos parâmetros, apresenta 23 microgramas por metro cúbico (m3) no que diz respeito ao nível de partículas poluidoras do ar, designadas por PM10 (partículas em suspensão com diâmetro menor do que dez milésimos de milímetro). Sendo assim, Matosinhos - a cidade ou o concelho? -, é realmente a menos poluída das cinco consideradas, segundo os dados de 2008. No entanto, o limite máximo considerado pela OMS é de 20 microgramas por metro cúbico, ficando nós acima do desejado. E não me parece que comparar o nosso nível de poluição com o de Tóquio - sim, se lerem a nota da CMM esta fá-lo - seja propriamente algo de positivo. É que Tóquio tem cerca de 8.340.000 habitantes, o município de Matosinhos, e não a cidade, tem algo a rondar os 175.000.

Para confirmar o que melhor a CMM divulga, fui à notícia do Público, de 27 de Setembro, onde outro pequeno detalhe atrai a atenção. No artigo, é referido que no que respeita às PM2,5 (partículas em suspensão com diâmetro menor do que dois milésimos de milímetro e meio), apenas foram analisadas as cidades de Lisboa, Funchal e Maia.

Curiosamente, estas partículas, PM2,5 são, segundo o Público, aquelas que surgem através da queima da madeira, consumo de derivados do petróleo e tráfego automóvel. E parece-me que a Jomar ainda não fechou e a Petrogal continua a refinar.

Voltando à nota, a CMM omite a questão destas últimas partículas. Mais: no comunicado remete para a página da Agência Portuguesa do Ambiente. No entanto, nenhuma das cinco estações de medição da qualidade do ar de Matosinhos controla as PM2,5, teoricamente aquelas que mais afectam quem vive no concelho.

Posto isto, a CMM continua a insistir em fazer-me de burro. E eu continuarei a exigir que, se me querem burro, pelo menos que me ponham uma albarda.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Portugal não é a Grécia

Há uns meses, Portugal não era a Grécia, porque a Grécia tinha um défice escondido. Há sete dias, Portugal não era a Grécia porque nós estamos no caminho certo, pelo menos assim falava o ministro Miguel Relvas, do PSD, o partido pai do outro que, na Madeira, escavacou tudo. Hoje, Portugal não é a Grécia, porque o buraco madeirense representa um acerto de 0,7 por cento no défice e o da Grécia era de 2,2. Estão todos enganados e a vasta equipa do Um Tal de Blog descobriu tudo.

Na verdade, Portugal não é a Grécia por 10 motivos:

1 - O Sócrates deles morreu há mais tempo que o nosso.
2 - O nosso Sócrates só agora foi estudar filosofia.
3 - A Grécia ganhou uma final de um Europeu de futebol em Portugal e Portugal nunca foi campeão europeu na Grécia..
4 - Existe a luta greco-romana mas não existe a luta luso-romana.
5 - A Grécia podia vender as suas ilhas para resolver os problemas financeiros, nós descobrimos um buraco financeiro nas nossas ilhas.
6 - A Grécia enviou-nos jogadores como o Katsouranis, nós mandámos para lá o treinador Fernando Santos.
7 - Os gregos têm as suas fronteiras bem definidas, nós andamos à porrada por causa de Olivença.
8 - A Grécia inventou as provas de fundo, como a maratona, nós inventámos o que nos leva ao fundo, a fuga ao fisco.
9 - Os nomes gregos acabam em Papadopoulos, os nossos acabam em Silva.
10 - Os gregos vão voltar ao dracma, nós vamos voltar ao escudo.

FIM.

segunda-feira, setembro 12, 2011

Albardem-me!*

Numa noite destas, parece que Leça da Palmeira tremeu até à Foz do Douro. Eu não acordei, confesso, que sou rapaz de sono duro, mas consta que a Petrogal pregou mais um susto. A verdade é que para nós, leceiros, a Petrogal  já faz parte da paisagem, os riscos são conhecidos, as vantagens e as desvantagens também. Já as consequências que poderia ter um acidente grave na refinaria, ninguém pode medir com certeza. E nós preferimos não pensar nisso.
Mas há quem tenha obrigação de o fazer. Uma dessas entidades é a Câmara Municipal, que, à terceira tentativa, respondeu à pergunta que coloquei, através do Facebook:  Gostava de saber onde posso ter acesso ao plano de emergência municipal que contém as indicações sobre o que as populações devem fazer em caso de um acidente grave na refinaria de Leça”. Parece simples, não parece? Mas não é. Nunca foi. A questão é há anos colocada, pelo menos, nas Assembleias de Freguesia de Leça da Palmeira. A resposta foi sempre a mesma: o plano existe mas não é divulgado para não alarmar a população.
Deixemos o lado ridículo da resposta. A CMM enviou-me não o plano de emergência que solicitei, e que alegadamente existe, mas sim o Plano de Emergência Municipal, coisa antiga, uma vez que a edição mais recente data de 2006/2007. Refere mesmo a difusão de notícias através da rádio local, a mesma que foi recentemente vendida, e dos jornais cá do burgo, referindo-se, certamente, ao Notícias de Matosinhos, que comemora dois anos de vida, e ao Jornal de Matosinhos, já que, entretanto, o Matosinhos Hoje fechou.
Sobre o plano específico, nada. Sobre o que as populações devem fazer, zero. Sobre o tipo de gases libertados e o que fazer caso tal suceda, menos ainda. A questão acima continua sem resposta e fica, através deste texto, lançada de novo.
A CMM encontrou uma forma original de chamar-me burro. Não levo a mal, gosto da originalidade. Agora mostrai o que pedi e que, como munícipe, creio ter direito a conhecer.
*Publicado originalmente na edição de Setembro do Notícias de Matosinhos

