A entrevista de Alegre ao Público é constituída por duas páginas de imenso irrealismo, só comparável ao do próprio primeiro ministro. Alegre fala do Governo como se não fosse deputado eleito pelo partido que suporta a maioria, manifesta preocupações e sentimentos e tece considerações ao melhor estilo de Marinho Pinto - mas menos efusivo -, através de exercícios demagogia pura e dura. Até podia ser atenuado se Alegre não tivesse faltado, por exemplo, à votação do Orçamento de Estado de 2006, ou se não tivesse votado a favor do Orçamento para 2007.
A suposta oposição de Alegre ao Governo faz-se através da cobertura às decisões decisões de Sócrates, mas usando declarações de voto, onde alega, várias vezes, que "sendo eleito em listas partidárias, há situações em que, salvo circunstâncias excepcionais, não deve quebrar o sentido de voto do seu Grupo Parlamentar: programa de governo, moção de confiança e moção de censura, Orçamento de Estado".
Ou seja, não se deve quebrar o sentido de voto nos diplomas que regem as políticas, mas censuram-se as políticas.
Revela, sobre a remodelação - de cargos - que não criticou pessoas, mas sim políticas. Ora, a actual ministra, que integrou a comissão de honra da candidatura de Alegre às presidenciais, disse desde logo que o que está é para manter. Ora, ou podemos então prever que vem aí outra remodelação, ou a ministra entrou mal e parece que vai mesmo ter de mudar de políticas.
Depois dos 1.130.000 votos que Manuel Alegre conseguiu nas presidenciais, passaremos então a contar com 1.129.999, porque a ministra não deve estar de acordo com o candidato.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
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