Hoje não me apetece falar sobre como foi possível encaixar 10.000 pessoas onde cabem 3.000, sobre as fotos que (não) se viram do que foi o comício do Governo, sobre a confusão do PSD.
Hoje, não. Estou um bocado nostálgico e um comentário do Miguel, ali em baixo, para além de uma conversa no msn com o Toninho Barroso, fez-me ter saudades do falecido O Comércio do Porto.
Quando entrei naquele edifício da Rua Fernandes Tomás, rumo ao sexto andar, não fazia ideia do que iria encontrar. Sei, apenas, que quem lá estava ia encontrar um puto de 17 anos, com cabelo comprido e calças rasgadas e cheio de vontade de fazer coisas.
Fui para a secção do desporto, uma secção à parte, por ser um caderno à parte. Lá, encontrei pessoas fantásticas que ainda hoje guardo comigo, mesmo não falando há anos com algumas delas.
Hoje ainda sei a disposição da sala e de quem lá estava.
O Barroso, mestre da sabedoria, revisionista e ex-ranger de Lamego que nunca o foi, era o gajo com mais cd's e dvd's, não só do desporto, mas de toda a redacção, estava junto à janela, com um rádio semi-morto para ouvir a Bola Branca e, de vez em quando, a Born Slippy, dos Underworld.
Mesmo ao lado, o Horta. À frente do Horta, o Pedro Couto ou a MJ Leite, mesmo ao lado do Miguel, que se sentava de costa para a Olga - mas não por motivos pessoais, acho. À direita da Olga, e num papel de quase patriarca e de mestre de sabedoria futebolística, estava o enciclopédico sr. Miranda - o único sr. de toda a redacção. Nunca, mas mesmo nunca, vi alguém saber tanto sobre tudo - à excepção do Barroso, claro.
À direita do Miranda estava o Vaz Mendes, diante da Patrícia, que, por sua vez, ficava ao lado do Catarino ou da Sónia CS.
Naquele espaço minúsculo, no computador do Vaz Mendes, escrevi um primeiro texto sobre os locais de diversão nocturna que estariam abertos na noite de 24 para 25 de Dezembro. Adorei.
Depois, naquele Mundo novo, o petit-communiste - eu próprio - foi transferido para a secretaria da redacção e, depois, para a agenda. Basicamente, fui um estafeta. Para onde não ia ninguém, ia eu. E isso permitiu-me conhecer o trabalho de um jornal desde o nascimento da edição até à morte, no dia seguinte.
Fora do desporto, o Carlos PS, o Soares, as Susanas, as Cidálias, a Fátima, o Ferreira, o Neves, o Bessa, a Mónica, a Manela, o Vinhas, o Maurício, a Ana CG, a Natália, a Patrícia, a Dora, o Pipa, o Reisinho; nas fotos, o meu homónimo e o Jorga; na paginação a Mónica e muitos outros, que fizeram daqueles dois anos talvez dos melhores que alguma vez tive.
E, hoje, tenho saudades deles todos, mesmo dos que não nomeei.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
2 comentários:
Foda-se, miúdo (sê-lo-ás sempre, para mim. Miúdo, mas o maior miúdo de todos). Esta dooeu-me. Tenho tentado apagar tanta memória... Penso sempre que é mais fácil levar a vida sem olhar para trás. Mas há sempre alguém que resiste ;)
António Barroso (aka) Rock Santeiro
Foram realmente bons tempos.. Um abraço Xiribix!
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