quinta-feira, agosto 04, 2011

Alô Alô

Ontem, uma deputada do PSD ligou para o 112 para testar o tempo de atendimento do INEM. Como perceberá alguém com dois dedos de testa, uma chamada para o 112 não significa o accionamento do INEM, uma vez que o 112 atende também emergências relacionadas com crimes, devendo por isso ser encaminhadas para a força de segurança da área da ocorrência.

Há quem o defenda, como o José Manuel Fernandes, com o argumento de que um deputado deve poder fiscalizar um serviço. Pois que assim seja. Acabem-se com as auditorias e estudos que, de resto, todos sabemos como são feitos.

Voltemos à realidade e deixemos o mundo que só existe na cabeça do antigo director do Público e de outros elementos do PSD, melhor ou pior disfarçados. Fazer uma chamada falsa para o INEM é uma estupidez e uma irresponsabilidade.

Imaginemos, por exemplo, que um puto qualquer decide fazer uma chamada falsa. Se os pais souberem, deve receber um puxão de orelhas. Se o caso, por algum motivo, tornar-se mediático, passa a ser mais um símbolo da geração "dá-me o telemóvel já"! À deputada em causa, provavelmente, acontecerá coisa nenhuma. Mas só temos o que escolhemos.

Não, não é a questão mais grave do momento. Mas não deixa de ser um sintoma da imbecilidade que preenche as bancadas que suportam a maioria.

segunda-feira, agosto 01, 2011

Terrorismo sem rosto, mas só às vezes

Os atentados terroristas de Oslo apanharam toda a gente de surpresa. Primeiro por ser num país que tomamos tantas vezes como exemplo de avanços civilizacionais, de educação, de formação cívica, depois por ter furado as primeiras teorias que surgiam nos media e nas redes sociais, que apontaram para terroristas islâmicos. 

No Twitter, uma conta associada à defesa cega dos crimes de Israel dizia ainda a quente, e cito de memória, que a Noruega dá apoio a grupos que atacam Israel e agora provava o seu próprio veneno. Afinal, o terrorista é anti-islão. Mas centremo-nos no preconceito, que começa aqui. Os terroristas islâmicos não têm rosto, nem família, nem amigos, nem uma infância difícil. São só terroristas islâmicos.

No entanto, este norueguês tem tudo isso. Na RTP, por exemplo, o terrorista de extrema-direita era tratado por “jovem norueguês” e não por terrorista. Até tem nome: chama-se Anders Breivik. E já se diz que é louco, como convém nestes casos.

Ao que parece, o terrorista tinha planos de ataque a uma série de países, e Portugal não escapava ao rol de nações inimigas, com mais de 11.000 alvos a abater. Também a refinaria de Leça da Palmeira era um alvo. Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, apressou-se a assegurar que foram tomadas todas as medidas de segurança necessárias. Um dia depois, os jornais divulgam que uma norma da PSP de Matosinhos, que engloba Leça da Palmeira, que espera há décadas por uma esquadra, indica que as viaturas policiais deverão realizar apenas 25 a 30km por turno, devendo o restante serviço realizar-se a pé.


Fiquemos, por isso, descansados. A PSP tem permissão para dar três voltas ao perímetro da refinaria e fazer o resto a pé. Esperemos que os eventuais terroristas tenham isso em consideração.

Publicado originalmente na edição de Agosto do Notícias de Matosinhos. 

quinta-feira, julho 14, 2011

A culpa é nossa

Diz que é moda malhar na Moody's. Não há dia que não surja um novo vídeo com lixo para a Moody's. Estamos confortavelmente indignados com a Moody's; até crashamos o site deles sem precisar de sair das cadeiras. Foi uma iniciativa inédita, ao que parece lançada por um assessor da TAP, cuja indignação é de classe. Não há notícia de ataques ao site da Groundforce quando foram despedidas centenas de trabalhadores.
Somos tão patriotas quando nos dizem que somos lixo. É aquele orgulho saloio, que surgiu de repente quando percebemos que uma agência faz aquilo que sempre fez: especula. E a gigantesca campanha mediática contra esta agência em particular foi tão bem alimentada, que até o jornal i lançou uma petição dizendo que "A Europa não é um lixo", apoiada pelos líderes da JS e JSD.
Enquanto estávamos entretidos com este circo, surgiam outras ideias mais ou menos pioneiras, como a criação de uma agência de rating europeia. Pessoalmente, acho brilhante. Criticamos as agências de rating dos EUA para criarmos uma europeia, para que possamos, em vez de trash, ser considerados rubish. Pessoalmente, agrada-me, é verdade, que tenho um fascínio pelo british english. Portanto, não se muda o sistema, não se combate a especulação. Não, o que é preciso é que sejamos considerados lixo por alguém que nos seja um bocadinho próximo.

