José Pedro Rodrigues, candidato da CDU à Câmara Municipal de Matosinhos,
em entrevista ao JN.
José Pedro Rodrigues é o candidato da CDU à presidência da Câmara
Municipal de Matosinhos. Com a responsabilidade de substituir um peso
pesado comunista.
Presumindo que o objetivo é voltar a eleger um
vereador, como é que um desconhecido se propõe substituir um deputado
mediático como Honório Novo?
Honório Novo já não era capaz de proporcionar essa alternativa?
Certamente que seria capaz. Mas achou-se, nesta altura, que eu seria a pessoa indicada, com um compromisso baseado nos mesmos princípios de candidatos anteriores.
Insisto, é um desconhecido para a esmagadora maioria dos matosinhenses. Isso não será um problema?
Assumindo que a população não me conheça tão bem, tentaremos provar com o nosso programa que têm razões mais que suficientes para confiarem na CDU e nos seus candidatos.
Como sabe, os cidadãos mais do que em programas e listas, votam em pessoas, sobretudo nas autárquicas.
A minha intervenção enquanto eleito em Matosinhos, vai para 12 anos – e não me sinto muito confortável a falar de mim -, não perdeu em termos de qualidade, capacidade e ativismo com nenhuma outra bancada. Quem vê caras não vê corações. Vamos tentar que esse eventual desconhecimento se transforme em confiança.
Apesar do seu otimismo, os últimos resultados autárquicos da CDU jogam contra si: perderam cerca de metade dos votos.
A disputa de poder entre Narciso Miranda e Guilherme Pinto acabou por transformar as eleições numa disputa emocional. Não era uma disputa de programas, nem de projetos ou ideias diferentes, era uma disputa de poder.
Na apresentação da sua candidatura fez um apelo: “Não permitam que a decisão racional seja prejudicada pela disputa emocional”. Não está com isso a menorizar a capacidade dos eleitores?
Houve um discurso que chantageou os matosinhenses nas últimas eleições. A disputa de poder no PS foi degradando a vida política no concelho. O que se passou há quatro anos foi um combate político sem nível, degradante, insultuoso.
Mas nestas eleições vai acontecer exatamente a mesma coisa: duas candidaturas da área do PS. A escolha voltará a ser emocional?
Tendo percebido as consequências, esperamos que os matosinhenses possam perceber que a alternativa não está no PS oficial ou no PS independente. Este PS tem sido incapaz de fazer frente à tragédia social e económica de que o concelho sofre. Boa parte da sua intervenção aquando do lançamento da candidatura foi dedicada à situação política nacional.
Vai fazer uma campanha centrada na crise a nível nacional, em vez de uma campanha centrada na autarquia?
Estas eleições enquadram-se nummomento muito complicado da vida do país. O problemapresente na cabeça das pessoas neste momento é chegar ao fim do mês.
Mas vai orientar a sua campanha para a situação de crise a nível nacional ou para as questões particulares do município de Matosinhos? Não são abordagens iguais.
Mas são convergentes. Matosinhos era um dos concelhos mais industrializados do distrito do Porto. Gerou-se a ideia que Matosinhos era um concelho onde se habitava e onde se trabalhava no setor dos serviços e que as fábricas eram uma realidade do passado. Somos contra essa conceção. O país perdeu, entre 2006 e 2010, 24% das suas empresas transformadoras, Matosinhos perdeu 35%.
Mas isso é da responsabilidade da autarquia ou tem a ver com a crise nacional?
O encerramento de empresas mais acelerado em Matosinhos do que no país deve-se ao facto de não haver umapolítica que favoreça a implantação industrial.
O PCP já acusou os responsáveis autárquicos de terem trocado fábricas por prédios, referindo-se a Matosinhos-Sul. Eu diria que a Câmara trocou barracões abandonados por prédios.
A Câmara foi privilegiando, na suareorganização do território, um urbanismo à la carte, transformando as zonas mais apetecíveis em aglomerados habitacionais.
Foi a Câmara que transformou ou foi a atividade económica que morreu, obrigando à reconversão? As câmaras não podem manter fábricas abertas à força.
Não atribuo à Câmara a responsabilidade pelo encerramento das conserveiras. Mas houve sempre uma pressa muito grande em transformar espaços vazios em zonas de especulação imobiliária. A opção foi sempre demolir e construir habitação.
A Câmara privilegia os interesses dos promotores imobiliários e empreiteiros?
Esta Câmara privilegia um urbanismo descontrolado, com níveis de construção acima do que era razoável, sem ter a capacidade de terminar um PDM que agregasse as redes viárias, a malha industrial e os equipamentos estratégicos que existem no concelho. Matosinhos está no coração do Noroeste Peninsular e perdeu para a Galiza a primazia na implementação da plataforma logística intermodal.
A Galiza tem um Governo regional, Matosinhos é só um concelho.
Sendo só um concelho, tem o Aeroporto do Porto ao lado, tem o porto de Leixões, tem redes viárias que o ligam a todo o Norte e à Galiza e não foi capaz de aproveitar essas condições, porque não existe uma política de desenvolvimento industrial, não foi capaz de criar parques que pudessem fixar emprego ematividades industriais transformadoras. E as opções erradas refletem-se hoje no facto de Matosinhos ter um desemprego jovem que é o dobro da média nacional. Entre janeiro de 2010 e janeiro de 2013, o desemprego jovem cresceu 26% no país, 27% no Norte, e 56% em Matosinhos. Há cada vez menos trabalho e essa escassez está a refletir-se no agravamento da situação social, com casos de fome e de miséria.
A Câmara não tem preocupações sociais?
A Câmara investe em resolver as coisas a jusante. Enquanto o problema não for enfrentado a montante, enquanto não se criarem condições para recuperar o dinamismo industrial, estes problemas vão agravar-se.
Está a defender que se desvie dinheiro do apoio social [a jusante] para o investimento [a montante]?
Não pode deixar de se prestar apoio social. Não é daí que o dinheiro deve ser desviado. Mas pode ser desviado de muitas outras coisas.
Por exemplo?
A Câmara de Matosinhos gastou mais de meio milhão de euros em pareceres jurídicos externos e trabalhos de consultadoria externos. Em propaganda e publicidade gasta mais de um milhão de euros por ano. Foi apoiando esporadicamente uma ou outra empresa que se instalou em Matosinhos. Estamos a falar de muitos milhões de euros que a Câmara, ao longo dos anos, foi partilhando com algumas empresas.
Sem comentários:
Enviar um comentário