Invicta.
Invicta porque nunca foi conquistada. Resistiu a tudo e todos ao longo dos séculos. Cercos e tudo.
Mas há um que permanece há algumas décadas. Um Cerco por dentro, no coração da Invicta. Um Cerco decadente e degradado.
Em conversa com um amigo, uns dias depois das manifestações dos estudantes do secundário, contou-me que pelo espírito de liderança salientou-se entre os manifestantes um aluno do Cerco. Com consciência. Com razão.
Marcou presença na Praça porque estava ao lado das reivindicações que moveram milhares de alunos. Marcou presença na Praça porque o Cerco está cada vez mais isolado.
Não há investimentos, "porque somos pobres e vivemos num bairro degradado", disse.
Marcelo Rebelo de Sousa, na crónica dominical em que vai dando, ou retirando, valores a tudo e todos, disse concordar com as manifestações dos estudantes, mas não perceber bem como é que se misturam as lutas do secundário com as faixas, envergadas por alunos, contra a co-incineração.
Não me espanta. Não pecebe, porque vai distribuindo os valores do alto da sua intelectualidade. Não percebe, porque já se esqueceu, ou nunca soube, que há muitas coisas muito erradas, e muitas delas são trazidas a público para que não sejam esquecidas.
Enquanto isso, o Cerco vai-se apertando em miséria, insegurança e sujidade humana e material. E a escola, bem no centro do Cerco, vai asfixiando, com as paredes cercadas pela ausência de perspectivas num futuro.
Não é um futuro melhor. É apenas um futuro.
Talvez Marcelo Rebelo de Sousa tenha dado nota negativa ao aluno do Cerco. Não faz mal. Não é algo a que ele já não esteja habituado.
E assim fica a Invicta, afinal conquistada a partir de dentro das muralhas, com o porto a olhar para dentro do Cerco apenas através da ameias, com medo de lá entrar.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e... a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, (...) privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos» José Saramago - Cadernos de Lanzarote
2 comentários:
Este post está qualquer coisa.... Fiquei arrepiada.
Excelente. Gostei da analogia. Tens jeito pá coisa.
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