A nossa indignação é tão selectiva que até nos esquecemos, ou há quem nos queira fazer esquecer, o que diziam, até há umas semanas, gente do PS, PSD e CDS sobre as agências. Recordemos que a necessidade dos sucessivos PEC's era equilibrar as contas públicas para não assustar os mercados. A título de exemplo, o ministro Vespa, Pedro Mota Soares, dizia, a 13 de Julho de 2010, que "é um erro desconsiderar o que as agências nos vão dizendo". Menos de um ano depois, a 6 de Julho de 2011, o deputado do CDS, Nuno Magalhães, afirmava: As agências, sublinhou, "falharam" na notação que atribuíram "nas vésperas" da "crise internacional que começou nos Estados Unidos há cerca de três anos e meio".

Já pouca gente se lembra do FMI e do que significa a sua entrada para o país, a perda de soberania, a mesma que defendemos quando fomos considerados lixo. Por falar em FMI, que chegou à Grécia com tanto sucesso - Grécia: défice sobe 28% no primeiro semestre - a instituição segue à letra a ideia instituída de que os melhores gestores têm de ser melhor remunerados, aumentando o salário da nova presidente em 11% em relação ao que ganhava o inocente DSK. Mais quase meio milhão de dólares por ano, ou pentelhos, como diria Catroga.

Até Trichet passou de demónio a anjo, quando criticou a decisão da Moody's. No mesmo dia em que subiu as taxas de juro que farão aumentar as prestações dos créditos. Mas isso nem importa muito. Não podemos é ser lixo.

Vejamos que a crise é tão grande, que até os mais ricos estão mais ricos do que estavam em 2008, coitados. E aqui sim, a culpa é mesmo nossa. Para proteger esta gente de eventuais reacções populares que impliquem levantar as nádegas das cadeiras, hoje mesmo, Helena Matos, no Público, inicia o ataque aos sindicatos, realçando que Carvalho da Silva Está na CGTP desde 1986. Não lhe merece qualquer comentário que o poder económico - e cada vez mais por inerência, também o político - volte a estar nas mãos daqueles que, durante 48 anos e até 1974, exploraram milhões de portugueses. É a ofensiva de classe no seu esplendor. A culpa é nossa e é dos sindicatos. 

Enquanto a nossa indignação se vira para a Moody's, PSD e CDS, com uma ajudinha do PS, vão explicando a forma como vão roubar parte dos subsídio de Natal, sem mexer nas acções e nos juros. A riqueza financeira é então mais protegida do que a riqueza gerada pelo trabalho. Que se lixem as pessoas. O que é preciso é dar sinais aos mercados.

Felizmente, a icar já se pronunciou, dizendo que o corte no subsídio de Natal - note-se a ironia da coisa - é uma medida equilibrada.

E de quem é a culpa de tudo isto? É nossa. Que gastamos mais do que temos. Não é da desregulação do sistema financeiro, não é dos sucessivos retrocessos sociais que vivemos desde a Revolução de Abril. Não. É nossa. (E da Moody's).

terça-feira, julho 05, 2011

O puzzle*


Foi no dia 5 de Junho que o país deu uma volta tremenda de 360 graus, numa confusão de tonalidades que pouco ou nada há-de mudar no que está já traçado para nós por aquela gente estranha que veio de fora, sem rosto nem nome, que ficou célebre por um tal de “senhor olhos azuis”. Agora vem o puzzle que é a formação de um governo, que ninguém saberá muito bem para que serve, porque o programa a adoptar não será de qualquer um deles.

Mas nem só de puzzles políticos vive um leceiro. Temos também os puzzles que são as estradas do Concelho de Matosinhos, com um bocadinho de estrada à volta de cada buraco. Tenho para mim que, se juntarmos todos os pedacinhos de rua, havemos de conseguir uma estrada sem buracos fora da linha de mar. E uma é melhor que nada. Um bom exemplo é a Rua Óscar da Silva, uma das artérias que levava o Porto de Leixões até ao antigo terminal TIR. A grande surpresa, para alguns, é que esta rua não termina na rotunda ao cimo da Av. dr. Fernando Aroso. Continua mais para a norte e encontra-se com Perafita, numa zona que é um bocadinho de ninguém. Faz lembrar Gonçalves, também em Leça, por trás do renovado centro hípico, também numa fronteira, mas com Santa Cruz do Bispo.

