Fez no dia 10 de Junho de 2007, dois anos e dois dias que escrevi assim, noutro blog:
"Percebi!
Sim, é verdade, cheguei a uma conclusão.
Há uns dias percebi, finalmente, por que é que estes senhores que nos governam jamais conseguirão mudar o rumo deste país.
Há três ou quatro semanas, num domingo à noite, desloquei-me à doca de Matosinhos para tentar perceber as sensibilidades dos pescadores em relação à crise que enfrentam.
Não podem pescar, porque o peixe que trazem para terra é demasiado pequeno. Se continuarem a pescar, correm o risco de, daqui a uns tempos, deixar de haver peixe.
Estava um vento gélido, junto ao mar, mas o calo fez daqueles homens imunes às adversidades do clima, e as camisolas de manga curta contrastavam com as minhas camisolas e casaco.
Os pescadores estavam divididos por um motivo muito simples: A necessidade é maior do que a moral.
Todos sabem que não podem ir ao mar porque vão acabar com o que lhes dá o pão. Mas ouvi, da boca de um dos mais novos: "Vamos ao mar. Sempre dá para trazer 10 euros e a caldeirada".
Dez euros. Para que servem 10 euros? Menos do que se paga numa discoteca da moda, voam num ápice. Mas dez euros são, para muitos - e cada vez mais -, uma questão de sobrevivência. É assim a vida destes homens que recebem ao dia em função daquilo que o mar lhes quer dar. É muito simples. A faina é fraca, não há dinheiro.
É isto que os senhores que governam e governaram Portugal não conhecem. Só conhecem a realidade dos pescadores de visitarem as lotas em tempo de campanha. Não percebem que a vida destes homens e de muito outros se faz de acções concretas e não de promessas, nem de boas vontades.
Narciso Miranda, a pensar nos pescadores, tomou já uma medida. Vai erguer um monumento a quatro naufrágios que ocorreram em 1947 e retiraram a vida a 150 homens do mar. Acho muito bem. Mas e os vivos...? É esta a prioridade do presidente da câmara?".
Passados dois anos e dois dias, Cavaco virou-se para o mar e decidiu apelar a que aproveitemos todas as potencialidades.
Mas virados para o mar já nós estamos e cada vez mais. Virados para os condomínios de luxo, à beira mar, que quase nos fazem sombra na areia.
Cavaco lembrou-se do mar que esqueceu enquanto foi Primeiro-ministro, como se lembra agora de quase tudo. Das dezenas e dezenas de fábricas de conserva que fecharam, só no concelho de Bouças, a.k.a Matosinhos.
Falou na nossa Zona Economica Exclusiva, uma das maiores, mas esqueceu-se da União Europeia e daquilo que (não) deixam pescar.
A memória de Cavaco é, afinal, como a da generalidade de todos nós, portugueses: Curta.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
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