Tão bonitos que eles são
Quando o nosso império caiu - felizmente -, era de esperar que Portugal, a caganitazinha mais ocidental da Europa, perdesse aquela mania de considerar que Lisboa é Portugal e Portugal é Lisboa. Pois que não é. Assim como o norte não é o Porto e o Porto não é o norte.
Ao contrário do que seria normal, em Portugal, os provincianos da capital continuam a achar que o país são aqueles quilómetros quadrados de Lisboa-e-tudo-à-volta.
Vem isto a propósito de uma sondagem sobre homens bonitos. Segundo o site travelersdigest, os portugueses estão em 4.º na lista de homens mais bonitos do Mundo. A RTP, diligente na defesa da capital do império morto, enterrado e que só existe na cabeça de um ou outro ministro dos Negócios Estrangeiros, diz que são os lisboetas.
O texto não deixa dúvidas, refere-se a Lisboa, mas a uma das zonas mais frequentadas por turistas, entre eles, os que viajam desde a província até ao Bairro Alto. Eu, tripeiro, ainda lá estive há pouco tempo:
"Portuguese men tend to be worldly, well-educated and brimming with pride for their small but scenic country. In Lisbon, the often tall, charismatic and athletic gentlemen might surprise you with their firm grasp of not only their own culture but that of the other nations as well. All this said, tradition is still held in high regard for these divine manifestations of old-world values. They would surely appreciate an impromptu Fado performance at one of the many bars in the Barrio Alto, or a nostalgic stroll in the Alfama District – one of the most delightfully preserved sections of the city. Whatever you decide to do, these Latin seducers are guaranteed to sweep you off your feet."
Este saloiismo lisboeta fez-me lembrar o episódio do "senhor do adeus", ao que parece, uma pessoa famosa na capital mas desconhecida do resto do país. Ainda assim, quando faleceu, mereceu honras de notícia em todos os canais. Consta que era um idoso, parado no meio da rua, a acenar ao carros que passavam. Um extravagante, por estar em Lisboa; aqui, em Leça, ou mais para sul, no Porto, seria mais um maluco.
Em Leça tínhamos uma sem-abrigo a quem chamávamos Rosa Mota, por ser pequenina e andar devagarinho, e o Senhor dos Cães, outro sem-abrigo, que carregava um cão às costas e tinha à volta dele mais uma dezena de outros animais. Todos de quatro patas, que aos bípedes ele parecia fazer alguma confusão. Morreram os dois. Não eram de Lisboa. Não acenavam aos carros. Não foram notícia.
2 comentários:
Ricardo,
Nascido e criado em Lisboa, nunca residente noutra paragem, partilho da tua visão sobre este provincianismo saloio que domina muitas cabeças alfacinhas.
Abr!
Haja alguém! hahaha um abraço
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