Gonçalves não é bem um buraco, é uma nódoa que o poder local continua a ignorar, mas não totalmente. É uma zona sem passeios, com rua em paralelo, mas não toda. Eu explico: Há um espaço com direito a alcatrão e passeios, junto a uma superfície comercial, mas para lá chegar não há passeios; mais à frente, há uma rua que vai dar às traseiras do centro hípico que tem alcatrão mas também não tem passeios. Depois vamos de paralelo em paralelo até ao viaduto – em alcatrão – que liga às traseiras da Exponor e a uma das entradas da Quinta da Conceição – também sem passeios.

Leça é assim mesmo, um enorme puzzle que há anos tentam desmontar e descaracterizar.

*Publicado originalmente no jornal Notícias de Matosinhos.

quinta-feira, junho 30, 2011

Ó gente da minha terra! - Contra o encerramento dos CTT no Monte dos Burgos

Sei que o tempo não tem sido muito para passar por aqui, mas não podia deixar de partilhar e apelar à participação nas seguintes iniciativas contra o encerramento do posto do CTT do Monte dos Burgos.

·    Quinta-feira dia 30 Junho às 21h na Assembleia Municipal no edifício da Câmara de Matosinhos.

        ·      Sexta-feira dia 1 de Julho às 16h no protesto em frente à estação dos CTT de Monte dos Burgos.


Convém recordar, de acordo com uma notícia recente, que, segundo os dados da Direcção-geral do Tesouro e das Finanças, a aquisição mais cara foi nos CTT. Quando Estanislau Mata da Costa assumiu a liderança dos Correios trocou o BMW de serviço por um Mercedes S320 CDI. Este custava 84 mil euros, mas a retoma do BMW permitiu baixar o preço para 60 mil euros."

Eu vou estar lá.

sexta-feira, junho 03, 2011

Democracia à moda da CM de Matosinhos

A Câmara Municipal de Matosinhos já nos fez saber mais que uma vez que vale tudo em campanha eleitoral. Mas a fotografia que a seguir se apresenta constitui crime. Por uma vez, tenham vergonha!

segunda-feira, maio 30, 2011

Juntas de boys*

Portugal passará, ao que tudo indica, a ser gerido por uma comissão administrativa composta pela UE e FMI, apesar de irmos a eleições, que passam a ser uma espécie de adorno do sistema democrático. As medidas já foram decididas pelos futuros gestores do país, embora a grande maioria tenha de passar pela Assembleia da República, obrigando a que, mais uma vez, vejamos quem apoia a ingerência externa num país soberano.

Uma das medidas prevista no memorando que ninguém se lembrou de traduzir, à excepção do blogue “Aventar” (http://aventar.eu/), é a fusão e redução do número de freguesias e municípios. Vem, aliás, na linha do que já havia sido afirmado na AR pelo ministro Teixeira dos Santos, aquando da dotação orçamental para as freguesias, em que o mesmo afirmou que as juntas serviam para colocar boys dos partidos políticos. Com o pequeno detalhe de serem eleitos pelo povo.

Para o interior do país esta medida será gravíssima e terá como consequência um afastamento da população dos órgãos locais de decisão, proporcionando uma desertificação ainda maior das regiões mais deprimidas, sem a proximidade de quem tem por obrigação moral, mais não seja, defender os seus anseios e reivindicações.
Mas vamos fantasiar por uns minutos. E se houvesse em Matosinhos uma união de freguesias?

É que, apesar de o site da Câmara Municipal de Matosinhos não referir, por desconhecimento ou deliberadamente – qualquer dos motivos bastante grave –, Matosinhos foi elevada a cidade a 28 de Junho de 1984, através da lei n.º 10/84, com uma particularidade: passou a adoptar, oficialmente, a designação de cidade de Matosinhos – Leça da Palmeira.

E agora? Estarão os leceiros e matosinhenses dispostos a uma migração forçada de freguesia? E o que pensarão os boys – para usar palavras de Teixeira dos Santos – do poder local de ambas as freguesias?

*Artigo publicado no jornal Notícias de Matosinhos de Junho

segunda-feira, maio 23, 2011

EXCLUSIVO Um Tal de Blog

O Um Tal de Blog está em condições de confirmar a notícia avançada no fim-de-semana pelo Correio da Manhã, onde se lê que o PS paga apoio de imigrantes provenientes da Índia e Paquistão, trabalhadores nas lojas do Martim Moniz, Lisboa, e na construção civil.

O Um Tal de Blog encontrou imagens inéditas e exclusivas das excursões organizadas pelo aparelho partidário do Partido Socialista.


quarta-feira, maio 11, 2011

O que esperar das eleições

Vamos outra vez para eleições, no próximo dia 5 de Junho. Desta vez, estranhamente, as habituais notícias sobre o custo das eleições surgiram logo após a demissão do Governo. Mais importante que isso, seria perceber o custo que o resultado das eleições terá para o Povo português, as implicações, o seu impacto no quotidiano de cada um de nós.

Também há os que já pedem a permanência indefinida do FMI, por considerarem que a culpa é "dos partidos", sejam eles quais forem, num argumento à Carlos Coelho. Pessoalmente, não tendo vivido os 48 anos de ditadura fascista, guardo com orgulho o património de luta do Povo português e do PCP em particular, que permitiu a conquista da democracia. E é por isso que tenho esta mania teimosa de defender o meu direito a escolher quem me representa na Assembleia da República, mediante o conhecimento dos projectos de cada um. E é isso que deixa de acontecer quando o FMI entra num país.

