Para começar, a "tentativa de reescrever a história" é directamente devolvida, pelo simples facto de que o governo do PS de Sócrates não foi demitido. Demitiu-se. E as verdades sobre o PEV IV, mais este anexo em inglês, que tanto incomodaram o PS, são factuais, não há quem as desminta. O PEC IV, dado o enorme sucesso que haviam tido os três anteriores, aprovados em conjunto com o PSD.
E, se hoje temos PSD e CDS no poder, é porque o PS assim o quis, pois foi com eles que andou de braço dado na aprovação de Orçamentos de Estado e dos PEC. E, se alguém tirou o tapete ao PS, foram os seus parceiros da coligação informal que estava instituída. O PCP não alterou o seu sentido de voto em qualquer dos PEC, o PSD fê-lo e o PS sabia que seria assim. O PEC IV não seria solução.
Mais: depois de na semana passada, na quinta-feira, o PS ter votado contra um projecto de resolução do PCP que recomenda a demissão do governo, da forma violenta que Jorge Lacão o fez, demonstra bem quem é o adversário de quem. Numa iniciativa que pretendia fragilizar o governo, o alvo do PS foi o PCP, deixando Álvaro, o ministro, com uma tarde tranquila no Parlamento. Um dia depois, o PS anuncia uma moção de censura, para um dia destes, depois da Páscoa, lá para Abril, porque, afinal, qual é a pressa? E, para quem acompanhou os debates de quinta e sexta-feira, o tom violento de Lacão em relação ao PCP contrastou de forma clara com a sonolência de Seguro, no dia seguinte, quando fez o grande anúncio.
Sobre a moção de censura, fica a insuspeita Ana Sá Lopes, hoje no i:
"Mas o sinal mais perturbador de todo este processo foi a cartinha para sossegar os representantes da troika. Em conjunto com o anúncio da moção, Seguro decidiu enviar à Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI um texto a sossegar que o PS respeitará os “compromissos internacionais” e que a ruptura com o governo não é a ruptura com as verdadeiras centrais do poder em Portugal. A resistência de Seguro em romper com o Memorando da troika – como já tinha defendido Mário Soares há quase um ano – anuncia que um futuro governo PS tem todas as condições para se transformar num governo ao estilo Antonis Samaras".
Quanto aos links para o insuspeito, factual e independente "Câmara Corporativa", posso esclarecer-te que:
- O PCP votou contra o referendo para a despenalização do aborto, não obviamente, por ser contra, mas sim por entender que havia uma maioria na Assembleia da República mandatada para legislar sobre esta matéria, não sendo por isso necessária a realização da consulta popular. E, vais-me desculpar, nesta matéria o PCP está completamente à vontade: ainda o PS não estava na cabeça de Mário Soares e restantes amigos nacionais e internacionais e já Álvaro Cunhal defendia a sua despenalização. Estávamos em 1940.
- O PCP é contra a Lei da Paridade por entender que ninguém deve ser obrigado a integrar a vida política. A participação cívica na política deve fazer-se em consciência e não por decreto. Sendo certo que, por motivos sociais, a participação das mulheres na política é condicionada, o PCP também é muito claro: é fundamental que haja igualdade entre homens e mulheres na sociedade, que possam usufruir dos mesmos direitos salariais, que possam conseguir conciliar a vida familiar com as actividades que pretendam desempenhar fora dela. E enquanto o PS aprovava a Lei da Paridade, aproveitava, com a UGT, para desregular horários laborais, acentuar desigualdades, facilitar despedimentos, incluindo de mulheres grávidas.
- Quanto a este ponto não encontro fonte, que não seja esta. É disto que falas? repara na votação.
O gráfico da votação no PCP é como uma faca cravada no meu peito. Ah, não é. Não é pelo simples facto de que o PCP não se rege pelos gráficos de votações, não exulta com sondagens. Uma das grandes preocupações do PCP é de esclarecimento das populações e do povo. E bloqueio mediático a que o PCP está sujeito, a par da histeria que houve em torno do Bloco, torna a nossa tarefa mais difícil. Mas, se fosse fácil, não seríamos comunistas, estaríamos no PS... Exemplo prático? No comício de aniversário do PCP, no ano passado, no Porto, o JN, a voz do norte, não apareceu. Depois, há o MRPP, que, com a sua foice e martelo vai roubando votos ao PCP. Estou desde os 18 anos nas mesas de voto e passaram-me pelas mãos vários boletins com duas cruzes: no MRPP e na CDU. Recordemos que, em 2011, o MRPP ganhou direito a subvenção do Estado, por ter conseguido mais de 50.000 votos.
Acredites ou não, o PCP não pauta a sua acção pela conquista de votos. É, obviamente, importante, mas não é o nosso ponto principal. E é também esse o papel da esquerda, o de informar e formar os cidadãos, de dar-lhes novas perspectivas da realidade que nos rodeia, de dar-lhes outras alternativas que não as de comentadores/formatadores de opinião que entopem a cabeça daqueles que não têm sequer tempo para viver, ocupados que estão a sobreviver.
Mas, para terminarmos de forma parecida, podes sempre verificar as alianças governativas desde 1976. E não, não vais encontrar o PCP com o PSD.
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