... disse o Roberto para impressionar a principessa.
Hoje vou construir estradas novas para o interior e levar comigos anos de chumbo depositados à beira mar, para equilibrar este país inclinado para poente.
Vou pegar no meu plano tecnológico, nos meus 150 mil empregos e enfiá-los no meio do terreno montanhoso de Trás-os-Montes e no deserto do Alentejo.
Levo a Educação comigo para os dormitórios das periferias e aceno com a segurança e com estudos para rentabilizar meios.
Mas faço as estradas para o interior e fecho os hospitais, as maternidades e as urgências. Aumento os rendimentos dos taxistas, porque não há transportes públicos. Nem tudo é mau. Os dois ou três taxistas que servem 15 aldeias ficam contentes. Quinze? Menos duas, dentro de pouco tempo, porque os velhos morrem e os novos fogem. Fogem para onde há hospitais e maternidades e urgências.
Faço-me à estrada nova e percebo que o alcatrão não trata os esgotos, nem dá electricidade, nem aumenta as reformas de miséria, porque se dou o caminho para o desenvolvimento, retiro o que o faz desenvolver.
Pego nos 150 mil empregos e retiro os nove mil que foram criados em dois anos. Faltam 141 mil, está quase.
Vou aos caixotes das periferias onde fui guardando vidas e tiro-lhes a polícia. Racionalizo meios que não tenho.
Hoje quis ser governante e fi-lo até agora. Tive a chave e fui fechando fábricas pela fechadura que a eleição me deu.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
1 comentário:
Metalúrgico, muito bom este texto. Tardas mas não falhas.
Enviar um comentário