O que esperar, por isso, das eleições de dia 5?

Do PS, PSD e CDS espera-se a derradeira traição às conquistas de Abril, o ajuste de contas que tanto querem fazer, agora a cobro do FMI. Com pequenas diferenças entre eles, escolhem o mesmo caminho do desastre que levou a Grécia ao estado em que está - e que hoje vive mais uma greve geral, demonstrando assim a vantagem da intervenção externa. Mas há outros paralelismos entre Portugal e a Grécia. Os dois países seguiram, desde 1997, políticas de combate ao défice para cumprir metas irreais, que foram sendo alteradas ao longo dos anos, sempre para servir os interesses e a ineficácia dos países do centro da Europa, que controla as directivas da UE. Uma vezes conseguiu-se, outras não, mas sempre às custas da mesma receita: mais sacrifícios para os trabalhadores. E importa esclarecer que os desempregados também são trabalhadores, ao contrário do que às vezes se pretende fazer passar.

Entre PS e PSD, à parte do desastre Catroga e da cambalhota de Nobre, há pouco que os distinga. Programas fictícios, porque o verdadeiro foi o assinado com o FMI, à boleia do CDS, que fugiu da fotografia para continuar a capitalizar os descontentes do PSD e do PS.

O Bloco de Esquerda continua perdido no seu labirinto: entre o apoio à intervenção da NATO e a presença na manifestação contra a cimeira em Lisboa; entre o apoio à intervenção externa na Grécia e ser contra a intervenção em Portugal; entre a moção de censura que não era boa ao domingo e passou a ser fundamental na quarta-feira; entre o apoio a um candidato presidencial do PS e a rutura com as políticas do PS; entre as diversas correntes que defendem tudo e outras o seu contrário.

No entanto, o que mais me deixa curioso em relação ao Bloco é no que diz respeito às reformas laborais. Que posição assumirá o Bloco quando verificarmos que parte das medidas propostas pelo FMI são, afinal, aquelas que o bloquista Chora, o sindicalista-modelo, "conquistou" na Autoeuropa? Haverá espaço para mais cambalhotas no Bloco?

Resta a CDU, a única opção coerente e credível para quem quer dar, de vez, a volta a isto. E cabe a todos nós, militantes e activistas, fazer a nossa parte. Esclarecer o que é deturpado, mostrar o que é omitido, abrir novos horizontes a quem os últimos 35 anos de PS, PSD e CDS roubaram a esperança e as perspectivas de futuro.

Mostrar, por fim, que há alternativas. Critiquem-nas, concordem, discordem, mas conheçam-nas primeiro.


terça-feira, maio 10, 2011

Há 90 anos

‎"Portugal é um país de imensas e variadas riquezas naturais, que criminosamente para aí estão completamente abandonadas por incúria e incompetência da maioria desses cretinos e esbanjadores que neste momento procuram caçar votos para esbanjar e delapidar o erário público".

Partido Comunista Português, 1921.

Através do Bruno Carvalho, do 5dias.

terça-feira, abril 26, 2011

25 de Abril à moda de Leça

Há 37 anos e um dia, Portugal voltava a respirar. De forma confusa, ainda, cheia de soluços e com medos de 48 anos que não se ultrapassam em 48 horas.
Eu não era nascido há 37 anos, que os meus pais andavam ocupados a fazer outros filhos. Ou filhas, no caso. Foram três seguidas, as filhas. O resto prefiro não imaginar porque se aproxima de uma visão do inferno para um descrente.

No entanto, tive a sorte de crescer numa família que fez questão de ensinar-me o que foram o 24 e o 25 de Abril, numa perspectiva marcadamente ideológica. Não por uma questão de politização precoce, mas antes por uma perspectiva de classe da forma como o Povo sentia e vivia. Da classe do povo, dos explorados - palavra proibida, que é de comunista. E estou à vontade para falar. O meu pai ainda não era militante do PCP, embora já fizesse parte das listas da APU e da CDU para as Autárquicas; a minha mãe andava iludida com o PS do Soares. Passou-lhe, felizmente. Mas não me sai da memória ter ido festejar a vitória do Soares sobre o Freitas. E sim, era pequenino mas lembro-me bem disso.

Também não foi na escola que aprendi o que é o 25 de Abril, que a coisa é matéria non-grata. Ou antes, aprendi com alguns professores, mas à margem do que a escola "ensina". Professoras como Lurdes Castro, Ana Amaral, Luísa Félix e Maria Emília. Aprendi com elas, discordei, concordei, mas aprendi.

Ontem, na sessão solene comemorativa dos 37 anos do 25 de Abril, em Leça da Palmeira, a Junta não estava cheia, longe disso. Mas não só não estava cheia no espaço dedicado ao público como não estava nas cadeiras dos eleitos. Estavam todas vazias. Apenas cinco pessoas - o executivo. Nem PS, nem PSD-CDS, nem o movimento de Narciso Miranda, nem a eleita independente. Zero.

Não aprenderam coisa alguma, nem com a história, nem com a vida, nem com, mais não seja, o respeito para com aqueles que os elegeram. Sejam doutores, engenheiros, pedreiros, os representantes eleitos pelos leceiros não estiveram nas comemorações do 25 de Abril.

Afinal, é o povo que se divorcia de alguns políticos, ou são alguns políticos que se divorciam do povo?

terça-feira, abril 12, 2011

Pensar o futuro.

O domínio socrates2011.com foi registado em Fevereiro.

De acordo com o blog Snapshots, já em Fevereiro o PS se preparava para eleições antecipadas.

Cai por terra a teoria de que Sócrates não queria o FMI nem eleições antecipadas. Ou então é uma visão de futuro tremenda.

É penalty?*

Caiu o governo. Bem, dizer que caiu não será a expressão mais adequada. Na verdade, o governo não caiu; só aproveitou uma entrada de carrinho de Cavaco Silva no novo mandato como Presidente da República para se fazer ao penalty.

E Pedro Passos Coelho caiu como um pato, sedento que estava para avançar para eleições. Apontou para a marca dos 11 metros e disparou contra o PEC IV, depois de ter dado carta branca para os três anteriores, mais um Orçamento de Estado pelo meio.

Na verdade, não só não houve grande penalidade como Passos Coelho demonstrou ser o Olegário Benquerença da política. Sócrates sabe que o PSD, se ganhar as eleições, vai fazer um trabalho tão mau, ou pior, do que o PM demissionário vinha praticando. E isso dá a Sócrates uma almofada confortável para a campanha. Até porque Passos Coelho anunciou, logo após a demissão do PM, que aumentará o IVA.

A par disso, por coincidência, o Eurostat veio pedir informações ao muito nosso Instituto Nacional de Estatística sobre as contas do nosso défice, que, ao que parece, está um bocadinho acima do previsto, fruto da nacionalização dos prejuízos do BPN.

Felizmente, o mundo não é a preto e branco, ou a rosa e laranja, no caso. Há mais vida para além do que todos os dias nos apresentam como inevitável. E não, não são todos iguais. Mal estaríamos nós se, em 10.000.000 de habitantes, não houvesse diferenças. Saibamos nós distingui-las, para que percebamos que aquilo que temos em Portugal não são os políticos que merecemos; são antes os políticos que queremos, que escolhemos e que escolhemos não ser.


*Publicado na edição de Abril do Notícias de Matosinhos

quinta-feira, abril 07, 2011

O meu reino por uma lata de sardinhas

No mesmo dia em que José Sócrates, "com seu ar grave e sério" - desculpa, Carlos Tê, merecias melhor - anunciou o que tinha desmentido há três dias, houve um episódio curioso, no Lidl que fica ao lado do bairro, ali para os lados de Leça.

Enquanto o Luís dizia de sua justiça sobre o melhor perfil de Sócrates, lá em casa comentava-se a situação do país, intervalada pelas tiradas da B. e do T., que ainda não percebem bem o que nos seduz nos noticiários e nas declarações do senhor que fala como se estivesse a dizer uma coisa que não lhe agrada.

Voltemos ao Lidl, que é mais barato e tem sempre promoções. Não, vamos antes ao FEEF, que mais não é do que o FMI e a UE juntos. Sócrates falou para desmentir o desmentido que o seu governo de gestão tinha feito durante a tarde a uma notícia do Financial Times. Portugal vai mesmo pedir "ajuda" externa. Mas foi a meio de uma semana difícil, compreende-se. Desde segunda-feira que os donos dos principais bancos, um a um, anunciaram que não emprestavam mais dinheiro ao Estado. O mesmo Estado que, não há muito tempo, havia criado um fundo para salvar o sistema bancário, mais a nacionalização dos prejuízos do BPN. Vem aí uma "ajuda" que exigirá cortes nos salários e possíveis supressões dos subsídios de férias e de Natal. São assim, as "ajudas" dos nossos irmãos europeus.

Horas antes. No Lidl. Uma senhora de idade, na casa dos 70, foi apanhada a roubar. Uma lata de sardinhas. O senhor segurança privado, orgulhoso, comentou com o senhor João: "Já a apanhámos". Não só a apanhou. Chamou a polícia. Sim, o segurança chamou a polícia por uma septuagenária ter roubado uma lata de sardinhas.

O senhor segurança há-de ter o que merece, agora, quando formos todos "ajudados". E quando ele próprio perceber no ridículo em que caiu - embora isso possa muito bem nunca acontecer.

quinta-feira, março 03, 2011

12 de Março - Eu vou!

Confesso que não tive de pensar muito para confirmar a minha presença no dia 12 de Março. Afinal, não é apenas uma data, um acontecimento. É a celebração da luta, de décadas de resistência e com os olhos postos no futuro.

No dia 12 de Março estarei ao lado daqueles que não se conformam, daqueles que, licenciados ou não, estão fartos do rumo que querem impor-nos, da fatalidade da precariedade, do desemprego, dos salários miseráveis e da desigualdades.

No dia 12 estarei ao lado de quem, como eu, luta todos os dias contra o estado a que isto chegou, assumindo os erros que cometemos e enfrentando todas as dificuldades com que nos deparamos.

Não tenho formação superior por opção própria. Toda a gente sabe que, nos dias de hoje, qualquer calhau com olhos arranja um canudo - que está longe de ser sinónimo de conhecimento. É também por aqueles que, como eu, ficaram de fora dos Deolindas de serviço e são escravos mesmo sem terem estudado que estarei mais uma vez em luta no dia 12 de Março.

É pelo exército de desempregados que no dia 12 estarei ao lado deles, mesmo que muitos deles não o reconheçam, nem hoje, nem quando chega a hora de decidirmos o nosso futuro. É uma manifestação a favor da política, da participação participação política de todos a favor de soluções concretas e objectivas.

Dia 12 de Março será mais uma tremenda acção de luta, de protesto e, acima de tudo, de esperança.

No dia 12 de Março estarei no Comício dos 90 anos do PCP.





quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Quanto vale o espaço mediático?

Vale tudo.

Francisco Louçã acaba de anunciar uma moção de censura, depois de o PCP ter dito que esta seria uma possibilidade.

No entanto, no dia 6 de Fevereiro: "Sabemos que no dia em que estamos a discutir não tem qualquer utilidade prática a apresentação de uma moção de censura", disse Louçã.

Moção de censura sem «utilidade prática»

Depois das Presidenciais, o BE perdeu o norte, a vergonha e os princípios.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

O milhão

Já não se falava tanto no "milhão" desde as penúltimas Presidenciais, quando Manuel Alegre o carregava às costas, em boletins de voto que foi perdendo pelo caminho até ao mês passado.

Agora, o milhão volta à carga numa manifestação que muito dificilmente sairá do Facebook, cujo objectivo é, passo a citar, "Pela demissão de toda a classe política", seja a classe política o que for. Mas ok, venha de lá esse milhão e a demissão da classe política. E depois vem o quê? Os militares? A classe política engloba governantes, deputados e autarcas? Isso resolveria exactamente o quê?

Nada, obviamente. Nada, porque agir sem uma linha condutora comum entre o milhão que pretenda construir uma alternativa, equivale a nada.

As imagens do Egipto e da Tunísia, as que hão-de vir da Síria e do Iémen dão enorme alento a quem quer mudar. Mas não é mudar para que fique tudo na mesma, é mudar efectivamente, de política, de economia, de relações laborais. E é essa mudança que a suposta manif não alberga. Dali não sai uma ideia, um princípio ou um fim. Os países do Magrebe lutam, precisamente, porque querem uma classe política em vez de uma classe dirigente. Nós, no nosso fado habitual, queremos andar para trás e substituir a classe política, que podemos escolher livremente, por uma classe dirigente. No Magrebe luta-se pela democracia que nós temos. Nós lutamos por coisa nenhuma, porque ou está demasiado sol para ir votar, ou demasiado frio, ou demasiado vento. Ou porque quando chegamos à cabina de voto olhamos para todos os quadradinhos mas a cruz acaba sempre nos do costume. Ou então porque é sempre mais fácil indignarmo-nos na poltrona.

Não sai, sequer, uma indignação genuína com alguma coisa. Sai uma indignação contra tudo aquilo em que se deixaram enredar, umas vezes por culpa própria, outras por culpa própria e de outros intervenientes, que Álvaro Cunhal tão bem explicou:

"Quando as forças reaccionárias dispõem e abusam do Poder, dos recursos e do aparelho do Estado, dos órgãos de comunicação social, nem sempre falar verdade conduz ao êxito imediato. Exemplo flagrante no tempo da ditadura fascista foram as perseguições, as torturas, as condenações, os assassínios de comunistas pela suprema razão que os comunistas diziam a verdade ao povo.
Exemplos flagrantes depois do 25 de Abril é o sistemático silêncio ou a grosseira deturpação das posições do PCP pelos grandes meios de comunicação social controlados pelo governo e a incriminação e condenação como caluniadores daqueles que com inteira verdade desvendam casos gravíssimos de corrupção nas mais altas esferas. O amor pela verdade pode temporariamente custar caro a quem o exercita. Mas a verdade acaba por triunfar da mentira. A política da mentira está condenada à derrota final. É à política da verdade que o futuro pertence."*

Agora podemos voltar a sintonizar a Al Jazeera e olhar, embevecidos, para a coragem daqueles povos, que não querem mais do que nós temos; ao passo que nós achamos que queremos o que eles não querem.

*Álvaro Cunhal, in O Partido com Paredes de Vidro

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Presidenciais - Uma análise a frio

Voltei às mesas de voto no passado domingo, para as Presidenciais, cujos resultados já foram analisados e mais que analisados por toda a gente e mais alguma.

Parece-me que falta, no entanto, uma análise a frio. Ao frio, mais precisamente. O choque tecnológico ainda não chegou à Escola Secundária da Boa Nova. Há 15 anos, quando entrei lá pela primeira vez, o frio que se fazia sentir nas salas de aulas, se não for o mesmo, é muito parecido. Tinha 13 anos quando cheguei à ESBN, cheio de frio e com herpes, ainda por cima, por causa do cieiro. Desde então, no que diz respeito ao aquecimento das salas de aula, nada foi feito.

Ao fim de 15 anos já alguém devia ter reparado que, quando está frio, está mesmo muito frio, particularmente nas salas viradas a nascente, entretanto tapadas pela construção desenfreada que aconteceu em Leça da Palmeira.

Já que se fala na ESBN, vamos mais atrás buscar o benzeno, salvo seja, que aquilo é coisa para fazer mal às pessoas. A proximidade da Petrogal é inevitável. Em Leça tudo é próximo da Petrogal; não porque Leça seja uma cidade pequena - é um mundo, como todos sabem - mas porque a Petrogal é mesmo muito grande.

Reza a lenda que os efeitos dos gases libertados pela refinaria se fazem sentir em zonas mais altas, como em Valongo e afins, o que até faz sentido, dada a dimensão dos "canos da Sacor". Deles se dizia que teriam de ser 10 metros mais pequenos, porque estavam a queimar as miudezas ao S. Pedro, mas isso é outra história.

Se no que à refinação diz respeito pode ser verdade, não é menos verdade que a Galp também trabalha com aromáticos, cujos gases são libertados ao nível do solo. Eu sei que há um estudo da Quercos, salvo erro, que conclui que a ESBN está construída precisamente no canal por onde passam esses gases, devido à direcção do vento que por norma se faz sentir. Obviamente, esse estudo há-de estar guardado em alguma gaveta da CM de Matosinhos, da Galp ou de uma qualquer direcção do ambiente.

Interessante seria estudar o impacto que este facto tem na saúde da comunidade escolar, nomeadamente entre aqueles que por lá ficam mais anos, professores e funcionários, e se há ou não uma relação directa com os casos de cancro que por lá existem.

Ficamos a aguardar.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Esquerda a qualquer preço?

Pode, Nuno, claro que se pode mudar a esquerda. Para sermos verdadeiros e objectivos, ao longo dos anos, só a esquerda é que mudou. Na forma como aprendeu com erros - e houve alguns - ao longo da história, como avalia o mundo, como o interpreta, como pretende mudá-lo. O mesmo não pode dizer-se da direita, que mantém hoje, como ontem, os mesmos objectivos de sempre. O capital apátrida concentrado num punhado de gente e conquistado à custa dos povos e dos trabalhadores, da manipulação da verdade e da mentira.
Acredito convictamente que a esquerda há-de ser poder e veremos todos como teremos um mundo melhor, mais justo e solidário, mais fraterno e mais igual. Já não acredito, nem quero, é que o consiga a qualquer custo, sem princípios nem coerência, sem lealdade e sem objectivos claramente definidos.

A esquerda é a verdade, tem de representar a verdade e a honestidade intelectual. De outro modo, nunca será esquerda, ou sê-lo-á apenas nas páginas de jornais dedicadas a uma esquerda que vende bem. Em Portugal, nos dias de hoje, o apelo a uma união de esquerdas implicaria por si só o fim das esquerdas. Falando por mim, que jamais estaria ao lado de um projecto com alguém que tem este baixo nível intelectual ao falar da esquerda com que me identifico. Por um motivo óbvio: eu defendo o meu projecto de esquerda e não outro, é por ele que luto e que procuro mobilizar e esclarecer mais e mais gente.

Também seria necessário saber o que querem ao certo as outras esquerdas. No caso do BE, o que quer o BE? Quer a solidariedade internacionalista que até enviou o Soeiro à Grécia para acompanhar a contestação social, ou quer o apoio às medidas de austeridade para aquele país que votou na AR? O que se retira daqui? Qual é projecto para além do folclore?

E no PS quem será de esquerda? Quem haverá naquele partido que suporta o Governo que seja de esquerda e que entenda os cortes salariais, que entenda a redução na fórmula de cálculo das indemnizações por despedimento? Quem restará de esquerda e apoie um partido que, de Soares a Sócrates, desgraçou o país e fez nem mais nem menos aquilo que fariam PSD e CDS? A grande diferença, é que a esquerda tem as costas largas. E a cobro dela o PS desfez grande parte das conquistas de Abril.

A esquerda será poder quando o povo quiser ser esquerda. E não é a esquerda que tem de ser menos esquerda para que o povo assim queira. O trabalho de um militante de esquerda faz-se nas escolas, nos locais de trabalho, nos cafés e na web, com a apresentação de soluções alternativas, contra as fatalidades que nos impõem e a favor da verdade.

O problema da verdade é que, às vezes, é demasiado dura para que alguém queira ouvi-la. A esquerda, sendo a verdade, também. Mas a luta continua, sempre.